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África

Plano para autosuficiência alimentar passa por afectar 10% da despesa à agricultura

MECANISMO AFRICANO DE PRODUÇÃO ALIMENTAR COM 30 MIL MILHÕES USD

A estratégia desenhada na Cimeira de Dakar 2 visa aumentar a capacidade de produção alimentar de África e pôr termo à dependência de importações, que deixa o continente "vulnerável aos picos de preços e à escassez".

Os chefes de Estado e de governo que participaram na Cimeira de Dakar 2 comprometeram-se a afectar pelo menos 10% da despesa pública para aumentar o financiamento da agricultura e transformar África num "celeiro para o mundo". As garantias de financiamento de 30 mil milhões USD, de parceiros de desenvolvimento, nos próximos cinco anos, darão impulso à estratégia aprovada para fazer com que África consiga ter uma produção agrícola de 1 bilião USD até 2030. Mas, para isso, é preciso mesmo passar da vontade política à acção, como sinalizou o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina.

O compromisso saído da 2ª cimeira africana sobre agricultura e alimentação, realizada quando o continente enfrenta "a sua pior crise alimentar de sempre", visa aumentar a capacidade de produção alimentar de África e pôr termo à dependência das importações, facto que deixa o continente "vulnerável aos picos de preços e à escassez".

Organizada pelo governo senegalês e pelo BAD, que se compromete a contribuir com 10 mil milhões USD nos próximos cinco anos, a Cimeira de Dakar 2 reuniu dezenas de líderes, incluindo 34 chefes de Estado e de governo, 70 ministros e parceiros de desenvolvimento. Esta forte presença atesta a "determinação" em transformar "a vontade política em acções concretas", destacou o presidente do Grupo do BAD, Akinwumi Adesina, no discurso de encerramento da cimeira, subordinada ao tema "Alimentar África: soberania e resiliência alimentares".

Os líderes políticos comprometeram-se a criar conselhos consultivos presidenciais de alto nível para supervisionar a implementação dos compactos, que serão presididos pelos chefes de Estado nos seus respectivos países, e assumiram o compromisso de afectar pelo menos 10% da despesa pública para aumentar o financiamento da agricultura.

Momento-chave

Para Adesina, a Cimeira de Dakar 2 será recordada como um momento-chave na capacidade africana de se alimentar e alcançar a autossuficiência e a soberania alimentares, enquanto o primeiro- -ministro senegalês, Amadou Ba, destacou o paradoxo de África ser "o maior continente, mas também o mais dependente". "A partir de agora, temos de acabar com a dependência. África deve consumir o que produz, e produzir o que consome", defendeu Ba, salientando o potencial da agricultura na criação de emprego, promoção da riqueza e da saúde.

Além do financiamento de 10 mil milhões USD do BAD, o Mecanismo Africano de Produção Alimentar de Emergência contará com 5 mil milhões USD do Banco Islâmico de Desenvolvimento. Alemanha, Canadá e Holanda também assumiram o compromisso de apoiar financeiramente a agenda Alimentar África.

O continente africano tem 65% das terras mais aráveis do mundo e recursos hídricos abundantes, com potencial para alimentar 9 mil milhões de pessoas no mundo até 2050, segundo o BAD. No entanto, com 249 milhões de pessoas, o continente alberga um terço da população mundial em situação de fome, dada a fraca produção agrícola e a forte dependência das importações. O BAD estima que, com a eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento agrícola e a ajuda de novos investimentos, a produção agrícola africana poderá passar de 280 mil milhões USD por ano para 1 bilião USD até 2030.