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Perspectivas económicas para 2026 A economia global em transição e o papel emergente de África

Opinião

O ano de 2026 inaugura uma etapa de transição estrutural da economia mundial. Depois de um quinquénio marcado por choques sanitários, geopolíticos e inflacionários, o sistema económico global avança para uma fase de estabilização gradual, ainda permeada por incertezas e assimetrias regionais. De acordo com o Banco Mundial (Global Economic Prospects, Outubro de 2025), o crescimento global deverá situar- -se em 2,7% em 2025 e 2026, mantendo-se abaixo da média histórica da década anterior e reflectindo a persistência de fragilidades estruturais. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) projecta um cenário ligeiramente mais optimista, com 3,1% em 2026, sinalizando uma recuperação moderada, mas sustentada. Esta divergência metodológica reforça uma evidência central: a economia mundial cresce, mas de forma desigual. Enquanto as economias avançadas enfrentam uma desaceleração estrutural, com expansão prevista de apenas 1,8%, as economias emergentes e em desenvolvimento, lideradas pela Ásia e pela África, devem crescer cerca de 3,8%, assumindo o protagonismo da nova fase de crescimento global. Os relatórios do FMI e da Fitch Ratings convergem num diagnóstico claro: a economia entra em 2026 menos exposta a choques inflacionários, porém mais vulnerável à fragmentação comercial, tecnológica e geopolítica. As principais tendências são: l Inflação global em queda para 3,2%, impulsionada pela redução dos preços da ener gia e pela normalização das cadeias logísticas; l Política monetária em fase de distensão gradual, com os bancos centrais (Fed, BCE, BoE) a iniciarem cortes con trolados nas taxas de juro; l Comércio internacional a reorganizar-se em torno de polos regionais (nearshoring e friend-shoring), o que fortale ce blocos como o ASEAN e a AfCFTA, em detrimento de uma globalização plenamen te integrada. Num contexto de realinhamento produtivo, o continente africano consolida- -se como o epicentro da oportunidade. O Banco Mundial estima crescimento médio de 4,3% para 2026-27, enquanto o Banco Africano de Desenvolvimento antecipa 4,0%, destacando a recuperação pós-pandemia e o dinamismo dos mercados internos. Países como Nigéria, Etiópia, Quénia e Angola emergem como polos de diversificação produtiva e integração em cadeias de valor globais. Essa trajectória reflecte tanto o potencial demográfico como o avanço de reformas estruturais orientadas para a industrialização e a inovação tecnológica. Em Angola, as previsões do FMI (Artigo IV, 2025) apontam crescimento de 3,5% em 2026, sustentado pela estabilidade macroeconómica, pela valorização gradual do Kwanza e pelo aumento da produção não petrolífera, em especial nos sectores da mineração, agricultura e serviços. O governo intensifica políticas de atracção de investimento directo estrangeiro, melhoria do ambiente de negócios e reindustrialização leve, pilares que reforçam a transição para uma economia mais diversificada e resiliente. A adesão progressiva à AfCFTA e a modernização do corredor logístico do Lobito consolidam Angola como um ponto estratégico na integração regional da África Austral, promovendo o comércio intra-regional e novas cadeias de valor. A transição energética global é o motor silencioso dessa reconfiguração. A Agência Internacional de Energia (IEA, 2025) prevê investimentos superiores a 2,4 mil milhões USD em energias renováveis até 2026, 70% deles em economias emergentes. A África detém mais de 30% das reservas mundiais de minerais críticos, lítio, cobalto, níquel e manganês, essenciais para a mobilidade eléctrica e para as tecnologias verdes. Angola, ao lado da República Democrática do Congo e de Moçambique, é um factor- -chave dessa geoeconomia dos recursos sustentáveis. O desafio estratégico, porém, é converter essa vantagem natural em valor industrial e tecnológico, com cadeias locais de refinação e manufactura capazes de multiplicar o impacto económico e gerar empregos qualificados. Apesar do optimismo cauteloso, persistem riscos latentes: l Dívida pública crescente, que limita o espaço fiscal de paí ses emergentes; l Volatilidade energética e ali mentar, amplificada por con flitos regionais; l Mudanças climáticas extre mas, com impacto directo na produtividade agrícola; l Fragmentação digital, que pode ampliar a exclusão tec nológica de economias afri canas. Mitigar esses riscos exigirá uma política macroeconómica estruturante, reformas consistentes e cooperação multilateral. O mundo de 2026 será marcado menos pela recuperação do passado e mais pela construção do futuro. A nova economia global define-se pela adaptação, inovação e sustentabilidade. Para Angola e para o continente africano, o desafio está em transformar potencial em performance, e crescimento em prosperidade partilhada. O sucesso dependerá da capacidade de alinhar políticas macroeconómicas à agenda verde e digital, consolidando uma trajectória de desenvolvimento com estabilidade, inclusão e visão estratégica. África, e Angola em particular, têm todos os ingredientes para se tornarem referências globais de crescimento sustentável e inteligência económica, desde que saibam transformar recursos em valor, e valor em futuro. O futuro constrói-se agora!!

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