A relação entre medicina natural e a medicina convencional esteve em debate nas II Jornadas de Ciências Farmacêuticas da Universidade Jean Piaget de Angola, que decorreram nos dias 9 e 10 do mês em curso, sob o lema O desafio da medicina natural a respeito da medicina convencional em Angola.

O naturopata Ricardo Ngaye defendeu que as grandes riquezas e os múltiplos princípios medicinais são infinitos. Só conseguimos explorar as capacidades medicinais das plantas, mas são inúmeras. Podemos encontrar plantas com mais de 200 princípios [nutrientes] capazes de influenciarem uma determinada terapia, referiu.

Ricardo Ngaye, que é também vice-presidente da Associação de Medicina Natural, estima que no continente africano haja mais de 6.500 espécies de plantas medicinais, das quais mais de quatro mil com propriedades comprovadas.

Em África, 80% da população faz tratamentos com medicamentos naturais, 90% com medicamentos homeopáticos originários de plantas medicinais, e 30% dos medicamentos convencionais vêm de plantas medicinais. Desde há muitos anos que as plantas são dos principais e, nalguns casos, os únicos meios disponíveis para tratar enfermidades, incluindo na medicina tradicional, disse.

O vice-presidente da Associação de Medicina Natural afirmou que, na época colonial, o conhecimento da terapia tradicional era considerado um não saber, associado a superstições, folclore e obscurantismo. Hoje, há ainda alguma dificuldade para entender as questões que envolvem a medicina natural, tradicional e a convencional. Mas o responsável disse acreditar que o objectivo final deve ser o de reunir todos os recursos para a resolução de problemas de saúde.

O grande problema está na ausência de alguma formação, disse. As dúvidas que ainda existem sobre a medicina natural podem ser fruto de preconceitos subjectivos. Sabemos que não se deve ignorar nenhum tipo de conhecimento. Tudo o que seja útil para a saúde das pessoas é indispensável, alertou.

Conhecimentos renovados dão azo à pesquisa

O vice-reitor da Universidade Jean Piaget, Manuel Correia, destacou a importância das II Jornadas de Ciências Farmacêuticas, que considerou uma oportunidade para renovação dos conhecimentos e progresso da investigação por parte dos participantes.

Manuel Correia disse que, em termos comparativos, as realidades de Portugal, Angola e Brasil, quanto às questões farmacêuticas, são diferentes, sendo que o País ainda está muito atrás, porque começou a lidar com o assunto em 1975, marcando a diferença como desafio à política nacional de saúde.

O vice-reitor afirmou que os desafios actuais consistem em desmistificar e desencorajar os mitos e as superstições em torno da medicina natural, para que sobressaia apenas o campo da investigação científica e a confiança nas suas descobertas. Outros desafios apontados pelo responsável estão relacionados com a depauperação de plantas medicinais raras, devido à degradação ambiental, desflorestação, queimadas não controladas, pastoreio, más práticas agrícolas e o abate de árvores, o que exige a necessidade de criação e implementação de políticas nacionais abrangentes para a protecção e conservação do ambiente e das plantas medicinais.

Neste evento, em que participaram estudantes do curso de ciências farmacêuticas, análises clínicas e enfermagem, também foram abordados temas como Importância da centralização das unidades de esterilização hospitalares em Angola, Gestão e organização das farmácias hospitalares e a A cirrose hépatica.