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África

Nigéria escolhe novo Presidente no meio de crise monetária

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS ENSOMBRADAS POR PROTESTOS

Nas últimas semanas, protestos violentos nas principais cidades por causa da escassez de notas de banco ensombraram os comícios de campanha política para as presidenciais de 25 de Fevereiro. Sem favoritos, os 100 milhões de eleitores escolhem o sucessor de Muhammadu Buhari entre 18 candidatos.

A Nigéria elege este sábado um novo Presidente, sem um candidato favorito à sucessão de Muhammadu Buhari e no meio de uma crise de escassez de moeda nacional, a naira, desde que o banco central introduziu novas notas e decidiu suspender a utilização das antigas, numa tentativa de limpar o excesso de dinheiro e controlar a inflação. Os governadores de três estados - Kaduna, Kogi e Zamfara - contestaram a decisão, por causa de tumultos nas principais cidades, que incluíram o encerramento de empresas e estradas bloqueadas, iniciativa a que se juntaram posteriormente outros estados da federação.

A 10 de Fevereiro, o Supremo Tribunal decidiu suspendeu a ordem do Banco Central da Nigéria, até que seja produzida uma decisão judicial definitiva. Mas a decisão do Supremo teve efeitos parciais e não pôs termo à crise. O Presidente Buhari ordenou ao banco central que voltasse a colocar em circulação as antigas notas de 200 nairas, até 10 de Abril de 2023, mas manteve interdita a circulação de notas de 500 e 1.000, o que serviu de rastilho a novos tumultos em Lagos, capital comercial, que alastraram a outros pontos do país.

"Nas últimas semanas, protestos violentos em partes do país por causa da escassez de notas de banco ensombraram os comícios de campanha política. Os cidadãos que entregaram as notas antigas aos seus bancos não podem obter as novas, porque os bancos também não as têm. A escassez de dinheiro trouxe miséria a muitas casas e organizações, com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, a questionaram o timing do exercício de redesenho da moeda, tão próximo de eleições gerais cruciais", relata o Premium Times esta segunda-feira.

As presidenciais são disputadas por 18 candidatos, entre os quais Bola Ahmed Tinubu, do Congresso de Todos os Pro[1]gressistas, partido do actual Presidente Muhammadu Buhari; Atiku Abubakar, do Partido Democrático Popular; e Peter Obi, do Partido Trabalhista. As sondagens dão conta de uma disputa renhida e sem um candidato favorito, apon[1]tando para uma segunda volta.

Crise da desmonetização

A "política de desmonetização" que visa reduzir a base monetária e retirar de circulação 2,7 biliões de nairas (o equivalente a 5,9 mil milhões USD), foi anunciada em Outubro e começou um mês depois, a 15 de Dezembro, com a entrada em circulação das novas notas. A introdução de novas notas, segundo o Banco Central da Nigéria, destina-se a combater a falsificação e reforçar a segurança e pretende também diminuir as transacções em numerário. Só que a medida secou o dinheiro em circulação e causou uma crise de numerário, que desencadeou protestos em quase todos os estados, nos dois primeiros meses do ano.

A maioria dos 100 milhões de eleitores procurará nestas presidenciais "um representante que ponha os interesses do país à frente dos seus ganhos pessoais", mas "um tal candidato pode ser difícil de encontrar", assinala Teniola Tayo, investigadora do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês), sediado em Pretória, África do Sul.

"A democracia nigeriana tem-se caracterizado por eleições fraudulentas, política monetizada e promessas não cumpridas que dão ao cidadão comum opções limitadas. O mau estado das instituições democráticas também tem deixado os cidadãos com poucos recursos. Será que isto vai mudar após as eleições de sábado?", questiona Tayo, notando que os três principais candidatos "serviram todos o governo" em diferentes níveis e todos eles "foram envolvidos em escândalos financeiros".

"Tinubu tem sido acusado de evasão fiscal e branqueamento de dinheiro nas suas transacções com o Estado de Lagos. O nome de Abubakar aparece 60 vezes num relatório do Senado dos EUA sobre corrupção estrangeira, onde esteve ligado a delitos de lavagem de dinheiro. Obi estava entre os funcionários públicos nomeados na exposição dos Pandora Papers como tendo cometido evasão fiscal", descreve a investigadora do Escritório Regional do ISS para a África Ocidental, Sahel e a Bacia do Lago Chade. Alegações que os três candidatos negam.