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Opinião

"Objectivo para 2024: Aumentar a produção de alimentos em Angola"

MILAGRE OU MIRAGEM?

A grande diferença entre a África e a Ásia, no que toca ao aumento da produtividade na agricultura, tem, também, muito a ver com o investimento feito pela Ásia na construção de canais de irrigação. Em países como a Tailândia e o Vietname, é notável o aproveitamento que é feito aos rios de grande caudal. Em Angola temos conhecimento do investimento feito em perímetros irrigados, mas que infelizmente a operacionalidade tem deixado muito a desejar. Como resultado, a produtividade nesses perímetros irrigados é muito baixa.

A história do desenvolvimento dos agora países ricos ensina- -nos que para um país atingir um alto nível de desenvolvimento é preciso que haja uma liderança forte e visionária, capaz de inspirar tudo e todos à sua volta para o alcance dos objectivos bem definidos. Existe um provérbio umbundo "Kavakwete ungombo, kosimo kavyendi"(1), traduz-se para "Os bois que não têm pastor, não vão à nascente de água", que reflecte o que acabamos de apresentar. Afinal, tal como os bois que por si só não vão à nascente de água, a história ensina-nos que nenhum país do mundo saiu de pobre para rico, deixando este processo de transformação económica entregue única e exclusivamente às forças do mercado, quem disser o contrário estará a mentir!

Em nosso entender, não basta os bois terem um pastor, é preciso que este pastor conheça o caminho para a nascente de água, de preferência um que seja menos tortuoso. Então, qual é o caminho que os países, hoje ricos, seguiram para alcançarem um alto nível de desenvolvimento? Ora bem, o que história mostra é que foi através de um aumento de produtividade no sector da agricultura, combinado com um rápido processo de industrialização. Duas coisas que Angola não tem conseguido fazer de forma sustentável, apesar das várias iniciativas governamentais ao longo destes 48 anos de independência e 21 de paz. Notem que o aumento da produção (e posterior distribuição) de alimentos tem impacto na saúde (reforça o sistema imunitário), educação (as crianças deixam de faltar as aulas) e qualidade de vida.

Angola investiu muito na produção de energia e água nos últimos anos e o discurso político indica que a aposta deverá ser, agora, na construção de linhas de transporte de energia. Todavia, é importante que estas duas utilidades básicas cheguem lá onde existe alguma produção. Isso porque é um facto, e como tal deveria ser uma preocupação da governação, que os agricultores familiares, que as estatísticas apontam como sendo responsáveis por 90% da produção agrícola no País, praticam uma agricultura de sequeiro, deixando-os muito dependentes das quedas pluviométricas. Isso acaba por ter um impacto negativo na produtividade dos nossos produtores, especialmente quando sabemos que esta actividade não tão mecanizada. Nós constatamos este problema num trabalho de campo feito na região da Huíla e Cunene. Em Namacunde, Cunene, vimos uma chimpaca que abastece cerca de 3 bairros, serve o gado, restando pouca água para irrigar as lavras. Assim não se cria segurança alimentar. Na Chibia ouvimos de uma agricultora uma constatação que deveria merecer a atenção dos governantes angolanos "Não se consegue combater a pobreza, fome e êxodo rural sem água".

A grande diferença entre a África e a Ásia, no que toca ao aumento da produtividade na agricultura, tem, também, muito a ver com o investimento feito pela Ásia na construção de canais de irrigação. Em países como a Tailândia e o Vietname, é notável o aproveitamento que é feito aos rios de grande caudal. Em Angola temos conhecimento do investimento feito em perímetros irrigados, mas que infelizmente a operacionalidade tem deixado muito a desejar. Como resultado, a produtividade nesses perímetros irrigados é muito baixa.

Para os municípios sem perímetros irrigados, mas que possam ter cursos de água permanente pensamos que um programa como o PIIM, que visa melhorar a qualidade de vida nos municípios, precisa fazer a diferença. Em nosso entender, o PIIM para além de estar virado para a construção de infraestruturas sociais, tem que assegurar infraestruturas que possam servir para fomentar novos projectos de investimentos no sector produtivo. A construção de canais de irrigação permite criar empregos no processo de execução da obra, e abre espaço para que o sector privado faça novos investimentos.

A aposta na construção de linhas de transporte de energia por parte do Executivo só terá um impacto positivo se a energia (e água) chegar nas zonas de produção. A energia é importante para que os produtores possam adoptar novas tecnologias e produzirem a um custo muito mais competitivo. Ela também pode fomentar o surgimento de unidades fabris. Notem que estas indústrias não precisam estar limitadas à transformação do que se produz no campo. Pelo contrário, deve ser encorajado o surgimento de investimentos, numa 1ª fase, que visam a montagem (para posterior produção) de máquinas e equipamentos que promovam o tão desejado aumento de produtividade no sector agrícola.

É esta combinação de esforço, disponibilizando energia nas zonas de produção, construção de canais de irrigação, montagem de máquinas e equipamentos, que vai assegurar a redução sustentável dos preços da classe de bens alimentares, melhorando substancialmente a qualidade de vida dos angolanos. Pelo que, para 2024 desejamos que o Executivo tenha apenas um único objectivo: disponibilizar energia e água para aumentar a produção de alimentos em Angola.

1 https://mweto.wordpress.com /2013/08/27/proverbios-em-umbundu/

Leia o artigo integral na edição 758 do Expansão, de sexta-feira, dia 12 de Janeiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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