"O Plano Mattei vai dar a Angola uma nova forma de cooperação económica"
Angola faz parte do leque de países que poderá beneficiar do Plano Mattei para o desenvolvimento de África e o presidente da CCIAI, Mário Cabrini, revela que o plano vai revolucionar a forma de cooperação económica entre Itália e Angola baseado na produção conjunta e transformação local das matérias-primas.
As relações diplomáticas entre os dois países têm quase 50 anos. Qual é a balança comercial actual entre Angola e Itália ?
Deixa-me dizer, primeiro, que a Itália foi o primeiro país da Europa Ocidental a reconhecer a independência de Angola, em Fevereiro de 1976, sendo que no mesmo ano os dois países estabeleceram relações diplomáticas. O volume de negócio entre os dois países anda em torno de 400 milhões de Euros por ano, segundo dados de 2023, pois os números do ano passado ainda não estão consolidados. Angola exporta regularmente para a Itália petróleo, mármore, granito e pontualmente outros produtos agrícolas.
Ainda assim é um valor pequeno face às expectativas de ambos os países?
Queremos fortalecer estas trocas comerciais e a Câmara de Comércio tem um papel preponderante, porque queremos criar um canal directo entre Angola e Itália, há muitas exportações que não entram na balança comercial porque chegam a Angola, por exemplo, por via Dubai ou via Portugal, fundamentalmente, ou ainda por intermédio de outros países, e isso encarece o preço final do produto para o consumidor ou para o utilizador.
Quais são as principais exportações de Itália para Angola?
A Itália exporta para Angola maquinarias, nomeadamente máquina para a agroindústria, produtos siderúrgicos, produtos alimentares, calçados, vestuários, entre outros. Recentemente houve uma empresa que vendeu máquinas acima de 50 milhões USD para fazer embalagem de produtos angolanos para serem vendidos no mercado. Posso mesmo afirmar que as relações bilaterais entre os dois países são promissoras e com muito espaço para crescer. A única coisa que temos de estancar é a chegada de produtos italianos a Angola por intermédio de terceiros quando o comércio pode ser feito directamente.
Como pensam inverter esse quadro?
A Câmara tem um papel preponderante na dinamização das trocas comerciais entre Angola e Itália e tem vindo a trabalhar arduamente com os seus parceiros para que haja uma aproximação maior entre as empresas dos dois países e evitar a entrada de terceiros países nas exportações para Angola. Por isso temos realizado diversos fóruns de negócios com a participação de empresas italianas que pretendem fazer comércio com Angola.
Dê-nos um exemplo
No ano passado, por exemplo, conseguimos juntar um número razoável de empresas italianas dos vários sectores desde o transporte, OIil & Gas, empresas ligadas à construção de bombas e sistemas de rega. Providenciamos encontros com vários parceiros angolanos e com vários ministérios, e ficou patente a necessidade do estabelecimento de parcerias e negócios com vantagens mútuas.
Existe uma linha de crédito para as empresas italianas investirem em Angola?
Existe o Sace, um crédito para promover as exportações italianas a nível internacional e várias empresas angolanas já beneficiaram dessa linha de crédito. Existem também outras linhas de créditos privadas disponíveis. Há outros projectos que a partir deste ano vamos tentar levar à frente. Há dois anos, quando o Presidente da República esteve em Roma foram assinados vários acordos e um deles tem que ver com o financiamento a um consórcio italo-suíço que, através de uma empresa italiana vai fazer a construção de algumas infraestruturas básicas na zona franca da Barra do Dante, nomeadamente, estradas, água, luz, esgotos, entre outros. Está- -se apenas à espera que Angola subscreva uma série de documentos para se dar início à implementação do projecto.
Fruto da realização dos fóruns de negócios em Luanda qual é o número de empresas italianas que conseguiram estabelecer-se no País?
Em Angola neste momento existem cerca de 40 empresas italianas encabeçadas pela ENI, que agora chama-se Azule Energy. Temos a KT, que fez o projecto de ampliação da refinaria de Luanda, juntamente com a ENI. Temos também a Saipem, empresa de serviços petrolíferos que faz perfuração em off shore, a Inalca, ligada à comercialização de carne bovina e enlatados, entre outras ligadas ao comércio e indústria.
Existe uma base de dados das empresas italianas que estão em Angola?
Neste momento, a Câmara não possui os dados de todas as empresas que se estabeleceram cá nos últimos anos. Recebemos alguns dados da embaixada de Itália em Angola e também através da Italian Trade Agency (ITA), que está ligada ao governo italiano. Somos uma entidade privada, mas somos parceiros e trabalhamos em conjunto. Naturalmente que tem havido assinatura de parcerias, tem havido importações de vários produtos. Por exemplo, através do Vini Italy, que é uma feira mundial de vinhos, surgiram duas ou três empresas que estão a importar regularmente vinhos e produtos alimentares, e não só para Angola.
A Câmara está feliz com esse nível de cooperação?
Claro que não, pois defendemos relações com vantagens recíprocas. O que pretendemos é que as empresas italianas não venham cá só para fazer vendas, embora a venda seja sempre o primeiro passo, mas que venham cá investir, fazendo joint ventures para produzir aqui determinados produtos e o Corredor do Lobito é um chamariz, pois a Itália já garantiu um financiamento de 300 milhões de Euros para ajudar a Angola neste projecto.
Leia o artigo integral na edição 810 do Expansão, de sexta-feira, dia 07 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)