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África

Mauritânia assume presidência rotativa da União Africana

ARGÉLIA E MARROCOS DESISTEM DA DISPUTA E CONCORDAM COM "CANDIDATO DE CONSENSO"

Argélia e Marrocos, de costas voltadas por causa do Saara Ocidental, começaram a movimentar-se há um ano, para angariar apoios, mas Mauritânia acabou por emergir como "candidato de compromisso" para evitar mais divisões. Comores cessa um "mandato irrelevante", com continente polarizado por inúmeros conflitos.

Para evitar mais um conflito em África, numa altura de grande polarização e instabilidade, Argélia e Marrocos desistiram das suas candidaturas e concordaram em "nomear" a Mauritânia como candidato do norte para a presidência rotativa da União Africana (UA), este fim-de-semana, na cimeira de Chefes de Estado, o ponto alto da 37ª Assembleia Geral da organização, onde Angola deverá assumir uma das vice-presidências. Um confronto eleitoral entre a Argélia e Marrocos estava a ser desenhado, praticamente desde que o Presidente das Comores, Azali Assoumani, assumiu a presidência rotativa, há um ano. Dentro do espírito de rotatividade entre as cinco regiões africanas, para assegurar a igualdade de representação, a presidência da União Africana cabe agora ao norte de África, após presidências do leste (Comores), do oeste (Senegal), centro (RDC) e do sul (África do Sul).

Argélia e Marrocos começaram a movimentar-se para angariar apoios, em Janeiro de 2023, mas a Mauritânia acabou por emergir como o "candidato de compromisso", mantendo a coesão do grupo quando se mantém acesa a disputa sobre o estatuto do Saara Ocidental, que opõe os dois vizinhos do norte de África.

"Ao escolher a Mauritânia, Tebboune [Presidente da Argélia] não participará no mecanismo da troika africana no Saara Ocidental durante os próximos três anos. Este mecanismo, estabelecido durante a cimeira da UA de 2018 em Nouakchott, na Mauritânia, visa facilitar uma solução para o conflito", escreve o Yabiladi, portal de informação marroquino, este domingo.

O avanço da candidatura do Presidente da Mauritânia, Mohamed Ould Ghazouani, também é dada como certa pelos jornais francófonos - a imprensa francesa chama-lhe "candidatura de consenso" - e pretende evitar o deflagrar de mais um conflito, num ano em que se realizam 19 eleições presidenciais e gerais em África, continente "sacudido" por vários choques desde a pandemia da Covid-19, em 2020. A África Ocidental mergulhou em convulsão, com três Estados governados por juntas militares - Burkina Faso, Mali e Níger - e o Senegal enfrenta uma vaga de protestos após o Presidente Macky Sall anunciar o adiamento das presidenciais, agendadas para 25 de Fevereiro.

O adiamento das eleições para 15 de Dezembro mergulhou o Senegal, uma das democracias mais estáveis de África, em protestos contra o que muitos consideram uma tentativa de prolongar o mandato do actual Presidente. Sall, que teve a presidência rotativa da UA antes das Comores, negou a intenção de recandidatar-se a um terceiro mandato, contra a Constituição, mas a oposição e grupos da sociedade civil qualificaram o adiamento das eleições como um "golpe institucional".

Uma missão diplomática da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o principal bloco político e económico da região, chegou ao Senegal segunda-feira, consciente de que a decisão de adiar as eleições é "uma fonte de tensões que pode levar a um impasse e comprometer a tradição de paz e estabilidade necessária para a organização de eleições em condições de transparência e justiça".

Mandato irrevelante

A cimeira de Chefes de Estado da União Africana, que se realiza durante a assembleia geral de 17 e 18 de Fevereiro, põe fim à presidência das Comores, uma das mais "irrelevantes" dos últimos anos, segundo analistas, com o Presidente Azali Assoumani a revelar-se incapaz de ter uma voz activa que ajude a ultrapassar conflitos ou fazer avançar a integração regional.

Leia o artigo integral na edição 763 do Expansão, de sexta-feira, dia 16 de Fevereiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)