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Morreu Colin L. Powell, um soldado e um diplomata

De covid-19

Colin L. Powell nascido no Harlem de pais jamaicanos, de soldado a conselheiro de segurança nacional fez quatro décadas de serviço público

O seu discurso nas Nações Unidas, em Março de 2003, abriu o caminho à guerra do Iraque, convencido ou porque se deixou convencer que Saddam Hussein tinha armas de destruição maciça, convenceu de igual modo o mundo e os norte-americanos mais relutantes de que a invasão do Iraque para terminar com Saddam e a Al-Qaeda era uma necessidade. Viria a penalizar-se para o resto da vida por ter feito esse discurso.

Primeiro independente, depois republicano, trabalhou essencialmente com presidentes republicanos como Reagan e os Bush, pai e filho, mas a partir de Obama passou a apoiar candidatos democratas. Morreu aos 84 anos, vítima de complicações devido à covid-19

Colin L. Powell vai engrossar a gigantesca lista de mortes devido à covid-19, ainda que vacinado, mas depois de ter sido submetido a um tratamento, que pôs em causa o seu sistema o imunológico, acabou por ficar infectado com o vírus e morreu no mais reputado hospital militar norte-americano, o Centro Médico Militar Nacional Walter Reed, em Bethesda, no Maryland.

Tinha 84 anos e quatro décadas de serviço público. Powell foi o primeiro assessor de segurança negro dos Estados Unidos e o seu pioneirismo não se ficou por aí, foi também o primeiro como chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas norte-americanas e o primeiro como secretário de Estado.

Colin Luther Powell nasceu em 5 de Abril de 1937, no Harlem, e foi criado no South Bronx. Os pais, Luther Powell e Maud Ariel McKoy, eram imigrantes jamaicanos. Formou-se no City College de Nova York e ingressou no Exército por meio do ROTC (Reserve Officers Training Corps), a que se juntou ainda na universidade. Participou como segundo-tenente na Guerra do Vietname, e foi conselheiro de segurança do presidente Ronald Reagan numa altura em que o presidente norte-americano negociou os tratados de cooperação com o então presidente soviético, Mikhail Gorbachev, que levaram à queda do Muro de Berlim e ao fim da Guerra Fria.

Foi um homem que promoveu a paz fazendo a guerra, foram seus os planos da invasão do Panamá, em 1989, e da Guerra do Golfo, em 1991, quando Saddan Hussein foi expulso do Kuwait, mas manteve o poder no Iraque. O caminho dos dois viria a cruzar mais tarde, e o final foi pouco feliz para Saddam Hussein.

Alguns anos mais tarde, Powell, e de novo na Casa Branca, entrou em confronto com Dick Cheney, que, de qualquer forma, optou pela chamada "doutrina Powell" sobre operações militares: "identificar objectivos políticos claros, obter apoio popular e usar de uma força decisiva e avassaladora para derrotar as forças inimigas".

Na época em que se reformou do Exército, em 1993, Powell era uma das figuras pública mais populares da América, devido as suas inegáveis capacidades de liderança e à sua forma franca de falar tão apreciada pelos norte-americanos.

Em 2007 e em entrevista ao The New York Times disse de si mesmo: "Powell é um solucionador de problemas. Foi ensinado como soldado a resolver problemas. Portanto, tem opiniões, mas não é um ideólogo. Tem paixão, mas não é fanático. É, antes de mais nada, alguém que soluciona problemas."

Foi assediado tanto por republicanos como por democratas para se candidatar à Casa Branca, mas nunca cedeu.

Em 2001, George W. Bush, e seguindo o exemplo do pai, vai buscar Powell para o cargo de secretário de Estado (o equivalente a ministro das Relações Exteriores) e aí junta-se aos falcões Dick Cheney e Donald H. Rumsfeld, um como vice-presidente e outro como secretário de Defesa, mas juntar-se é só uma forma de pôr as coisas, na verdade lutam entre si pelo domínio da política externa norte-americana. Powell acabaria por ceder.

Entretanto aconteceu o 11 de Setembro e a sua intervenção na ONU, em 2003, baseada, sabe-se hoje em informação manipulada, acabaria por se tornar no seu grande arrependimento para o resto da vida.

Em 2008, quando Barack Obama se candidatou à presidência, o republicano Powell é um dos que o apoiam. Manteve-se republicano mas continuava a apoiar candidatos democratas, esteve ao lado de Hilary contra Trump e mais tarde, já no final do mandato do truculento e polémico candidato, Powell foi uma das vozes republicanas que se fizeram ouvir contra os excessos trumpianos. Manteve-se coerente e apoiou a candidatura de Joseph R. Biden à Casa Branca, em 2020.

Colin L. Powell casou com Alma Vivian Johnson em Agosto de 1962, tiveram duas filhas e um filho, e, hoje, quatro anos. No ano em que casou com Alma Johnson, Powell passou o Natal em Saigão, serviu no Vietname em 1963 e depois em 1968, nessa altura tive um acidente, o helicóptero em que viajava, caiu. Foi salvo pelo major-general Charles M. Gettys, o seu comandante-em-chefe, que o arrastou para fora de entre os destroços.

Em 1973, participa da Guerra da Coreia, e logo depois, como comandante da 101.ª Divisão Aerotransportada do exército norte-americano, uma tropa de elite. Em 1979, com 42 anos, é promovido a general, na altura é um dos mais jovens oficiais do exército a obter aquele posto. Continuou a sua ascensão na hierarquia do exército e a sua participação em situações de conflito ou de risco de conflito, em 1986, está na Alemanha Ocidental à frente de 75 mil soldados, vivem-se os derradeiros anos da Guerra Fria. Quando regressa a Washington torna-se conselheiro de segurança nacional do presidente Reagan.

Em 1989, volta a chefiar um comando do Exército, e obtém as quatro estrelas como general, é o primeiro negro a conseguir esse posto nas Forças Armadas norte-americanas.

Teve também direito aos seus fracassos, como em 1993, quando 18 soldados norte-americanos foram perseguidos e mortos na Somália, depois dos dois helicópteros em que seguiram terem sido abatidos, um incidente que ficou conhecido como o "Blackhawk Down". Houve um inquérito, e o Senado culpou Powell e Les Aspin, o secretário de Defesa na época, por deixar os Rangers sem proteção.