Possível subvenção aos preços pode motivar regresso dos catamarãs parados há seis anos
A Secil Marítima, actual proprietária dos catamarãs, reconhece que a operação tal como foi montada em 2014 é economicamente inviável e confirma que uma parte das embarcações está inoperante.
A Secil Marítima, empresa pública que gere os catamarãs, está a elaborar, por orientação do Ministério dos Transportes, um novo estudo de viabilidade para definir uma possível reposição dos serviços de ligação marítima na capital. O transporte de passageiros está há seis anos em banho-maria, depois de a empresa ter reportado a necessidade de cobrar bilhetes acima dos 2.000 Kz por viagem, um valor incomportável para a maioria das pessoas que pretendem deslocar-se da zona do Benfica ou Cacuaco até à baixa de Luanda. "A retoma das operações depende da aprovação por parte do Executivo de uma possível subvenção, não esquecendo que para estas rotas já existe a modalidade rodoviária (autocarros) subvencionada pelo Estado", explicou ao Expansão Silvano Araújo, membro da comissão de gestão da Secil Marítima.
Em conversa com o Expansão, outra fonte da Secil Marítima, que preferiu não revelar a sua identidade, admitiu que os catamarãs podem ser uma solução adequada para diminuir as dificuldades de transporte público em Luanda e garantiu que este dossier consta das preocupações da tutela.
"Ainda não concluímos o estudo de viabilidade, que vai trazer propostas para resolver este problema. Todos os estudos com bilhetes até 1.000 Kz não são viáveis", avançou a fonte da Secil Marítima, realçando que a empresa está a avaliar todo o processo, tendo em conta "os custos operacionais com combustíveis, manutenção das embarcações e emolumentos portuários".
O transporte marítimo de passageiros em Luanda existiu apenas durante quatro anos, tendo sido inaugurado em Abril de 2014, pelo então Presidente José Eduardo dos Santos, e paralisado em 2018, um ano depois do Presidente João Lourenço subir ao poder.
As ligações entre Kapossoka/Mussulo e Macoco (no Mussulo)/Museu da Escravatura/Porto de Luanda eram asseguradas por duas embarcações que transportavam mais de 700 passageiros/dia - um indicador baixo face à densidade populacional em Luanda - nos horários entre as 5h:30m e as 7h:30m e as 15h e as 17h. As passagens custavam 500 Kz.
A suspensão do serviço não foi totalmente justificada publicamente, embora se saiba que a empresa pública que geria os catamarãs, a TMA Express, afecta ao Ministério dos Transportes, trabalhava na ilegalidade desde a sua fundação, em 2014, e usava os fundos do Conselho Nacional dos Carregadores (CNC) para pagar os ordenados dos trabalhadores e o combustível.
Recorde-se que a actividade do antigo CNC, que, entretanto, foi também extinto, dando origem à ARCCLA - Agência Reguladora de Certificação de Carga e Logística, esteve na base da condenação judicial de Augusto Tomás, que liderou o Ministério dos Transportes durante os últimos 10 anos de governação de José Eduardo dos Santos.
Com a extinção da TMA Express, o governo decidiu transferir os activos da empresa para a Secil Marítima. Concluído este processo, a Secil Marítima decidiu manter apenas seis embarcações de pequeno porte (25 lugares) para os serviços de travessia entre o Kapossoka e a península do Mussulo, com os bilhetes de passagem tabelados entre os 1.000 e os 3.000 Kz. Outros barcos com 72 lugares estão avariados e fora de circulação.
Ou seja, nesta altura, boa parte das embarcações da Secil Marítima com capacidade para 350 lugares e 420 lugares, que podiam fazer o percurso entre o Sul de Luanda e o Porto, estão inoperantes e encontram-se atracadas na base naval da Ilha de Luanda, conforme observou o Expansão, nesta semana, durante uma visita ao local. As que se mantêm operacionais estão a ser utilizadas na ligação interprovincial Luanda-Soyo-Cabinda.
Silvano Araújo, em resposta ao Expansão, referiu que "das 7 embarcações pertencentes à Secil atracadas no Terminal do Porto de Luanda, apenas 3 encontram- -se inoperantes aguardando disponibilidade de verbas para sua reparação. As demais estão operacionais e em processo de reparação e manutenção".
Más decisões, serviços em risco
A forma como o projecto dos catamarãs foi conduzido desde o início tem sido criticada por vários especialistas, já que subsistem dúvidas sobre a real capacidade e estado de conservação das embarcações adquiridas, uma vez que não eram novas.
Para além da insustentabilidade económica e das deficientes avaliações, a iniciativa também terá sido mal implementada. A este nível, as críticas centram-se nos poucos horários disponibilizados e concentrados em apenas dois períodos do dia: uma simples pesquisa na internet mostra que na Colômbia, por exemplo, um catamarã pode transportar mais de 1.000 pessoas por viagem e disponibilizar 36 frequências diárias.
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