Aumento da concorrência, novas exigências da lei e IA nos seguros
O sector segurador está a passar por uma forte mudança, traz oportunidades e desafios impulsionados pelas novas exigências regulatórias, aumento da concorrência, tecnologia e inovação, que vão pressionar novos modelos de negócios do sector a curto e médio prazo. E é preciso crescer de forma sólida, com valores acima da inflação
Para 2025, os consultores e operadores do mercado apontam perspectivas desafiadoras, destacando desafios e oportunidades para o sector segurador. José Correia de Araújo, director executivo da ASAN perspectiva que vai ser um ano muito desafiante pelos factores relacionados com o desenvolvimento da economia, evolução da saúde financeira dos segurados, nomeadamente das empresas, evolução dos mercados financeiros, inflação, evolução das taxas de câmbio e fiscalização dos seguros obrigatórios. De maneira geral, o especialista espera que 2025 seja o ano em que finalmente o mercado começa a crescer consistentemente acima da taxa de inflação, como se verificou em 2023.
Quanto às prioridades de investimentos, aponta o desenvolvimento dos canais de distribuição, recrutamento e formação de recursos humanos e sistemas de informação, nomeadamente para implementação das crescentes exigências regulatórias e dum novo plano de contas que incluirá as IAS/IFRS, assim como uma nova forma de contabilização dos custos que implicará um grande investimento no desenvolvimento de sistemas de contabilidade analítica muito detalhados.
Para Paulo Brancos, consultor estratégico de seguros, entende que enquanto o mercado continuar a ter a tendência de crescimento abaixo da inflação as perspectivas não serão as melhores para 2025 em termos de mercado.
"Tanto quanto é do meu conhecimento, o sector segurador, até novembro, cresceu próximo dos 25% e a taxa de inflação esteve nos 27,5%. Se retirarmos o ramo petroquímica e o ramo saúde (recordo que, no ramo saúde, a principal componente não é de risco, é de consumo - estamos a falar de assistência ambulatória / exames / etc), o crescimento andará abaixo dos 17%, ou seja, temos um crescimento real negativo dos prémios. A continuar nesta tendência, as perspectivas não serão as melhores", diz.
Por outro lado, o consultor descreve que é expectável um aumento da concorrência que, aliás, já se verificou em 2024. Mas importa que se faça com salutares regras de competição, por isso, sublinha que o legislador continue a dotar o sector segurador de legislação moderna, na sequência do que foi implementado em 2022, com a aprovação da nova lei, em particular ao nível das garantias de igual competitividade entre as seguradoras que operam no sector.
"Do ponto de vista organizativo, as seguradoras devem continuar a reforçar as diferentes componentes do Regime Jurídico da Actividade Seguradora e Resseguradora, em particular ao nível do actuariado, controlo interno, conduta de mercado, preparação para as normas IFRS, contabilidade analítica (detalhe dos custos) e para a legislação que aí virá ao nível da Lei do Contrato de Seguro".
Com o possível lançamento da resseguradora nacional, Bracons reitera que as seguradoras têm de se preparar para esta nova realidade. Mas não devem criar demasiadas expectativas, porque há riscos em Angola nos ramos patrimoniais e petroquímico que podem atingir os 500/1.000 milhões de dólares e a resseguradora terá um capital em Kwanzas o equivalente a penas 20/30 milhões USD.
No entanto, as seguradoras devem ter estratégias coerentes e visões equilibradas das suas carteiras de seguros. Os ramos Saúde e Petroquímica não deveriam representar mais de 30/35% e representam mais de 50%. Então, a solução está, não em reduzir volumes nestas duas linhas de negócio, que são muito importantes, mas em fazer crescer mais os ramos automóvel, acidentes de trabalho, multirriscos e responsabilidade civil. Um alerta para o ramo cauções, que está a crescer demasiado rápido.
O presidente da Associação Angolana de Actuários (AAAT), Henda Mondlane da Silva, perspectiva que 2025 seja um ano caracterizado pelo crescimento contínuo do sector segurador (na ordem dos dois dígitos, conforme ocorrido nas duas últimas anuidades), maior adesão aos seguros obrigatórios, resultante das acções de literacia promovidas pelos diversos intervenientes do sector e face ao reforço da fiscalização por parte das entidades competentes.
Já Gerson Silva, director técnico e resseguro da Stas Seguros, aponta que o tema da inflação irá representar um grande desafio ao crescimento, porque os prestadores de serviços nacionais/locais têm actualizado as suas tabelas de preços e em função disso, as facturas para as seguradoras que advêm dos mesmos são significativamente mais elevadas, o que impacta nas receitas internas.
Inteligência Artificial
Numa altura em que a Inteligência Artificial está a ser implementada em vários sectores, operadores defendem que a IA e a IA Generativa são essenciais no sector financeiro e no sector segurador, em particular. A IA e os processos de transformação digital que lhe estão associados são vitais para o futuro do sector. Mas, para que a IA possa produzir os melhores resultados é imperioso melhorar a quantidade e a qualidade dos dados que as seguradoras possuem, que ao nível das apólices, quer ao nível dos clientes.
Leia o artigo integral na edição 810 do Expansão, de sexta-feira, dia 07 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)