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Grande Entrevista

"Não é razoável que alguém espere que os bancos deixem de aplicar em títulos"

MÁRIO NASCIMENTO, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO ANGOLANA DE BANCOS (ABANC)

O presidente da ABANC fala sobre os desafios que a banca tem estado a enfrentar nos últimos tempos. Desde a avaliação do GAFI, às exigências que aí vêm ao nível do capital humano do sector e à falta de divisas, que arrasou o valor do kwanza. Quanto à relação do sector com o Estado, considera que é impensável que os bancos deixem de financiar os cofres públicos.

Em retrospectiva, e tendo em consideração o último ano e o primeiro trimestre, quais foram os desafios mais relevantes com os quais o sector bancário se deparou?

Os desafios continuam a ser os mesmos que a banca já tem estado a enfrentar, decorrente da nova legislação, da solicitação da equivalência, e outras questões, como a avaliação do GAFI [Grupo de Acção Financeira]. Neste sentido, a banca tem estado a sofrer todo um processo de reestruturação e normalização regulatória e, no primeiro trimestre, não foi diferente. Outras questões foram surgindo, do ponto de vista macroeconómico, e alguma regulamentação que visa suportar a diversificação da economia e também potenciar o crescimento económico.

Angola aguarda oficialmente os resultados do GAFI no âmbito da inspecção ao País. Como acha que os bancos se encontram?

No geral, os bancos encontram- -se bem. Não estou a dizer que estejam perfeitos, porque ainda há questões que precisam ser melhoradas, mas a banca é o sector que melhor se encontra no País. Temos estado a implementar uma série de requisitos que são exigidos no âmbito da avaliação do GAFI, nomeadamente as questões de branqueamento de capitais e de controlo interno. Neste momento, a banca tem uma avaliação positiva, e não temos dúvidas disso. Ainda assim, temos questões que precisam de ser melhoradas, não do ponto de vista de implementação, mas no sentido de afinar alguns procedimentos e mecanismos e tornar os reportes mais afinados, quer com o supervisor, quer com a UIF.

De concreto, quais são as questões que devem ser melhoradas?

São essencialmente os reportes, e isso tem a ver com alguma formação que é preciso dar a nível dos funcionários bancários para poderem identificar, claramente, os procedimentos que devem ser reportados. Penso que a formação é uma das questões importantes que o sector bancário precisa melhorar. É preciso que os funcionários bancários estejam bem formados para responderem aos requisitos do GAFI, em questões como branqueamento de capitais e compliance para podermos melhorar os procedimentos da banca.

O Tesouro tem-se ausentado da plataforma Bloomberg e isso tem colocado pressão sobre os bancos que precisam de atender os compromissos com os seus clientes. Como estão a lidar com a falta de divisas?

A não participação do Tesouro devido às responsabilidades soberanas do Estado perante o exterior faz com que o Tesouro não participe de forma mais frequente como era habitual, e sendo um dos maiores provedores de divisas para a economia, e em particular ao sector bancário, claramente tem um impacto a nível da banca, não só nos pequenos bancos, como em todos os grandes bancos. Estamos numa situação em que há menos cambiais. Tendo em conta o mesmo nível de procura, pressiona o câmbio e cria efectivamente problemas ao nível do fornecimento dos clientes bancários, tanto para empresas e particulares. Isso no novo quadro que temos em 2023.

O Kwanza depreciou mais de 30% face ao dólar no espaço de um mês, sendo a moeda africana com pior prestação este ano. Até que ponto este cenário prejudica a banca?

Os bancos são prejudicados porque fazem menos operações, apoiam menos os clientes, têm menos disponibilidade de importações e menos disponibilidade para importar, sejam equipamentos para investimento, mercadorias e os insumos que o país precisa de importar.

Toda a economia do País sofre...

É necessário que percebamos que a banca não está desligada da economia, no seu contexto geral. Esta situação prejudica essencialmente a economia. Isto porque a diminuição desses cambiais está ligada à ausência do tesouro e também à redução do preço do petróleo e da produção petrolífera. Esses factores concorrem para que esta diminuição seja maior do que se fosse unicamente da responsabilidade do Tesouro. Assim, não é só um prejuízo para a banca, mas para a economia.

Se este cenário continuar, uma vez que a depreciação da moeda pode corroer o valor dos activos dos próprios dos bancos, obrigaria alguns bancos a fazer aumentos de capitais?

Não sei em que cenário é que poderemos antecipar já bancos a fazer aumentos de capital. Eu penso que, eventualmente, os bancos farão aumento de capital se tiverem um impacto de grande dimensão no seu negócio.

(Leia o artigo integral na edição 730 do Expansão, desta sexta-feira, dia 23 de Junho de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)