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Opinião

Pensar País

Editorial

A banca comercial tem de dar uma ajuda à política cambial. Com o Kwanza estabilizado e o diferencial com o mercado informal a diminuir, os bancos têm obrigatoriamente de reduzir as taxas e as "alcavalas" que cobram no acesso às divisas e nas transferências para o estrangeiro.

Ao "empurrar" os clientes a voltarem ao paralelo, com o gap actual sai mais barato para pequenas operações comprar dólares na rua do que fazer uma transferência para o estrangeiro pelo circuito bancário, corre-se o risco de a bola da especulação voltar a rolar.

Apesar de um maior controlo, esta coisa da lei da oferta e procura no paralelo acaba mesmo por funcionar, e rapidamente pode tornar-se em especulação, voltando a empurrar a moeda nacional para baixo. Neste sentido, faz todo o sentido o BNA avançar com limites obrigatórios para as operações cambiais, que depois de juntar todas as taxas e impostos, não deveria ultrapassar os 5-7%, do câmbio de referência. Embora não seja a sua vocação nem a sua função, pede-se aos bancos comerciais um pouco de solidariedade com a política cambial do banco central. Por um bem comum.

Não se trata de uma medida simpática, até porque o negócio bancário assenta há muitos anos nos títulos e nos cambiais. Para os primeiros já existem regras que limitam o apetite pelos títulos e para as obrigações, para os segundos, também devia limitar-se administrativamente essa vontade. Pode argumentar-se que essa é uma questão em que deve deixar-se actuar o mercado, mas a verdade é que apenas a concorrência não resolve este desequilíbrio. E falamos em desequilíbrio porque a captação de poupança e a concessão de crédito deviam ser os pilares do lucro da actividade.

Aliás, a banca passa, ou vai ter de passar, por mudanças que serão certamente dolorosas para alguns. A lei das instituições financeiras e, mais recente, o código do governo societário obriga a alguns investimentos, em pessoas e meios, mas também em alterações de processos e mudanças de hábitos. Isso também tem custos, naturalmente. Não será um ano fácil para a banca comercial, mas também não o será para a maioria dos angolanos.

A um ano das eleições, o Governo vai naturalmente "trazer" mais dinheiro para a economia, possivelmente vão abrandar algumas das medidas restritivas em 2021, o FMI também vai sair se não houver prorrogação do programa de financiamento, haverá menos controlo da aplicação de capitais, possivelmente a dívida bilateral vai crescer, com todos os inconvenientes que isso arrasta. Há um terreno mais propício para voltarmos a desequilibrar os índices macroeconómicos, e as principais instituições financeiras privadas, apesar da sua missão e negócio, vão ter de pensar País.

Mas os exemplos têm de que vir de cima, se todos sentirem essa tendência, se todos acreditarem que todos estão a pensar País, então os apetites serão mais comedidos e os ganhos serão maiores para todos. É também importante ouvir o que cada um pensa, que exista oportunidade de exprimir a opinião, que os principais operadores sintam que estão a ser ouvidos e que se envolvam numa estratégia global.