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O compromisso financeiro dos mais ricos e mais poluidores para com os mais pobres e menos poluidores mantém-se ténue

COP26, Glasgow, Escócia

O novo acordo não vai resolver o problema do aquecimento global, cada país continuará a determinar por si mesmo quando e como é que vai é que vai alcançar ou estar perto disso a neutralidade carbónica. Os mais ricos e mais poluidores continuam relutantes em aumentar as verbas para os mais pobres e menos poluidores que os possam apoiar na transição energética

Em Glasgow, na Escócia, delegados de mais de 200 países assinaram um acordo, depois de semanas de negociações, com o objectivo de intensificar os esforços para combater as mudanças climáticas, protelando para o próximo ano decisões mais definitivas sobre como cada país se pode comprometer com metas concretas para a neutralidade carbónica. Não foi o acordo necessário, foi só o acordo possível, e a decepcão foi indisfarçável. A começar pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, que optou por falar para os jovens, para o futuro, uma forma não se referir a um presente que ficou aquém das expectativas no que tem a ver com a necessidade da diminuição urgente das temperaturas da Terra.

Houve ainda outro pedido a partir de Glasgow, e também ele não será vinculativo, que os países mais ricos "dupliquem" o apoio aos países mais pobres até 2025.

A cimeira do clima de Glasgow veio sublinhar a dificuldade de pôr centenas de países de acordo, cada um defendendo os seus interesses económicos e políticas internas relativamente ao ambiente. No limite, assinalou a necessidade, e aí houve consenso, que cada país tem de fazer mais, e imediatamente, para evitar a catástrofe que se configura o aquecimento global. Delineou ainda medidas específicas que devem ser tomadas em todo o mundo e que levam à redução das emissões globais de dióxido de carbono quase para metade até 2030 e a redução significativa da utilização do gás metano, um potente gás de efeito estufa.

Um dos pontos do acordo que mais deu que falar tem a ver com a "eliminação" que passou a "redução" do carvão, o mais sujo dos combustíveis fósseis, esta alteração - da eliminação para a redução - foi, essencialmente, imposta pela Índia.

A representante da Suíça, Simonetta Sommaruga, ao lado de negociadores de outros países como as Ilhas Marshall ou México, contesteou de forma veemente esta decisão. "Não precisamos reduzir gradualmente, mas eliminar gradualmente", afirmou Simonetta Sommaruga, que criticou ainda o facto de a alterações ter sido introduzida à última da hora que coloca em causa a meta da temperatura média global de 1,5 graus Celsius.

Os cientistas têm vindo a dizer que o mundo precisa manter o aumento médio da temperatura global nos 1,5 graus Celsius ou enfrenta a probabilidade de desastres climáticos cada vez mais devastadores, extinção de espécies, escassez de água e outros conflitos. O planeta já aqueceu 1,1 graus Celsius, em comparação com os níveis pré-industriais.

Um outro problema está também no apoio dos países mais ricos aos países mais pobres, há 10 anos, os países desenvolvidos prometeram mobilizar 100 mil milhões de dólares por ano até 2020, até ao ano passado, portanto, para ajudar os países em desenvolvimento a preparem-se para a transição energética, adoptando, por exemplo, energias renováveis. Esta promessa não foi cumprida, e o acordo negociado em Glasgow dá conta, e "com séria preocupação", da lacuna entre o que foi prometido e o que foi entregue.

Activistas reconheceram que é desapontante a linguagem do acordo relativamente ao financiamento aos países pobres e vulneráveis.

Timmons Roberts, um professor de estudos ambientais da Brown University, nos Estados Unidos, falou de "palavras ambíguas" que podem permitir que os países ricos se esquivem de suas promessas.

"Sou professor universitário", disse, e "se eu pedir aos meus alunos que considerem a possibilidade de fazer determinada leitura para a aula, quantos é que eu espero que o façam realmente? Muito poucos".

O novo texto elimina a referência à criação de um mecanismo financeiro que possa fornecer apoio e assistência técnica para fazer face às perdas e danos das tempestades e inundações cada vez mais catastróficas ou secas cada vez mais severas, decorrentes das emissões de gases de efeito estufa que países ricos lançaram na atmosfera há décadas. A nova versão pede apenas um diálogo para "discutir os mecanismos de financiamento" para atender às necessidades dos países pobres.

Vários negociadores e observadores que assistiram às negociações disseram que os Estados Unidos foram fundamentais para bloquear uma menção mais clara de um novo fluxo de financiamento para os países pobres para lidar com as perdas e danos da mudança climática.

Antes de começar, a cimeira do clima global das Nações Unidas em Glasgow, COP26, foi considerada, pelo seu principal organizador, como a "última e melhor esperança" de salvar o planeta. Por agora, há um compromisso para fazer esse esforço.

Na abertura da conferência, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, afirmou que a principal prioridade deve ser limitar o aumento das temperaturas globais a apenas 1,5 graus Celsius, ou 2,7 graus Fahrenheit, acima dos níveis pré-industriais, numa altura em que o mundo já aqueceu 1,1 graus Celsius, por há o risco de calamidades naturais gigantescas.

O acordo final não apresenta uma solução para a questão crucial de quanto e com que rapidez cada país deve cortar suas emissões na próxima década.

Os países ricos, incluindo os Estados Unidos, Canadá, Japão e grande parte da Europa Ocidental, que respondem por apenas 12% da população global nos dias de hoje, são responsáveis ??por 50% de todos os gases de efeito estufa que aquecem o planeta, libertados por combustíveis fósseis de uma industrialização de 170 anos.

O presidente Biden e os líderes europeus têm insistido que países como Índia, Indonésia e África do Sul precisam acelerar a utilização do carvão e de outros combustíveis fósseis. Mas esses países respondem que não têm recursos financeiros para fazer isso e que os países ricos têm sido generosos nas suas ajudas. E o impasse está criado, e as soluções só podem ser de compromisso.

Outros acordos que saíram da cimeira do clima

EUA e China: Os dois países anunciaram um acordo conjunto para reduzir as emissões de C02 nesta década, e a China comprometeu-se, pela primeira vez, a desenvolver um plano para reduzir o metano. O pacto entre os dois rivais e os dois maiores poluidores do mundo, surpreendeu os delegados presentes. O acordo ainda assim é curto em termos específicos, embora a China concorde em "reduzir gradualmente" o carvão a partir de 2026, não especificou quanto e em que período de tempo.

Desmatamento: Líderes de mais de 100 países, incluindo Brasil, China, Rússia e Estados Unidos prometeram acabar com o desmatamento até 2030. O acordo cobre cerca de 85% das florestas do mundo, que são cruciais para absorver dióxido de carbono e diminuir o ritmo do aquecimento global. Alguns grupos de defesa criticaram o acordo como sendo insuficiente, até porque esforços semelhantes falharam no passado.

Metano: Mais de 100 países concordaram em reduzir as emissões de metano em 30% até o final desta década. A promessa partiu de um impulso da administração Biden, que também anunciou que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA limitaria o metano proveniente de cerca de um milhão de plataformas de petróleo e gás nos Estados Unidos.

Índia: a Índia juntou-se ao coro crescente de nações que prometem atingir emissões zero e estabeleceu um prazo, até 2070. A Índia é ainda um dos maiores consumidores mundiais de carvão, mas prometeu que vai alterar a sua matriz energética de forma a depender mais de fontes renováveis, e para isso estabeleceu uma meta mais curta: 2030.