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Diamant Media desactiva aplicativo e desaparece com milhões de Kwanzas

CRESCEM AS FRAUDES NAS PLATAFORMAS DIGITAIS DE INVESTIMENTO

Mais um negócio que promete milhões e acaba por desaparecer. Agora no meio digital. O BNA confirma que nenhuma das plataformas de investimento digitais que estão a "assediar" os angolanos está licenciada e por isso são ilegais. O facto de estarem sediadas fora do País impossibilita um combate efectivo a estas fraudes. Resta avisar os cidadãos e esperar que estes não se deixem enganar.

O fenómeno das plataformas de investimento digitais no nosso País começou em 2016 mas nos últimos meses é quase impossível entrar numa rede social e não receber um convite de familiares, amigos ou até mesmo de colegas de escola ou de serviço para investir numa plataforma destas. Actuam como esquema de pirâmide (sistema Ponzi), apelam à aplicação de fundos e captam as poupanças de empresas e particulares com promessas de juros elevados. Surgem com a lição bem estudada e com propostas praticamente irresistíveis. As mesmas afirmam trabalhar com as quatro principais redes sociais do mundo como o Faceboock, Whatsapp, Youtube e Instagram, isso para que o negócio pareça mais sério à vista dos investidores.

A maioria são de origem internacional, mas contam com a participação de nacionais e actuam sem autorização e supervisão do Banco Nacional de Angola (BNA) ou da Comissão de Mercado de Capitais, dois dos três supervisores do sistema financeiro nacional. "Nenhumas das plataformas digitais referenciadas tem autorização do BNA para funcionar, ou seja estão ilegais, sujeitas a um processo de contravenção grave. Todas as instituições financeiras licenciadas para operar em Angola estão numa lista no site da nossa instituição", explica Cândido Abrantes Pina do BNA, que acrescenta: "o que procuramos fazer é que quando temos conhecimento destas situações, fazemos um comunicado a alertar as pessoas e as instituições, procuramos saber onde estão sediados e denunciamos às autoridades competentes".

Fraude de milhões

A Diamond Video Media, uma plataforma de investimento digital oriunda da Malásia desenvolvida pela Diamant Media, que dizia actuar no Brasil, Portugal e outros países, foi a que mais clientes angariou nestes últimos meses. Começou a actuar nos finais de 2021, não era necessário fazer qualquer tipo de investimento, bastava instalar o aplicativo, e depois colocar "gosto" (like) nos vídeos que eram disponibilizados, prometendo aos utilizadores ganharem 1 dólar por cada vídeo acessado.

Mas passados três meses, a Diamond mostrou a sua verdadeira intenção. Apresentou-se como uma plataforma de investimento com vários opções de aplicação de fundos com pacotes que chegavam a atingir os 132.000 USD (equivalente a 55.626.780 Kz) de lucro em quatro meses para uma aplicação de 23.123 USD (equiva[1]lente a 9.744.379 Kz).

Depois de ter recebido os valores aplicados pelo clientes, pagou os primeiros cinco meses e, no dia 26 de Abril, depois da actualização dos preços, que eram feitos nos dias 25 de cada mês, (o valor subia para mais 100 USD ou 200 USD dependendo do pacote em que o cliente estivesse), a plataforma simplesmente desapareceu, lesando assim centenas de clientes em várias províncias do País num valor que rondará as centenas de milhões Kz.

Clientes lesados

"Eu investi mais de um milhão de Kz para comprar o pacote Vip3, que custava mais de 1.783 USD. Pedi emprestado a um familiar e não sei como pagar agora. Confiei praticamente tudo nesta plataforma e agora fiquei sem nada", disse um cliente que prefere manter o anonimato.

O senhor Francisco, como se apresenta, é outro dos casos de cidadãos que foram burlados. Trabalhava numa empresa de prestação de serviços de construção civil há vários anos, foi demitido recentemente e recebeu 600.000 Kz de indemnização. Pegou na maior parte desse capital e aplicou na Diamond e agora diz estar desesperado porque não sabe o que fazer.

"Eu por acaso desconfiei no início mas com o desespero do despedimento, e como a proposta era muito boa, decidi tentar a sorte. Sinceramente até agora ainda estou com esperanças que eles voltem a operar, porque se não voltarem, não sei o que farei para sustentar os meus 8 filhos", lamentou.

Num estado de desespero semelhante está o André que aplicou o dinheiro do noivado na Diamond Media. Sem avançar a quantia aplicada, diz que nem sabe como vai olhar para a noiva depois da aplicação ter deixado de funcionar e de ter perdido tudo. Ainda não teve coragem de lhe contar.

A história de Bonifácio João é semelhante. Era um angariador responsável pela criação de um dos vários grupos que foram criados no Whatsapp para gerir as aplicações da Diamond, mas diz que também investiu mais de 5.000 USD e ganhava algumas comissões. Convenceu muitos dos seus amigos e familiares a investir e que agora também não sabe ao certo o que é feito da plataforma.

"Fui convidado por algumas pessoas que diziam ser administradores da página oficial da plataforma, e como angariador levei muitas pessoas a investir, incluindo familiares e amigos. Hoje com a desactivação da plataforma não sei o que fazer. Estou a receber telefonemas de pessoas que querem o seu dinheiro de volta mas eu também fui enganado e não sei o que fazer. As pessoas que me convidaram também desapareceram do grupo de angariadores que tínhamos" explicou o empresário.

Nestes grupos das redes sociais formados por esta plataforma é notório o desespero de várias pessoas pelo facto da plataforma ter sido desactivada e há ainda quem insista em não acreditar que a plataforma encerrou as operações

(Leia o artigo integral na edição 682 do Expansão, de sexta-feira, dia 08 de Julho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)