Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

Juventude quer trabalhar, economia não responde

MILAGRE OU MIRAGEM?

O problema central reside na fraca dinâmica da actividade económica, agravada no período pós-pandemia da Covid-19, e não na falta de vontade dos jovens em trabalhar. Reconhecer este diagnóstico é fundamental para a adopção de medidas eficazes que permitam inverter o actual quadro.

Na Folha de Informação Rápida (FIR) do Inquérito ao Emprego em Angola (IEA) referente ao 3.º trimestre, o INE fez uma actualização metodológica incorporando os dados do último Censo. Como resultado, os principais indicadores do mercado de trabalho passaram a apresentar um quadro globalmente mais favorável.

A taxa de desemprego, por exemplo, recuou 2 pontos percentuais face ao segundo trimestre, passando de 28,8% para 26,9%. Em Angola, o sector da agricultura continua a ser o principal empregador, absorvendo 41,3% da força de trabalho. Segue-se o comércio, com 22,3%. Em contraste, sectores fundamentais para a transformação estrutural da economia, como a indústria, energia e água (7,3%) e a construção (3,9%), continuam a apresentar um peso reduzido no emprego total.

Este facto evidencia não apenas uma fragilidade estrutural, mas também uma oportunidade clara para uma intervenção deliberada da governação, no sentido de dinamizar estes sectores e permitir que absorvam parte da mão-de-obra actualmente concentrada na agricultura.

Outro indicador relevante é a taxa de actividade, que mede a proporção da população em idade activa (15 ou mais anos) que se encontra economicamente activa, isto é, empregada ou desempregada à procura de trabalho. Em Angola, esta taxa permanece muito elevada, situando-se em 88,1% no 3.º trimestre, ligeiramente abaixo dos 89,0% registados no trimestre anterior.

Quando analisada por grupos etários, observa-se que, entre os jovens dos 15 aos 24 anos, a taxa de actividade aumentou de 80,9% no 2,º para 84,1% no 3,º trimestre. Nos grupos etários dos 25-34, 35-44 e 45-54 anos, a taxa supera os 90%. Estes dados contrariam frontalmente o discurso, por vezes recorrente, de que a juventude angolana é "preguiçosa" ou pouco interessada em trabalhar.

Os dados oficiais demonstram precisamente o oposto: os jovens querem trabalhar e estão activamente à procura de emprego. Tal como já foi referido neste espaço em análises anteriores, o sector formal da economia não tem sido capaz de criar postos de trabalho em número suficiente para absorver esta juventude que coloca a sua força de trabalho à disposição do mercado.

Abre-se, assim, um espaço claro para a intervenção do Estado. Num contexto em que a juventude está activamente à procura de emprego, compete à governação desenhar e implementar políticas que, numa primeira fase, dinamizem sectores intensivos em mão-de-obra.

O problema central reside na fraca dinâmica da actividade económica, agravada no período pós-pandemia da Covid-19, e não na falta de vontade dos jovens em trabalhar. Reconhecer este diagnóstico é fundamental para a adopção de medidas eficazes que permitam inverter o actual quadro.

À luz das alterações metodológicas introduzidas pelo INE, analisamos também a evolução do Índice de Sofrimento Económico. Embora se trate de um índice não oficial, e sujeito a críticas por não incorporar variáveis como o crescimento económico, importa sublinhar que o seu objectivo não é medir o desempenho global da economia, mas sim captar a "dor sentida pelo cidadão", através de duas variáveis centrais: a inflação e o desemprego. Trata-se, por isso, de um instrumento útil para manter estas dimensões no centro das prioridades da governação.

No 3.º trimestre, o Índice de Sofrimento Económico registou uma redução de 3,4 pp face ao 2.º trimestre. Contudo, este recuo revela um abrandamento quando comparado com a redução observada entre o 1.º e o 2.º trimestres (ver Gráfico 1).

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo