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"Muitos angolanos ainda não entendem qual é a principal função de uma obra de arte"

UÓLOFE | ARTISTA E DESIGNER

Com uma arte que busca trazer a linguagem cultural africana, o artista está focado na internacionalização e na digitalização. Ao Expansão, Uólofe fala do crescimento tímido do mercado das artes plásticas e da importância de todos terem acesso às artes. A sua exposição no ELA-Espaço Luanda Arte fica patente até 7 de Setembro.

Recentemente, inaugurou a sua exposição individual com o título "Eu sou porque a Libota é". O que está na base deste título?

Trago este título por questionamentos pessoais e também como forma de entender como funcionam as comunidades ou a família africana. Libota é uma palavra em lingala, que significa comunidade. Mas tudo isso parte do meio onde vivo, da minha casa, do meu bairro, na província, em geral, no País. Então, é daí que surge esse questionamento de poder falar um pouquinho da nossa família, especificamente da família Bakongo. São cinco obras que representam simplesmente a mulher e também um pouco dos nossos habitats africanos.

Por que razão se dedicou à cultura Bakongo?

Apesar de não ser de origem Bakongo, mas foi algo que decidi falar um pouco, porque me revejo muito na cultura Bakongo. Sendo que é uma cultura que abrange boa parte de África, então achei melhor falar nas minhas obras sobre a cultura e a comunidade Bakongo no geral.

Como olha para as artes plásticas e visuais em Angola?

As artes plásticas ou as artes visuais em Angola estão num bom caminho, principalmente com a aceitação do público e também com o surgimento das instituições de ensino médio e do ensino superior, que para mim são mais importantes. Muitas vezes, pessoas leigas em artes visuais, pensam que os artistas pintam apenas aquilo que lhes dá vontade, ou seja, que os artistas não têm nenhuma preparação, simplesmente pintam e depois elaboram uma temática. As escolas de artes vêm dar um suporte mais científico, até porque a arte já é considerada como ciência, então essas instituições académicas ajudam-nos a ter um trabalho bem elaborado, uma vez que o trabalho é feito por etapas.

Noutras épocas, os artistas reclamavam do acesso aos materiais de trabalho. Hoje há materiais disponíveis no nosso mercado? Os preços já são mais acessíveis?

Olhando um pouquinho para as artes angolanas, ou seja, para a arte pré-colonial, nós tínhamos outros meios de nos expressarmos, na escultura, em pinturas murais, ou seja, tínhamos várias formas de mostrar o que queríamos transmitir para uma certa comunidade. Com o processo de colonização, a inserção de alguns hábitos e costumes coloniais afectou-nos em vários aspectos, principalmente nos aspectos culturais, onde os artistas passaram a usar outros materiais, como a tela, a tinta acrílica, a tinta de óleo e outros materiais que vieram por intermédio da colonização. Graças a essa mudança - e aqui refiro-me mais à questão da arte contemporânea - acabamos por fazer uma repaginação, ou seja, uma reinvenção na arte, onde o artista tem a possibilidade de trabalhar com quase todo o tipo de material, desde que possua conhecimento sobre as variadas disciplinas da arte.

Os materiais convencionais são acessíveis?

Os materiais convencionais que os artistas usam para a pintura, escultura, são mesmo muito caros: uma tela, uma bisnaga de tinta, não importa se é acrílica ou não, uma bisnaga de óleo, são mesmo materiais caros. Mas o artista tem essa facilidade de trabalhar com qualquer material, desde materiais que podem ser adquiridos numa loja ou até com materiais reciclados. O artista tem várias possibilidades para expressar aquilo que realmente quer.

Há mercado?

No meu ponto de vista, a arte funciona como qualquer outra profissão. É necessário o artista estar incluído em certas ilhas para ter uma certa compra, uma certa aceitação, uma certa divulgação dos seus trabalhos, e a forma mais fácil de um artista conseguir isso é ter representação de uma galerista, ou fazer parte de um clube para ter uma maior expansão artística, fazer divulgação dos seus trabalhos na internet, que vem para facilitar praticamente quase tudo, participar também em residências artistas nacionais e internacionais, e participar em exposições colectivas. Já há muitas galerias, assim como o Espaço Luanda Arte e a Galeria Tamar Golan, específica para artistas emergentes. Lá os artistas acabam por ter uma certa facilitação na comercialização das suas obras. Mas há mercado, apesar de lento. E compradores, há muitos? Em termos de compradores, temos mais compradores estrangeiros, infelizmente, mas também temos um número, que está a começar a evoluir, de instituições angolanas, de compradores, de coleccionadores nacionais, que fazem aquisições em massa.

Os temas abordados também influênciam nas vendas?

Sim, mas depende muito do artista, e o que ele realmente retrata nas suas obras, porque existem aqueles trabalhos um pouco mais críticos, ligados à intervenção social. Esses trabalhos dependem muito dos seus coleccionadores, dos seus compradores e galeris- tas, mas se produzirmos trabalhos mais populares, com uma temática mais leve, algo menos incómodo para questões políticas, esses trabalhos tendem a ter mais aceitação. De qualquer das formas, a arte está ligada a tudo, política, cultura, religião, ciências. Mas o que eu vejo aqui em Angola é quanto mais a tua arte estiver ligada a temas que não chocam muito com questões políticas, mais aceitação tem.

Leia o artigo integral na edição 832 do Expansão, de Sexta-feira, dia 27 de Junho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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