Concentração de liquidez nos grandes bancos faz disparar taxa Luibor
Após registar mínimos históricos, Luibor overnight, taxa usada pelos bancos para remunerar empréstimos interbancários de curto prazo, voltou a disparar para 22%, isto porque grandes bancos concentram liquidez e obrigam os bancos com dificuldades de liquidez a comprar a uma taxa mais alta. Assim, o crédito fica mais caro e é mais escasso.
A taxa que serve de referência às taxas de juro do crédito a clientes, a Luibor, continua a crescer, tendo atingido o valor mais alto desde 2019, o que significa que há menos liquidez na economia e o crédito está hoje mais caro.
Na base está o facto de os bancos com insuficiência de liquidez de curto prazo recorreram ao interbancário e tiveram pouca capacidade de negociar taxas mais baixas, e os que tinham mais liquidez, os maiores bancos, praticam taxas mais altas. A isto é associado o facto de, no final do ano passado, o Banco Nacional de Angola (BNA) ter retirado da taxa de custódia, sobre o excesso de reservas livres das instituições bancárias, também pelo último aumento do coeficiente de reservas obrigatórias em moeda nacional, que, de certa forma, acaba por retirar alguma liquidez da economia.
Nesta quarta-feira, a Luibor overnight (a taxa de juro usada pelos bancos para remunerar empréstimos interbancários de curto prazo, feitos à noite, no chamado mercado overnight) fixou-se em 21,97%, a taxa mais alta desde finais de 2019, quando em Dezembro do ano passado registava as mais baixas desde que há registos, ao atingir os 4,0%. Já as taxas a três e nove meses estavam em 9,85% e 11,97%, respectivamente, hoje estão a valer 10,92% e 15,91%, respectivamente.
A Luibor (acrónimo inglês de Taxa Interbancária de Oferta de Fundos do Mercado de Luanda) é a taxa que os bancos cobram quando emprestam dinheiro entre si, além de servir de referência para o crédito a clientes. Isto é, se a taxa básica serve de referência às taxas Luibor, estas servem de referência às taxas de juro de crédito a clientes. As taxas Luibor variam em função das maturidades, nomeadamente, de 1 dia (overnight) até 12 meses. Normalmente, quando alguém vai ao banco pedir crédito, a instituição bancária cobra-lhe uma taxa Luibor mais uma margem que depende do risco desse cliente.
Para o economista Mateus Maquiadi, o aumento exponencial da Luibor overnight não se deve muito ao efeito liquidez como um todo no mercado, mas porque alguns bancos sem liquidez foram quase forçados a negociar a taxas mais altas.
"As vendas de divisas que o MinFin fez tiveram algum impacto na liquidez de curto prazo, porque muitos bancos não estavam preparados, mas apesar disso o mercado no geral não está apertado de maneira a levar a Luibor para níveis acima dos 20%. O que acontece é que os bancos de pequeno e médio porte foram os mais afectados com o tema da liquidez, aquando das vendas e para fazer face aos compromissos em moeda estrangeira tiveram de recorrer a um interbancário com poucas opções, sendo que o BNA não deixa a facilidades permanentemente abertas", explica.
No entanto, segundo o economista, os bancos com insuficiência de liquidez de curto prazo que recorreram ao interbancário e tiveram pouca capacidade de negociar taxas mais baixas, e os que tinham mais liquidez, normalmente os 6 maiores, forçaram a taxa mais para cima, o que é naturalmente uma prática de mercado, uma vez que os agentes económicos reagem aos incentivos.
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