DS Automobiles, a nova marca automóvel
Há 60 anos, a Citroën lançava um ícone automóvel de todos os tempos, o DS. Em Abril de há um ano o presidente do grupo Peugeot/Citroën revelava o plano "back in the race", regresso à competição, para tirar as duas marcas francesas da pré-falência.
Em Junho era criada a marca DS. E, a partir deste Março de 2015, a DS torna-se DS Automobiles, marca autónoma, com o monograma estilizado DS e sem qualquer referência ao "double-chevron", símbolo da Citroën. Um spin-off que incluiu a nomeação de um CEO específico para a DS Automobiles, a qual os franceses querem colocar como sombra da Audi antes já de 2020. Da China vem, além do dinheiro do accionista de referência, quota de mercado para ajudar a dar músculo à DS Automobile e, quem sabe, permitir-lhe vir até nós dentro de algum tempo.
Há uma nova marca automóvel que neste Março de 2015 começa a trilhar o seu percurso, com nome francês - DS Automobiles - em alusão às suas origens, um lema em inglês - "Spirit of Avant Garde" - para marcar o espírito internacional da marca e um lançamento que começou com a transmissão da apresentação no Salão Automóvel de Genebra através do Facebook, para marcar a sua expectativa de ser a marca premium das novas gerações.
A criação da marca DS Automobiles torna-se um dos mais de 250 spin-offs realizados no último ano. O presidente do grupo francês PSA (Citroën e Peugeot), Carlos Tavares, assume que não exigirá volume da sua nova marca, olhando, sim, para o lucro por unidade.
Do armário das armas pega no posicionamento da marca e design, pretendendo para a DS que ninguém a confunda com a Citroën. Diz o líder do grupo que a gama de modelos da DS crescerá progressivamente, "mas não à maneira alemã. Não tem tudo que ver com tecnologia e engenharia, tem que ver com feeling artístico e criatividade, estilo, design e sofisticação. Porquê? Somos os únicos franceses que o conseguirão" [n.d.r. para os mais cínicos, esta poderá ser uma alfinetada em Carlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan, grupo de onde Tavares saiu por discórdia com o brasileiro, acabando por ser escolhido para a PSA].
Com a Audi como modelo e alvo a abater, a DS aponta sobretudo à Europa e à China. Para exposição dos seus produtos, começará numa área independente nos concessionários já existentes da Citroën, mas no futuro deverão surgir "salões" próprios da exclusividade da DS, para que a exclusividade da gama DS não se misture com a gama generalista Citroën.
Poderá perguntar, quem não conhece a história do DS original, a razão pela qual o grupo PSA acredita que poderá enfrentar a troika alemã composta por Audi, BMW e Mercedes-Benz, arriscando mesmo utilizar como "benchmark" a Audi. Recuemos exactamente 60 anos. DS, a deusa "Sci-fi" Ficção científica. Naqueles anos do pós-guerra, a indústria automóvel francesa, italiana, britânica e alemã ainda se recompunham dos ataques que arrasaram várias fábricas durante o conflito mundial de 1939 a 1945. Estávamos em 1955, há exactamente seis décadas, quando a Citroën levou ao seu Salão Automóvel de Paris o DS. DS que na língua materna se lê "déesse", deusa.
O design e a tecnologia eram o que hoje se designa de "disruptivos". Todo um conjunto de linhas que guardavam um interior também futurista e criavam um pacote em forma de... "mas que diabo é isto?" As linhas do escultor, arquitecto e designer automóvel Flaminio Bertoni, com colaboração estética e a responsabilidade técnica do engenheiro aeronáutico e designer de automóveis de competição André Lefèbvre, criaram um arrojado conjunto estético e tecnológico tão bem aceite, que ao fim de um dia de salão já tinham sido vendidos 12.000 Citroën DS.
A aceitação global levou a produção do carro francês a vários países e continentes, com a produção entre nós a ficar à responsabilidade da fábrica da África do Sul. Além de carro executivo escolhido, entre outros, pelo presidente gaulês Charles De Gaulle, que nele sobreviveu a um ataque em 1962 - apesar de as rajadas de metralhadora terem acertado em vários pontos da carroçaria (que não era blindada) e perfurado um pneu, o motorista do DS conseguiu prosseguir marcha a alta velocidade, graças à suspensão pneumática que compensava a falha daquele pneu -, foi escolhido por estrelas, pelo cosmonauta Yuri Gagarin, utilizado como um dos carros da saga Regresso ao Futuro, quando Michael J. Fox viaja até 2015 (o DS aí aparece um pouco alterado) e continua em exibição na série televisiva O Mentalista, na qual é o carro do protagonista.
A velocidades mais elevadas, chegou ao Rali de Monte Carlo, que venceu, na sua variante um pouco menos tecnológica e mais barata ID 19. Contrário ao ID, no preço e no luxo, surgiu o Cabriolet DS 19 no Salão de Paris de 1960, dois anos depois de ter surgido a carrinha. O luxo aumentou ainda mais com o DS 19 Pallas (deusa, em grego), ainda mais aprimorado com o requinte que oferecia aos clientes.
Até que em 1967 surgiu a renovação do DS e uma nova funcionalidade tecnológica foi adicionada pelo DS, os faróis direccionais, para que o interior das curvas fosse iluminado. Algo que, tal como a suspensão pneumática e outras soluções do DS, só muito mais tarde começou a ser oferecido, designadamente pelos alemães de referência que a nova DS Automobiles do século XXI quer combater.
Esta geração do século XXI surgiu em 2010, com o Citroën C3 a ser lançado numa versão mais requintada como DS3, concretizando a linha estratégica anunciada pela Citroën em 2009, de ressuscitar o nome DS para criar automóveis mais exclusivos. Para quem considerasse ambicioso fazer do DS3 um concorrente do Mini e do Audi A1, o grupo francês decidiu dar um passo ainda mais adiante, tornando a DS Automobiles uma marca. Autónoma. E, como no original de 1955, exclusiva.
Renascer em Genebra Numa partida do destino, Genebra, capital do automóvel da historicamente independente Suíça, está a acolher, neste ano do septuagésimo aniversário do fim da 2.ª Guerra Mundial, o renascimento de marcas dos dois antigos inimigos, França e Alemanha. Dos do ex-Eixo, a Borgward. Dos Aliados, a DS.
A primeira, relançada por Christian Borgward, neto do fundador (Carl Friedrich Wilhem Borgward), expondo um exemplar clássico da marca "extinta" em 1961, o modelo Isabella (novos modelos, só em Setembro, no salão de Frankfurt, na sua Alemanha). Mas é a DS Automobiles, francesa, lançada como marca independente, 60 anos após o lançamento do original Citroën DS, que nos leva aos corredores de Genebra. Pode demorar 15 anos a estabelecer esta marca, admite o CEO designado pelo grupo PSA para a DS Automobiles, Yves Bonnefont. Concentrando os locais de venda nas maiores cidades mundiais e preterindo as zonas rurais, a DS admite que também os EUA venham a ter os seus automóveis.
Conquistar o americanos seria a "vingança" do DS, cujo original, do século XX, pela falta de potência e comodidades como o ar condicionado e vidros eléctricos, nunca convenceu aquele mercado, onde as já boas estradas dispensavam o cartão-de-visita do Citroën DS, a suspensão, que, dizia-se, permitia percorrer uma esburacada estrada da França campestre sem partir um ovo.
Também em Genebra, no salão que decorre por estes dias, além do novo CEO da DS esteve um executivo que fala a nossa língua, Carlos Tavares, CEO do grupo PSA, e conhecedor da árdua luta que as marcas francesas têm vivido para bater os alemães, sobretudo nas últimas duas décadas e meia, com os Citroën XM e C6, os Peugeot 605 e 607 e os Renault Safrane e Vel Satis a tentarem, sem sucesso, uma fatia desse bolo milionário.
Ao contrário desses premium franceses de outrora, a DS Automobiles não lutará apenas no segmento dos familiares de topo, como já o comprova a actual gama, composta por versões refinadas de modelos Citroën existentes. Dizem os responsáveis da DS que pretendem "atingir um verdadeiro regresso ao topo-de-gama para a indústria automóvel francesa".
Alvo? A nova geração de clientes ciosos do poder da moda, com foco na personalização. Até 2020, seis modelos DS reclamarão esta legitimidade. Extrapolando da sua carreira na China, onde já funciona há algum tempo como marca independente, a DS tem potencial. Hoje, ao DS3, pretenso rival do Mini e do Audi A1, junta-se um pequeno familiar, o DS4, o maior DS5 e, em princípio, deveremos ver surgir um rival do Audi A8, assente no concept de 2012, o DS 9. E, depois, rivais para os SUV Audi Q3 e Q5.
Já há um cheirinho na China do que poderá ser o último, o DS 6WR, baseado na plataforma do DS 5. Este lançamento exclusivo do DS 6WR no "Império do Meio" não é alheio ao facto de aquele já ser o maior mercado para a Citroën. E o facto de a DS, que vende na China como marca de luxo, se tornar agora independente, também não será alheio a esse mercado, bem como ao negócio de, há um ano, quando os renmimbis da Dongfeng Motor ajudaram a tirar o grupo PSA (Peugeot, Citroën e agora também DS Automobiles) da pré-falência, com mais de 1.000 milhões USD entregues a troco de 14% no capital dos franceses.
Francesa DS quer ser como a alemã Audi "Realisticamente, serão necessárias duas gerações de produto para ter a marca implantada. Foi quanto levou à Audi, e isso, eu penso, é realista." Quem o pensa é Yves Bonnefont, que vê "uma forte base" no início da carreira da DS Automobiles, e que é "a história do DS dos anos 1950 e a experiência dos últimos cinco anos".
Apontando à Audi, diz que, "quando se sentiram confiantes o suficiente para entrar no segmento C com o Audi A3, esse foi o sinal de que estavam implantados". Já a permitir uma vista de olhos para o futuro, a marca revelou em Setembro o concept Divine DS, automóvel da dimensão de um Citroën C4 ou de um Audi A3, mas um estilo desportivo próximo do Audi TT e Peugeot RCZ.
Além das formas, o interior do Divine DS dá pistas para a futura gama, com três "dress codes", ou forros para os interiores, designados "Male", "Parisian Chic" e "Fatale Punk", o primeiro com fibra de carbono e pele com ares de masculinidade (conversa de marketing que aponta especificamente ao desejo da marca de atingir os clientes que valorizam os valores da moda).
No segundo há seda e cetim, conceito mais feminino. E por fim, o glamour do "Fatale Punk" com minúsculos cristais da Swarovski. Condizente com o plano de 2014, de retirar o caminho do grupo PSA do mapa da falência, a nova marca do firmamento automóvel diz que é o lucro e não o volume o foco das vendas da nova marca.
O presidente do grupo, Carlos Tavares, explica que há que ser paciente e garante que não colocará sobre o CEO da DS Automobiles o desafio de fazer volume. Lembra a Infiniti, marca de luxo do grupo Nissan, que Tavares já liderou nos EUA, quando era vice-presidente da Renault-Nissan.
"A Infiniti foi criada em 1989. Vinte anos depois eu estava no comando na América do Norte e ultrapassámos a Audi nos EUA. Dez anos antes estávamos a vender apenas 150.000 carros por ano. Levou-nos 20 anos a chegar lá."
No sonho de enfrentar directamente a Audi, Carlos Tavares, em declarações à revista Car Magazine, afirmou que este é o tempo de "iniciar o sonho". E diz: "Quem tenta competir no segmento premium julga que necessita de lutar com os alemães com as mesmas armas. Não farei isso, porque assim perderei."
A escolha recairá sobre "o toque francês, a sofisticação e exclusividade dos nossos novos modelos DS, o modo de vida francês, tudo o que faz os britânicos irem a França nas suas férias. A DS é uma marca de moda. É única para nós. Os alemães não o conseguem fazer." Fica a promessa: "Vão ver alguns concepts que representarão isto."