Ressignificar o porvir de Angola na Era da Inteligência Artificial (2025-2075)
Entre o augúrio e o abismo, a IA perfila-se como cetro e crisol do destino angolano. Mas que não se iludam os incautos: a tecnologia, despojada de equidade, é miragem que promete abundância e entrega deserto. Se a inovação não se imiscuir na raiz do povo, será apenas uma estrela cadente, cintilando por instantes antes de tombar no esquecimento.
Propomo-nos, com este ensaio, instigar os desbravadores do destino angolano - estadistas, empresários, clérigos, economistas, eruditos e demais artífices da polis - a perscrutarem as veredas do amanhã, antecipando desafios e descortinando horizontes inauditos. Urge, pois, sondar os possíveis campos de aplicação da Inteligência Artificial (IA), aferir os vetores propulsores da sua adoção, discernir as fontes de valor que dela emanam e aquilatar as aptidões essenciais para transmutar potencialidades em realidades tangíveis. Neste desígnio, impõe-se um chamamento a África, a Angola, à Igreja, às instâncias governativas, às academias e às empresas, para que, imbuídas de audácia e discernimento, redesenhem a tessitura do futuro que as aguarda nos 50 anos vindouros.
Na epifania do ano de 2025, Davos-Klosters, nos Alpes helvéticos, foi o palco onde se congregaram as mais insignes eminências do orbe para o Fórum Económico Mundial. Sob a égide do lema "Colaboração na Era da IA ", delinearam-se as grandes diretrizes que urdirão o novo tecido da humanidade. Cinco balizas nortearam os debates: "Reimaginar o Crescimento", "Indústrias na Era da IA", "Investir no Capital Humano", "Proteger o Planeta" e "Reconstruir a Confiança".
Neste grandioso conclave, a voz profética de Sua Santidade o Papa Francisco ecoou, através de uma mensagem pungente. Citando o Catecismo da Igreja Católica (n.º 378), recordou que o homem e a mulher são coartífices de Deus na incessante obra de aperfeiçoamento da Criação.
No entanto, advertiu contra a falácia do paradigma tecnocrático, que vaticina uma salvação unicamente forjada no altar do progresso tecnológico, obliterando a dimensão ontológica e ética da existência. Para o Sucessor de Pedro, a IA, se alheada da empatia e da consciência moral, longe de libertar, pode agrilhoar a humanidade a uma lógica de desumanização e servidão maquinal. Nessa senda, impõe-se um apelo veemente a uma sapiência integral, que transcenda a mera racionalidade instrumental e contemple a plenitude do ser humano. Entrelaçam-se, pois, quatro dimensões da inteligência: Mecânica, Analítica, Intuitiva e Empática, que, como pilares de um novo humanismo, devem orientar a concertação entre a máquina e o espírito, entre a inovação e a ética, entre o progresso e a dignidade inalienável do homem (Fig. 1).
Angola e a Geopolítica da Inovação Digital: Angola, ciente das mutações sísmicas que reconfiguram a economia global, fez-se dignamente representar pelo ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, em nome do Presidente João Lourenço. A presença angolana no prestigiado conclave de Davos não se limitou a um gesto protocolar, mas antes a uma afirmação de vulto, um testemunho da sua intenção de assumir um papel estratégico nas grandes discussões sobre recursos minerais, a transição energética e o avanço inexorável da IA. Nos fóruns de debate, a participação de Angola gravitou em torno de temas de vanguarda como "Investimento em Cadeias de Valor de Minerais Críticos" e "Transformar o Comércio Digital num Catalisador do Crescimento em África". Esta presença vinca a determinação do país em deixar de ser mero exportador de matérias-primas para se converter num protagonista da nova economia digital, onde conhecimento, inovação e automação desenham os contornos do poder.
Leia o artigo integral na edição 812 do Expansão, de sexta-feira, dia 07 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)