"Há coisas que os outros vêem e nós duvidamos de nós mesmos. Temos que começar a acreditar no potencial que temos"
O consultor e empresário defende que é preciso mudar a mentalidade para que o sector mineiro tenha melhores resultados e aposta na materialização de ideias para o surgimento de novos negócios, olhando para o potencial do capital humano jovem.
Sendo um conhecedor do sector mineiro, o que é que falta para que este segmento da economia seja mais atractivo ou com melhores resultados?
São vários os factores. A forma como pensamos o sector mineiro é diferente do que a região pensa. Eles pensam como um segmento de médio e longo prazo. E nós ainda temos a mentalidade do imediato. E a médio e longo prazo, temos que ver que determinados subsectores são geracionais. Por exemplo, a indústria das rochas ornamentais, é geracional. No Namibe há explorações que já vão na terceira ou quarta geração. Não podemos ver isso como algo de curto prazo. Temos que mudar a mentalidade para termos um sector robusto. As pessoas que actuarem neste sector das minas não podem ser porque foram generais ou estão na reforma, e pretendem enriquecer na área mineira. Não! Temos que criar novos mineradores, porque só a cadeia da prospecção, até ter os primeiros resultados, são cinco anos. Então, não é algo que você entra por entrar.
O investimento deve ser de médio e longo prazo para melhores resultados?
Sim. Mas também há outros factores. Há ainda a questão no nosso acesso ao mercado internacional. E aí temos factores como a língua. Poucos angolanos na área mineira dominam a principal língua de trabalho, que é a língua inglesa. Precisamos da língua e precisamos de ser treinados em networking para que trabalhemos, quer na língua de trabalho, quer no negócio. Construir relações. Temos também que conceber os nossos projectos para o mercado. Precisamos afinar a forma como agregamos a informação mineira. Ainda fazemos de um modo muito rudimentar. Precisamos de novos comunicadores para o mercado, para que consigamos vender efectivamente os nossos projectos mineiros. Temos ainda que ser mais realistas.
De que forma?
Como País, temos que decidir, ter métricas. Não digo mais realistas, mas definir que projectos queremos nos próximos anos. E que tipo de mineral. Focarmo-nos em dois ou três, com a ajuda, claro, do sector público para ajudar no aporte, nos relacionamentos de facilitação do financiamento. E não podemos esquecer-nos das vias de comunicação. Ainda temos zonas mineiras sem acesso a estradas. Isso não é muito atractivo para o investidor estrangeiro. E falta também diálogo entre, por exemplo, na área governamental, nos vários pelouros. Se pretendemos apostar estrategicamente na indústria extractiva, temos que mover toda máquina de serviços e apoios para aquele fim. Se assim não for, não vamos conseguir as externalidades positivas que pretendemos.
Está a falhar a estratégia?
Não estamos a ver esse diálogo e essa estratégia. Os políticos falam muito em comissões integradas de trabalho, mas para determinadas áreas, para o sector produtivo, devia haver estratégias conjuntas, e não parecer uma manta de retalhos, e cada um andar para o seu lado. Como consultor tenho tentado trazer isso, criando discussões integradas, para fazer com que, pelo menos, despertemos que as questões como energia, águas, minerais, estradas, devem andar juntas, para criarmos maior valor da diferenciação do País.
A estratégia de exploração dos recursos mineiros não é realista?
Os nossos investidores internacionais, quando falam de Angola, já falam de uma Angola de 2063. Eles veem coisas que nós não vemos. Por exemplo, em 2004, os japoneses já falavam de que era importante estarem presentes em Angola, porque em 2063, Angola vai ser um dos grandes destinos mineiros do continente, por causa dos minerais de transição. Há coisas que os outros vêem, e nós duvidamos de nós mesmos. Temos que começar a acreditar no potencial que temos. É importante que olhemos e tenhamos a confiança de que debaixo do nosso subsolo existem riquezas inexploradas.
É preciso que este potencial de transforme em realidade...
Temos que trabalhar neste sentido. As sociedades mineiras hoje não devem ficar fechadas numa só commodity de produção, têm que ser verdadeiras empresas para que possam explorar outros minerais. Fala-se que temos 36 tipos de mineiros raros, então temos que aproveitar. Por exemplo, pensar assim, que Sociedade Mineira de Catoca teremos daqui a 50 anos, com o advento dos diamantes sintéticos. A Inteligência Artificial utilizada para a mineração, hoje é uma realidade.
Enquanto consultor que avaliação faz do ambiente de negócios no País?
Vejo em diferentes vertentes. O político deve fazer o seu papel. Do ponto de vista da legislação avançamos. Muitos vão para os mercados internacionais e realizam boas acções de diplomacia económica, mas quando chegam ao país não fazem fóruns de interligação com os empresários locais. Quantos acordos financeiros são fechados e tem a componente de capacitação de empresários locais para que eles se preparem para essa frente aberta pelos políticos? Falta essa ponta e não está acontecendo.
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