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Opinião

A economia digital de África e o futuro do trabalho

CONVIDADO

A população africana está a crescer mais rapidamente do que a criação de empregos. A continuação ou a inversão desta tendência terá muito que ver com o facto de o continente vir a gerar prosperidade ou instabilidade nas próximas décadas.

A conjugação apropriada de políticas implementadas com rapidez e eficácia pode transformar a crescente população em idade activa num "dividendo demográfico" no qual os rendimentos aumentam, as famílias conseguem poupar e investir, as cidades proporcionam habitação acessível, a produtividade aumenta e é possível efectuar mais investimentos.

A curto prazo, as reformas sectoriais centradas em sectores de mão-de-obra intensiva, como o agronegócio, construção e microempresas, o apoio direccionado para regiões vulneráveis, a integração regional do comércio para ajudar a desenvolver a indústria transformadora e uma maior diversificação económica podem desencadear um rápido crescimento no emprego. As reformas a longo prazo devem incidir no reforço das instituições, na melhoria das infraestruturas, na aceleração da adopção de tecnologia, e no aumento das competências profissionais que serão fundamentais.

Preparar os jovens africanos para os empregos do futuro

Currículos obsoletos, formação ultrapassada de professores e métodos de ensino antiquados fazem com que os estudantes percam as competências necessárias para enfrentar o mundo actual em rápida mudança. Todos os países que não estejam a proceder activamente a uma revisão profunda dos seus actuais sistemas de ensino correm o ris[1]co de ficar para trás amanhã.

Seguem-se quatro estratégias que as nações africanas devem utilizar para preparar a sua juventude com vista à economia digital e ao futuro laboral:

1-Criar sistemas de educação responsivos

Este processo exige a revisão e actualização dos currículos educacionais nos níveis primário, secundário e terciário. Equipar os jovens com competências técnicas, como a fluência digital, permitir-lhes-á assumir responsabilidades como o código e o design virtual, áreas com grande procura na economia digital. Por outro lado, competências transversais, como a criatividade e adaptabilidade, darão aos jovens a possibilidade de prosperar numa economia digital acelerada, onde o emprego estará provavelmente mais relacionado com breves tarefas online do que com empregos a longo prazo nas instalações de uma empresa.

2- Elaborar políticas destinadas à economia digital

Considerando as incertezas da revolução tecnológica e a inerente susceptibilidade da economia digital à criminalidade informática e aos monopólios, as nações africanas precisam de estabelecer políticas reguladoras que mantenham as partes interessadas em xeque. Estas políticas permitirão criar um ambiente no qual as empresas digitais dos jovens possam crescer e em que as oportunidades de educação e emprego adequadas fiquem acessíveis a todos os jovens. As políticas de promoção da educação para toda a vida nas organizações são também determinantes para ajudar a nossa juventude a adaptar-se facilmente a ambientes voláteis. Por outro lado, a definição de políticas digitais é indispensável para as nações africanas se protegerem contra situações onde os jovens são os perpetradores ou vítimas de roubo de dados e invasão de privacidade, além de outras questões éticas que assolam o espaço digital.

3- Expandir a infraestrutura digital

O desenvolvimento de infraestruturas digitais a nível nacional, em especial redes de fibra óptica, e a melhoria do acesso à electricidade e a dispositivos digitais podem contribuir para melhorar a conectividade dentro das nações africanas. Isto permitirá que mais jovens, nomeadamente os das zonas rurais, tenham acesso à internet de alta velocidade enquanto adquirem e utilizam novas competências - mitigando as desigualdades e optimizando a riqueza partilhada numa economia digital. A ampliação das infraestruturas digitais é especialmente importante porque, em comparação com outros continentes, África tem as ligações à internet mais precárias.

4- Optimizar a cooperação entre sectores público e privado

A colaboração entre os governos, bancos de desenvolvimento multinacionais e o sector privado permitirá abrir espaço para modelos financeiros inovadores que promovam a requalificação dos jovens africanos. Isto reduzirá também as desigualdades provocadas pela duplicação de esforços, especialmente no estabelecimento de infraestruturas digitais nas nações africanas. A cooperação público-privada possibilitará a mais jovens africanos o acesso a programas de formação e infra-estruturas digitais.

Se as nações africanas aderirem às estratégias referidas acima reforçarão as oportunidades da juventude africana para prosperar na economia digital e no futuro laboral. Com uma população jovem devidamente preparada, África poderá progredir rumo à prosperidade e materializar o programa da Agenda 2063 da União Africana, cujo objectivo é transformar África numa potência global. Porém, a implementação das estratégias propostas requererá uma verdadeira vontade política e um compromisso inequívoco por parte dos governos africanos e dos seus cidadãos.