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Opinião

Eleições gerais (4)

EDITORIAL

Fazer acções ou projectar discursos apenas para os militantes, para aqueles que vão sempre votar no partido, apesar da satisfação pessoal do aplauso e do endeusamento, acrescenta muitos poucos votos aos números finais.

Estamos a 74 dias das eleições gerais. As movimentações das principais forças políticas estão a arrancar, com o partido no poder mais organizado, beneficiando na máquina do Estado e da possibilidade de mostrar obra. Que foi devidamente planeada para ser apresentada pouco a pouco, província a província, num trajecto que já começou há cerca de três semanas. E na verdade existe obra para mostrar, o que facilita a estratégia.

No entanto parece-me importante a forma como isto será feito. Exactamente porque o MPLA precisa de comunicar para um enorme grupo de indecisos, muitos que até já votaram pelo menos uma vez no partido, mas que depois acabaram por se desencantar, ou simplesmente deixaram de acreditar. Mas neste grupo de indecisos está também uma faixa muito importante, os que não se revêm em nenhuma força política, que pensam abster-se, mas que podem também à boca das eleições, decidir por votar no "menos mau". E neste aspecto há dois argumentos opostos - manter para garantir a segurança ou mudar porque pior não pode ficar.

Cabe acrescentar que fazer acções ou projectar discursos apenas para os militantes, para aqueles que vão sempre votar no partido, apesar da satisfação pessoal do aplauso e do endeusamento, acrescenta muitos poucos votos aos números finais. Só mais um aspecto que não se deve descurar, estão neste grupo indecisos muitos que podem ser influenciadores de opinião, e que na verdade, não valem apenas o seu voto.

Já a Oposição, se quiser ganhar, vai também que falar para este grupo. Tem também que trazer ideias, projectos, um discurso positivo e soluções. Se não gerar confiança, não vai conseguir aproximar-se desta faixa. E também não pode deixar levar pela ideia que apenas o descontentamento ganha eleições, que o discurso do "contra tudo e contra todos" pode agregar nesta zona da abstenção. Mais do que se queixar repetidamente das condições que não são iguais para todos, tem que arranjar soluções para comunicar com as pessoas.

Tem que ter um discurso positivo, entender as condições do processo eleitoral e abandonar o "fantasma" da fraude. Como não tem obra para apresentar, vai ter que capitalizar nos erros do Governo e do partido no poder, mas sem a ter a mesma postura. Não se pode criticar a arrogância de forma arrogante, se me faço entender. Acreditar que se ganha, não é procurar já justificações para uma possível derrota.

No limite, parece-me que os cidadãos são hoje mais atentos e mais elucidados, que já não embarcam naquelas estratégias propagandísticas do passado, e quem tratar os angolanos com mais respeito e tiver as melhores propostas, vai acabar mesmo por ganhar. Eu acredito nisso e acredito na democracia.