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Grande Entrevista

"O mercado é só dívida pública. Não há mais nada"

LUÍS GONÇALVES, PRESIDENTE DA COMISSÃO EXECUTIVA DO BFA

O sistema financeiro está hoje mais regulado e o PCE do segundo maior banco em activos de Angola, Luís Gonçalves, fala sobre os desafios do BFA, das preocupações com a avaliação do GAFI, da continuidade na aposta em títulos de dívida e sobre o futuro do crédito. E refere que hoje o mercado continua a ser apenas dívida pública.

O BFA é hoje a instituição com a maior carteira de títulos de dívida pública. Vai continuar esta aposta?

Há outro banco no sistema que tem uma carteira ao mesmo nível. A aposta nos títulos também decorre de uma necessidade de rentabilizar o volume de depósitos que o banco tem. Temos um mercado que tem de um lado o crédito, retraído, porque de facto não é fácil financiar nas condições de mercado actuais. E depois não temos muito mais nada a não ser o mercado da dívida pública.

Tem também o negócio cambial...

Exactamente. Mesmo que o banco não tivesse interesse em continuar a financiar o Estado, por via de compra de dívida pública, estaríamos numa situação em que teríamos dificuldades em rentabilizar o volume de depósitos que o banco tem. O activo do banco não seria rentabilizado. A gestão, como é natural, tem que procurar formas para não deixar que a sociedade perca valor. Não há possibilidade de deixar de investir ao nível da dívida pública, porque é preciso rentabilizar e não há grandes alternativas.

A partir de Janeiro 2023 os bancos não podem operar directamente na bolsa de dívida. Como é que o BFA se está a preparar?

O que acontece até hoje é que os bancos geriam as suas carteiras próprias, portanto os bancos têm os seus investimentos no mercado de capitais e também tinham a componente de assessoria ou disponibilização de dívida pública aos clientes. O BFA é um player relevante no mercado secundário [de dívida]. Compreendemos que com a evolução do mercado os reguladores queiram separar o negócio do banco (aquilo que é a carteira própria do banco) do negócio que o banco tem com os seus clientes. E por isso decidiram que no final deste ano os bancos deixarão de poder de forma directa participar no mercado nas duas frentes.

O BFA é o principal banco a actuar no mercado secundário.

O papel do banco é muito importante no mercado secundário porque permite que os pequenos aforradores, sejam empresas ou particulares, possam ter alternativas de poupança diferentes dos depósitos a prazo dos bancos. E do lado das empresas, aquelas que tenham títulos de dívida, porque foi durante muitos anos o modelo de pagamentos que o Estado adoptou para pagamento de dívidas aos seus fornecedores, possam gerar liquidez para conseguir continuar a operar.

E o BFA tem sido um parceiro muito relevante nesse sector.

Diria que o papel do banco foi fundamental para que o País tivesse hoje o mercado secundário que tem, que funciona, que tem muito mais liquidez no mercado, que tem um volume de negócios crescente.

E há mais pessoas a aplicar poupanças por essa via.

Há, o que é bom. Permite que não sejam os bancos os únicos financiadores do Estado.

Então qual é a solução do BFA para continuar a actuar nesse segmento?

Vamos continuar a querer ser relevantes. Achamos que não faz qualquer sentido o banco deixar de ser activo no mercado secundário, o que significa que nos vamos adequar às regras que estão definidas, portanto o banco no final do ano vai deixar de ter essa componente de negócios directamente dentro do banco, mas há-de ter uma sociedade que o banco está a dar os passos para constituir.

Uma sociedade correctora portanto.

Há-de ser uma sociedade distribuidora de valores mobiliários.

Que impacto isso terá nas contas do banco?

Se olharmos para o banco de uma forma isolada, sim, o mercado secundário tem impacto grande nos resultados do banco, porque gera comissões e, por isso, gera resultados. Agora, esta sociedade vai pertencer ao banco. Da mesma forma que o BFA já está no mercado de capitais, nós temos uma sociedade gestora de organismos de financiamento colectivo, portanto de fundos de investimento, e que também é muito activa no mercado. Este tipo de negócio também cresceu bastante e permitiu ao banco que continuasse a dar aos seus clientes alternativas de poupança.

Mas esses fundos investem praticamente em títulos de dívida.

O mercado é só dívida pública. Não há mais nada. Vamos ver se vão surgindo agora alguns projectos.

Investir em dívida corporativa das empresas pode ser interessante para o BFA?

Claro que sim. Estamos a fazer assessoria ao IGAPE e à Sonangalp no processo de privatização da Sonangalp. Não é do lado da emissão da dívida, mas é do lado das acções e portanto é uma frente. Mas também temos diálogos com parceiros que têm intenções de emitir dívida corporativa.

(Leia o artigo integral na edição 673 do Expansão, de sexta-feira, dia 06 de Maio de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)