Uso dos canais digitais cresce mas longas filas nos ATMs continuam
Grande parte das relações de consumo na economia nacional ocorrem no mercado informal, onde os pagamentos são na quase generalidade feitos em dinheiro vivo, o que coloca uma forte pressão nos ATMs.
Apesar do crescimento exponencial do uso dos canais digitais ainda se notam as tradicionais filas nos ATMs no final e início de cada mês. Os ATMs são actualmente o terceiro canal mais usado da rede multicaixa com cerca de 260 milhões de operações no primeiro semestre deste ano, um crescimento de 8% em relação ao período homólogo, ficando atrás do Multicaixa Express (895 milhões) e dos TPAs (327 milhões), que ocupam a primeira e segunda posição.
Mas apesar de ter perdido o primeiro e segundo lugar de canal mais usado pelo cliente bancário, os ATMs ainda são o segundo canal que mais movimenta dinheiro na rede Multicaixa, com 31% dos montantes globais. No primeiro semestre movimentou pouco mais de 6 biliões Kz, mais 15% em relação aos 5 biliões Kz do ano passado. Isso devido a alguns clientes que ainda consideram este como sendo o canal mais seguro para efectuar transacções financeiras, principalmente quando se tratam de valores mais avultados, considerando também o crescente número de burlas.
Para o presidente da Associação Angolana de Defesa do Consumidor de Serviços e Produtos Bancários (ACONSBANC), Nelson Prata, as longas filas nos ATMs continuam porque, se por um lado temos um novo perfil de cliente bancário, que tem uma preferência pelos canais digitais o antigo perfil ainda é a maioria. "Ainda temos uma grande franja de clientes bancários que são pessoas com pouca instrução. Temos dois segmentos diferenciados", explica.
Alám disso, grande parte das relações de consumo na economia nacional ocorrem no mercado informal onde os pagamentos são praticamente todosfeitos em cash, o que também coloca uma forte pressão nos ATMs.
Muitos clientes que ainda não usam os canais digitais (que representam a maioria) continuam a recorrer aos ATMs para fazerem consultas e outras operações além de levantamentos, operações que fariam com maior rapidez por via dos canais digitais.
Para se ter uma ideia, o número de consultas na rede Multicaixa (que engloba as operações em ATMs, TPAs, Multicaixa Express e Internet Banking) cresceu 65%, ao sair de 447,5 milhões de operações no primeiro semestre do ano passado para 739,6 milhões entre Janeiro e Junho deste ano, e representam 49% das operações totais na rede. Ou seja, em cada 100 operações na rede Multicaixa, 49 são consultas, quase metade. Isso significa que os clientes bancários fazem mais consultas do que, por exemplo, levantamentos e pagamentos.
Logo, para que se observem mudanças neste cenário, Nelson Prata acredita ser necessária maior sensibilização à educação financeira e literacia digital não só por parte do Banco Nacional de Angola, mas a envolver os bancos comerciais a assumirem essa responsabilidade. As escolas também devem ser agentes da transformação deste perfil comportamental dos clientes bancários, ou seja, não passa só pelo sistema financeiro em si, mas pelo sistema de educação como um todo.