Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Mundo

O n.º 60 da Sloane Avenue, em Knightsbridge, Londres, o lado obscuro dos negócios da Santa Sé

A venda de um edifício que pode custar perdas de 100 milhões de libras ao Vaticano (117 milhões de euros)

Há um edifício em Londres que custou ao Vaticano 350 milhões de euros e que está agora à venda por 200 milhões de libras (234 milhões de euros), quem perde é o Vaticano e todos aqueles que durante anos fizeram doações à Igreja para fins assistencialistas, porque foi com esse dinheiro que o soberbo edifício no centro de Londres foi comprado. Pelo meio há um ex-banqueiro italiano, Raffaele Mincione, e um cardeal, Giovanni Angelo Becciu

O Vaticano irá sofrer uma perda de 100 milhões de libras, cerca de 117 milhões de euros, com a venda de um luxuoso edifício de escritórios no centro de Londres.

A venda do número 60 da Sloane Avenue, em Knighsbridge, por cerca de 200 milhões de libras esterlinas, está a cargo do Bain Capital, um grupo de private equity, em parceria com a Savills, a imobiliária cotada na Bolsa de Londres.

Sabe-se que o edifício custou à Santa Sé 350 milhões de euros o que significa que a venda nesta altura significa uma perda de cerca de 100 milhões de libras mais ou menos 117 milhões de euros, perdas essas que se estendem a todos os católicos que em todo o mundo fazem doações à Igreja para apoiar o seu trabalho junto dos mais pobres e dos mais vulneráveis.

O Vaticano confirmou que o dinheiro investido em imobiliário e outros investimentos decorre do chamado Peter"s Pence, o nome é oriundo do pagamento dos anglo-saxões a Roma e agora às doações dos católicos em todo o mundo, e que, de acordo com o Vaticano, se destina "às diversas necessidades da Igreja e no socorro aos mais necessitados". E foi porque assim não é, que o Papa Francisco determinou que a Santa Sé se libertasse de património imobiliário para efectivamente se puder ajudar os mais necessitados.

E no final do ano passado, o Papa abrigou a poderia Secretaria Geral da Santa Sé a desfazer-se de uma considerável carteira de investimentos no valor de centenas de milhões de euros e adquirida à custa das doações dos católicos em todo o mundo.

O prédio de Londres, que se irá transformar num condomínio de luxo, no lugar onde está não apela a outra coisa, está no centro de um escândalo que, precisamente, forçou o Vaticano a reformular a forma como gere as suas finanças.

Entretanto, foi afastado da ampla Praça de São Pedro um ex-banqueiro italiano, Raffaele Mincione, que é acusado de vários crimes, entre eles fraude e peculato. E sem que isso seja uma coincidência, uma empresa ligada a Mincione adquiriu o edifício de Londres, em 2012, por 129 milhões de libras, dois anos depois, o Vaticano, através de um fundo que geria as doações dos católicos e que era administrado por Mincione comprou a parte de italiano mas subravalorizada, em 2018, ainda com Mincione ligado às contas da Santa Sé, o Vaticano compra o resto do edifício de que é proprietário na totalidade.

Daqui se percebe que Mincione andou a negociar em causa própria com os devidos lucros, naturalmente. Seja como for, o ex-banqueiro agora investidor tem negado qualquer irregularidade e contra-atacou mesmo nos tribunais de Londres contra o Vaticano. Entretanto, os processos contra o ex-banqueiro, um cardeal e outras pessoas que decorria nos tribunais do Vaticano foram suspensos, um juiz considerou que as provas apresentadas não eram consistentes e pediu mais provas. Os advogados do Mincione consideram que essa decisão anulou o processo, mas o Vaticano ainda não desistiu e outra audiência está marcada para o final deste mês de Novembro.

O banqueiro alega que nunca soube que o dinheiro que estava a investir em nome do Vaticano tinha origem nas doações dos católicos provenientes de fundos de caridade e culpa o Vaticano pelas perdas que venha a sofrer ao desfazer-se abruptamente dos investimentos.

O Vaticano reage e diz que as perdas são o resultado de uma fraude complexa.

De um lado e de outro o assunto segue nos tribunais.

Um cardeal, um gestor de fundos e uma especialista em inteligência e roupas de marca

O Vaticano levou a tribunal dez pessoas acusadas de corrupção, em Julho deste ano, em causa, um malfadado investimento de milhões de euros num edifício no centro de Londres. Mas mais do que isso, há acusações de peculato e nepotismo e o acusado tem nome.

Giovanni Angelo Becciu foi primeiro cardeal a ser julgado por crimes financeiros no tribunal criminal do Vaticano. Becciu, viu a sua imunidade cardinalícia revogada pelo Papa Francisco, sendo acusado de abuso de poder e peculato relacionado com supervisão de centenas de milhões de euros de fundos católicos mantidos em bancos suíços. O cardeal negou e diz-se vítima de uma conspiração. O julgamento que decorre num tribunal improvisado no Museu do Vaticano, devido às restrições da Covid, foi suspenso para que se possa reunir mais matéria de prova, mas tem a próxima audição marcada para o final deste mês.

O julgamento do cardal Angelo Becciu foi a clara demonstração que o Papa Francisco quer varrer do Vaticano práticas mais obscuras e repor "a credibilidade" da Santa Sé em questões financeiras, além do mais, o julgamento evidencia que os sistemas de controle do Vaticano estão a funcionar.

Angelo Becciu foi uma das figuras mais poderosas da Santa Sé até ao ano passado, quando o Papa Francisco lhe retirou os privilégios e o privou ao seu direito de voto nos conclaves, deixando-o cardeal apenas no nome.

Entre os acusados neste processo está Raffaele Mincione, o ex-banqueiro italiano e agora gestor de fundos de uma empresa com sede em Londres, que criou, o WRM Group. É acusado de peculato e fraude devido aos investimentos de mais de 200 milhões de dólares feitos em nome do Vaticano através de um fundo no Luxemburgo que Mincione geria em nome da Santa Sé.

Cecilia Marogna, uma especialista italiana em inteligência e que trabalha como freelance, é acusada de desviar dinheiro através de contratos de consultoria assinados por Angelo Becciu que envolveriam negociação da libertação de freiras sequestradas na África, e que terá usado para comprar carteiras e roupas de marca. Também Cecilia Marogna nega qualquer irregularidade.

Eis os protagonistas de um julgamento no Vaticano devido a acções pouco católicas usando dinheiro das doações dos católicos em todo o mundo. Entrentanto, se alguém já viu algo do que aqui está reportado em filmes ou séries é pura coincidência.