Presidente eleito do Senegal quer renegociar projectos de gás
Com um programa que mergulha raízes no pan-africanismo de esquerda, Bassirou Faye quer renegociar os contratos no sector do oil & gas, antes do arranque da produção do Grande Tortue Ahmeyim (GTA), um projecto offshore de gás natural na fronteira marítima com a Mauritânia. Opositores assumem derrota.
Bassirou Diomaye Faye, que ganhou as eleições presidenciais no Senegal à primeira volta , assumiu o compromisso de renegociar os contratos no sector do oil & gas e prometeu travar uma luta contra a corrupção, rompendo com o status quo vigente. O segundo candidato mais votado, o ex-primeiro-ministro Amadou Ba, assumiu a derrota assim que foram divugados os primeiros resultados não oficiais, na segunda-feira, dia em que o quinto Presidente eleito do país completou 44 anos. Esta é a primeira vez nas 12 eleições presidenciais realizadas no Senegal, após a independência em 1960, que vence um candidato da oposição, assinala a imprensa internacional.
Para Bassirou Faye - um preso político que "saltou" da prisão para a campanha eleitoral, após uma amnistia aos presos políticos concedida pelo Presidente Macky Sall 10 dias antes das eleições - os resultados mostram que o eleitorado decidiu "romper" com o sistema político vigente, cabendo-lhe a missão de promover a "reconciliação nacional", após três anos de agitação social e política. Esta será uma das prioridades de Diomaye Faye, que prometeu ainda "combater a corrupção em todos os níveis" e enfrentar a crise do custo de vida, durante a campanha eleitoral.
Com um programa que mergulha raízes no pan-africanismo de esquerda, Faye quer renegociar os contratos no sector do oil & gas, antes do arranque da produção do Grande Tortue Ahmeyim (GTA), um projecto offshore de gás natural na fronteira marítima com a Mauritânia, que deveria ter arrancado em 2023, com uma produção estimada de 2,5 milhões de toneladas por ano. O projecto transfronteiriço, no valor de 4,8 mil milhões USD, está a ser desenvolvido por um consórcio liderado pela BP, que integra a Societe des Petroles du Senegal (Petrosen), a Societe Mauritanienne des Hydrocarbures (SMH) e a Kosmos Energy.
Este é o maior investimento do sector no país, classificado em Julho de 2021 como Projecto Nacional de Importância Estratégica. Estão também em desenvolvimento o projecto Sangomar, uma joint-venture operada pela Woodside com a Petrosen, e o Yakaar-Teranga, projecto que está em fase de estudos, liderado pela BP, que tem como parceiros a Kosmos Energy e a Petrosen.
De candidato de reserva a Presidente do Senegal
"Considerando as tendências dos resultados das eleições presidenciais e aguardando a declaração oficial, felicito o Presidente Bassirou Diomaye Diakhar Faye pela sua vitória à primeira volta", declarou Amadou Ba, de 62 anos, em comunicado, assumindo a derrota assim que a rádio independente Futurs Media divulgou os primeiros resultados não oficiais, na segunda-feira, dia de aniversário do candidato vencedor. Faye, que se torna o Presidente eleito mais novo do país sem nunca ter ocupado um cargo por eleição, estava à frente, com 57% dos votos, e Ba, que deixou o cargo de primeiro- -ministro no início de Março para se candidatar às presidenciais, seguia em segundo, com 31%.
Vários candidatos da oposição admitiram a derrota no domingo, dia das eleições, e felicitaram Faye, descrito pela CNN como "antigo inspector fiscal e preso político" que esteve preso desde Abril do ano passado até à sua libertação em 14 de Março. Licenciado em Direito, Bassirou Faye foi escolhido como candidato de reserva, após a candidatura de Ousmane Sonko ter sido invalidada depois de o Supremo Tribunal confirmar a sua condenação num caso de difamação julgado no início do ano. Os dois homens, que saíram da prisão no mesmo dia, tinham consigo o eleitorado jovem, que representa mais de 60% da população.
O Presidente Macky Sall, que cessa funções a 2 de Abril, deu os parabéns ao candidato vencedor, mas fê-lo apenas na segunda-feira, após serem conhecidos os primeiros resultados não oficiais. Os resultados oficiais serão divulgados, o mais tardar no sábado, segundo um funcionário da Comissão Eleitoral Nacional Autónoma do Senegal, citado pela CNN.
Numa curta declaração, Sall descreveu as eleições como uma "vitória da democracia senegalesa", "passando uma borracha" sobre toda a polémica que desencadeou ao tentar adiar as eleições de 24 de Fevereiro para Dezembro, tentativa que foi anulada pelo Conselho Constitucional do Senegal, que funciona como tribunal constitucional. Como legado, Macky Sall deixa um país com taxas de crescimento económico robustas, mas um quadro social e político, marcado pela pobreza persistente, emigração e detenções em massa de opositores políticos.
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