Comunicação institucional
A forma como se gere a comunicação institucional do País como um todo é que pode ajudar, ou não, à resolução dos problemas ou à projecção das vitórias. Se se mantiver esta opção de a comunicação oficial alimentar um mundo virtual, onde tudo está bem, onde ninguém comete erros, onde as pessoas são sempre exoneradas por conveniência de serviço, com um excessivo culto da personalidade, torna-se depois quase impossível diferenciar aquilo que é propaganda e o que são na verdade "coisas boas".
A questão da comunicação institucional do governo é seguramente uma prioridade. O decreto foi aprovado, agora trabalha-se na sua implantação e na escolha de um porta-voz, que deverá assumir a responsabilidade de comunicar e esclarecer com regularidade os órgãos de comunicação nacionais e internacionais. A forma como isso for feito será decisiva para os resultados que um projecto destes deve alcançar. Se a opção for a linguagem cor de rosa do "tudo bem", dos "melhores e maiores de África", de anunciar apenas os factos positivos e de forma adjectivada, de ver o copo meio vazio sempre cheio, rapidamente cai-se numa "linguagem TPA", de propaganda, sem credibilidade e dificilmente trará mais valias para a imagem do Executivo e, por consequência directa, do País.
Angola tem problemas, claro que tem. Tem debilidades estruturais, sim. Tem problemas de gestão e competência em vários ministérios e instituições públicas, obviamente. Tem uma prática pouco democrática e pouco inclusiva na forma de governação, que é transversal a todas as esferas de poder, pois é assim desde sempre. Mas também coisas boas, únicas. Passos bem dados, projectos de sucesso, evoluções óbvias em quase todos os sectores, nisso estamos todos de acordo.
A forma como se gere a comunicação institucional do País como um todo é que pode ajudar, ou não, à resolução dos problemas ou à projecção das vitórias. Se se mantiver esta opção de a comunicação oficial alimentar um mundo virtual, onde tudo está bem, onde ninguém comete erros, onde as pessoas são sempre exoneradas por conveniência de serviço, com um excessivo culto da personalidade, torna-se depois quase impossível diferenciar aquilo que é propaganda e o que são na verdade "coisas boas".
A comunicação institucional do governo deve ter uma linguagem simples, o mais prática e directa possível, assumir que todos os temas são temas, sem assuntos proibidos, sem passar a ideia que há coisas que se discutem apenas atrás das cortinas. Fingir que não aconteceu, passar por cima dos "muximos" com mais "muximos", não ajuda. E nesta fase é preciso não esquecer que esta deve ser feita para os cidadãos angolanos, mas também para a comunidade internacional que tem os olhos no País.
Uma das coisas que verdadeiramente me incomoda é quando os embaixadores ou representantes das instituições internacionais em Angola nos ligam a perguntar afinal o que é isto ou aquilo. O que é que significa determinada notícia, quais são os projectos que determinado ministro tem, ou se aquela declaração de um nosso governante é mesmo verdade. Se temos dados que deveriam ser públicos mas que as instituições não lhes fornecem. Se se pode acreditar nesta ou naquela medida, neste ou naquele plano apresentado de forma pomposa e exuberante.
Por isso é urgente e prioritário que o governo tenha uma comunicação institucional séria, credível. Para que todos possamos acreditar nas explicações. Recuperar a confiança dos angolanos nos pronunciamentos oficiais é um caminho longo e difícil, eu sei, mas tem de ser feito. E desde já. Com humildade, transparência e verdade!