2025: Um ano de crescimento económico em Angola, apesar dos desafios mundiais e nacionais
É fundamental que as empresas angolanas adoptem várias estratégias para fortalecerem a sua resiliência. Investir em inovação e tecnologia será essencial para se manterem competitivas, sendo que diversificar o portfólio de produtos e serviços e de mercados (internacionalização) ajudará a mitigarem riscos.
Perspectivar um novo ano é sempre desafiante e complexo, sobretudo quando vivemos tempos de incerteza a nível mundial, marcados pelos conflitos armados, pelas novas tendências de políticas populistas e pelas guerras comerciais.
Apesar deste contexto competitivo e dos desafios enfrentados, em 2025, esperamos assistir a um crescimento económico global de cerca de 3,5% ao ano, impulsionado, ainda, pela recuperação pós-pandemia e pela inovação tecnológica. É expectável que a digitalização continue a acelerar, transformando sectores como comércio, saúde e educação, e que a transição energética permaneça um importante foco, com investimentos estimados em 1,5 biliões USD em energias renováveis e tecnologias limpas.
Um estudo publicado recentemente pela EY demonstra que, apesar de todas as incertezas, 54% de 1.200 CEOs ouvidos considera que as suas empresas não só estão preparadas, como têm estado a antecipar e a ganhar vantagem competitiva sobre os desafios que enfrentam. Outro dado relevante é que 59% desses CEO está, inclusive, a planear concretizar novas aquisições durante este ano. Por isso, mundialmente, não obstante a incerteza, a perspectiva é de crescimento e confiança.
Olhando para Angola, as perspectivas são também animadoras e, apesar dos desafios que se impõem, as projecções para a economia nacional em 2025 são relativamente positivas, ainda que as expectativas do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) variem: se o Governo angolano projecta um crescimento de 4,1%, o Fundo Monetário Internacional (FMI) indica um crescimento inferior, na ordem dos 2,8%.
Este crescimento da economia angolana será impulsionado essencialmente por reformas económicas e investimentos em sectores não petrolíferos, nomeadamente a agricultura, a indústria transformadora e a mineração. No entanto, importa sublinhar que a capacidade de manter a produção petrolífera, ou até de fazê-la crescer, é vital para o crescimento da economia nacional.
As taxas de crescimento projectadas, apesar de positivas, não superam ainda a taxa de crescimento da população, o que mantém uma grande pressão sobre o orçamento e o contexto social do país. A inflação, que atingiu valores elevados em 2024 (cerca de 28%), deverá estar mais controlada, variando, segundo diferentes fontes, entre os 16% e os 19%. Sendo ainda um valor alto para uma economia saudável, contribuirá para um ambiente mais estável para os negócios e consumidores. Ainda assim, a desvalorização cambial do kwanza face ao dólar mantém uma pressão inflacionista, dificultando a descida da taxa. Este contexto macro- -económico, apesar de ter uma perspectiva mais positiva, continua a ser desafiador para atrair investimento, criar riqueza e, consequentemente, acelerar a economia angolana.
Face a este cenário, que apesar de animador, não deixa de apresentar desafios, é fundamental que as empresas angolanas adoptem várias estratégias para fortalecerem a sua resiliência. Investir em inovação e tecnologia será essencial para se manterem competitivas, sendo que diversificar o portfólio de produtos e serviços e de mercados (internacionalização) ajudará a mitigarem riscos. Além disso, capacitarem continuamente a força de trabalho e trabalharem na eficiência operacional, através da adopção de inteligência artificial e captação de novo talento, será igualmente crucial para enfrentarem as mudanças do mercado. Tudo isto sem esquecer o estabelecimento de parcerias estratégicas, que poderá abrir novas oportunidades e fortalecer a posição da empresa no mercado.
Com efeito, mesmo perante toda a incerteza a nível global, existem várias oportunidades de crescimento para Angola. Um crescimento no sector agrícola, conforme mencionado anteriormente, considerando as vantagens do clima favorável, a abundância de água, os bons solos - estamos a falar em cerca de 6 milhões de hectares cultivados em 2021, num potencial de mais de 40 milhões de hectares de terra arável. No sector da mineração, além de ser forte nos diamantes, Angola é rica em ouro, ferro ou rochas ornamentais, tendo potencial para ser um dos maiores produtores de minerais de terras raras e seus derivados. Por sua vez, o turismo, com investimentos adequados, pode ter um crescimento significativo, apresentando um exponencial potencial de criação de emprego. No caso das energias renováveis, destaca-se o potencial hidráulico e solar que um país de 1,3 milhões de quilómetros quadrados tem.
Neste caminho de crescimento da economia angolana, a captação de investimento privado e estrangeiro assumirá também um peso importante. Sem dúvida que Angola apresenta condições para ser um país atraente para investimentos privados e estrangeiros, considerando as riquezas naturais já mencionadas, no entanto, temos ainda desafios a superar. Continua a ser fundamental melhorar o ambiente de negócios, reduzir a burocracia e investir em infra-estruturas para tornar o país mais competitivo. Esses passos são essenciais para atrair mais investimentos e fomentar o crescimento económico.
Leia o artigo integral na edição 811 do Expansão, de sexta-feira, dia 31 de Janeiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
**Carlos Basto Office Managing Partner, EY Angola