A intolerância é uma das armas da ignorância. Por questões que todos entendemos, radicalizar o discurso evita a argumentação e esconde as debilidades do conhecimento. A capacidade intelectual fica menos exposta e até parece que se domina determinada matéria ou assunto, quando na verdade apenas se emite repetidamente os mesmos chavões, aplicados em qualquer situação, na lógica de nós temos razão e, por isso, não temos de explicar ou sustentar.

Mas a intolerância tem sempre agarrado o conflito. Que pode descambar em violência ou em separações inconciliáveis. E isso assiste-se, cada vez mais, no seio da nossa sociedade e não apenas nas redes sociais, como alguns querem fazer crer. Esta onda de crispação é estratégica, pensada por aqueles que estimulam o grupo de coristas que está sempre disposto a trocar a pouca dignidade que ainda têm, por mais umas benesses.

É assim, dos dois lados da barricada, numa altura em que o "monstro" se está a levantar para mostrar aos "não-alinhados" quem é que manda. Podem alguns dizer que por detrás de tudo isto está a defesa de uma determinada ideologia. Sinceramente, parece-me que não. Apenas a defesa do "status quo". O medo de perder as mordomias para os incompetentes é um drama e é isso que muitas vezes estimula a acumulação, o roubo, a corrupção. A pequena, claro! Porque a grande é estudada e preparada, por aqueles que circulando pelas mesmas estradas durante muitos anos, embora em sentidos e direcções diferentes, de acordo com os tempos, têm a noção de todo o enredo da história. Mas não são eternos, apesar do sentimento de impunidade que possam desenvolver.

A intolerância também é perigosa. Porque é um acto de egoísmo, de assunção interior que os outros, ou a sua opinião, não contam. Leva a uma atitude de desprezo para com os que estão à volta, acaba com o sentimento de solidariedade e de aceitação da diferença e, claro, leva à pobreza e à miséria dos mais fracos. Dos "outros".

Hoje é mais fácil perceber o que aconteceu ao País. Perceber as oportunidades que se deitou fora sem qualquer justificação que não fosse exactamente essa, intolerância e incompetência. Valeu a pena? Claro que não! Estamos condenados? Claro que não! É possível vencer a intolerância? Claro que sim, se não deixarmos que nos atirem para essa maré. E isso começa com os que estão mais próximos de nós, na nossa casa e no nosso emprego. Vamos valorizar os outros e aquilo que eles pensam, mesmo que sejam diferentes de nós. Dar muito mais importância ao que nos une do aquilo que nos separa. Quem sabe se isto não muda...

* Excepcionalmente, a edição desta semana será distribuída na quarta-feira, dia 10 de Novembro, tendo em atenção o feriado que comemora o 46º aniversário da nossa independência.