As privatizações e a marginalização dos potenciais pequenos investidores
Os pequenos potenciais investidores só estariam em condições de investir se os fundos de investimento estiverem autorizados a investir em "acções" e, por sua vez, serem transaccionados livremente no mercado secundário, a preço de mercado.
Criar processos de privatização de forma a abranger-nos a todos deve ser o apanágio de quem lidera o PROPRIV, com uma visão mais democrática sob o espírito de inclusão social, financeira e até mesmo patriótica. Um processo bem executado e a pensar também nos potenciais pequenos investidores.
Desde há muito, temos estado a dizer que o processo de privatizações do PROPRIV devia corrigir o seu foco, reconhecendo que a força de uma sociedade vem da classe média, que não escolhe raça, etnia, tribo e muitas vezes ultrapassa fronteiras. Esta classe será amanhã o que vier a ser feito hoje.
Analogamente, comparo o processo de privatizações no momento actual a uma grelha de partida da Fórmula 1, onde cada um, na sua posição, está preparado para a largada. Queremos participar no sistema financeiro do nosso país, e contribuir eficazmente para o crescimento da economia nacional, meta que deverá reflectir-se na melhoria das condições de vida das nossas famílias, na educação e na saúde.
Não somos somente elegíveis para nos cobrarem impostos de maneira "impiedosa", inspirados nos copy & past daquelas nações que não foram bafejadas com riquezas, como a nossa querida pátria. Estas oportunidades não voltarão e, se não repensarmos, na correcção do alvo, vamos assustar- -nos, fomos "cassumbulados"!
Não se pode perceber, estando à porta a primeira Oferta Pública Inicial (OPI), que provavelmente será realizada através da venda da participação dos activos do Estado no Banco BAI, não está registado, nem em processo de registo, nenhum fundo de investimento autorizado a investir em acções, quando este é considerado o veículo de venda dos títulos no mercado secundário (mercado onde se transaccionam, entre investidores particulares e institucionais, os valores mobiliários criados no mercado primário), aos que possuem parcos proventos, e estejam dispostos a investir na Bolsa.
Os pequenos potenciais investidores só estariam em condições de investir se os fundos de investimento estiverem autorizados a investir em "acções" e, por sua vez, serem transaccionados livremente no mercado secundário, a preço de mercado, onde, pela volatilidade dos preços, vão no sentido bullish (tendência em alta de um mercado de acções), ou bearish (tendência em baixa de um mercado de acções).
O alargamento da base dos potenciais investidores não compromete o valor que se pretende arrecadar, quando baseado no espírito de uma stock split (as acções passam a ter uma cotação mais baixa, ou seja, a capitalização bolsista não sofre qualquer alteração. Quer dizer, que desmultiplicação do valor nominal das acções representativas do seu capital social). Muitos pequenos fazem grande!
É preciso acreditar, e quanto maior for a inclusão de participantes, melhores perspectivas para o futuro das pessoas que habitam no nosso país, sejam nacionais ou estrangeiras. Impõe-se um alinhamento entre o Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE) e a Bolsa de Dívidas de Angola (BODIVA), para que se retire o espectro de exclusão; social, económica ou financeira, que colide com princípios democráticos.
A BODIVA não pode continuar "adormecida" no negócio dos títulos de dívida pública, há que diversificar mais o seu leque de produtos e melhorar a política de acção para outros segmentos, outros nichos de mercado, sem perder de vista o primado da transparência, da boa governação, segundo os padrões internacionais.
Segundo o relatório da BODIVA, em 2021, cerca de 92% do negócio foi realizado no Mercado de Bolsa de Títulos do Tesouro (MBTT), que correspondem em valor a 895 mil milhões de kwanzas e 8% no Mercado de Registo de Operações sobre Valores Mobiliários (MROV) que correspondem a cerca de 81 mil milhões de kwanzas.
Sinais visíveis, na demanda de mais produtos/serviços, aguardando pela reacção por parte da BODIVA. Portanto, que seja revista a estratégia de privatizações que se tem levado a cabo no nosso país; que se alargue a base de potenciais investidores nos mais variados nichos de mercado; que se proceda ao registo dos fundos que permitirão a negociação de títulos no mercado secundário, para participação dos potenciais pequenos investidores; que se criem incentivos para a entrada de empresas de pequena e média dimensão, habilitando-as para a emissão de títulos financeiros, sendo esta, uma outra forma de financiamento, como alternativa à banca comercial.
Façam o vosso melhor, por esta Angola que nós amamos!