Lixo nos mercados preocupa comerciantes e consumidores por receio que cólera alastre
Numa altura em que Angola enfrenta um surto de cólera, em três províncias - Luanda, Bengo e Icolo e Bengo - salta à vista a acumulação de lixos nos mercados a "céu aberto" do Kikolo e da Estalagem Km12-A. Vendedoras apontam o dedo ao GPL, que por sua vez responsabiliza as comerciantes.
O lixo nos mercados de Luanda é apontado como causa de graves problemas de saúde pública e descontentamento entre os comerciantes e consumidores, que afecta directamente a qualidade de vida da população. E num momento em que o País enfrenta mais um surto de cólera, o que se verifica é um contraste entre as medidas anunciadas e a realidade. Por um lado, o Governo divulga medidas de precaução para conter o surto da cólera, por outro lado, "ignora" o amontoado de lixo em determinadas zonas de Luanda. O director do Gabinete Provincial de Luanda para o Desenvolvimento Económico Integrado, Dorivaldo Adão, assegura que o Governo provincial está preocupado com a acumulação de lixo no interior dos mercados e revelou que está na "calha" um programa de Campanha dos Mercados para acabar com o lixo nestes locais.
O especialista em saúde pública, Jeremias Agostinho, considera que o lixo é um dos maiores problemas de saúde pública no País, uma vez que favorece o surgimento de várias patologias, como a cólera, infecções e doenças transmitidas por insectos e roedores, doenças respiratórias, contaminação das águas, exposição a substâncias tóxicas, além de problemas de saúde mental. "Estes problemas ocorrem com maior frequência quando o lixo não é gerido adequadamente", frisou.
O médico defende que as autoridades locais devem gizar programas eficientes de recolha de lixo em todo território nacional, para prevenir problemas de saúde e proteger o meio ambiente.
Crescimento descontrolado de lixo
Ana Fernandes, nome fictício, é uma das dezenas de vendedoras de legumes que todos os dias compra os seus produtos no Mercado do 30 e "monta a banca" no meio do lixo no mercado da Estalagem Km12- -A. A mulher diz ter enfrentado vários problemas de saúde ao longo dos anos, apontando o dedo ao amontoado de lixo dentro do mercado, um cenário em tudo igual ao que acontece noutros mercados como o Hoji-Ya- Henda e o Kikolo.
Muitas das vendedoras manifestaram ao Expansão o seu descontentamento com o crescimento "descontrolado" do lixo nos mercados, adiantando que esperavam que o pagamento diário que fazem de 300 Kz deveria servir para a recolha de lixo.
"As condições de trabalho que temos aqui no mercado são tão precárias. O lixo atrai pragas e doenças", afirma Ana Fernandes, que pede ao Governo da Província de Luanda que intervenha com urgência para prevenir que a cólera alastre.
Já Marisa Neto, vendedora de peixe seco cabuenha, partilha o seu dia-a-dia com o lixo e a água parada no mercado da Estalagem e relata que tem sido muito comuns as suas colegas estarem constantemente doentes por venderem neste local. "Nós pagamos, diariamente, uma ficha no valor de 300 Kz a um grupo de jovens que pertencem à Comissão de Moradores do Sector n.º 9 Estalagem km 12-A. Infelizmente, não se preocupam com a nossa saúde", lamentou Maria Pedro, que vende hortícolas naquele mercado.
O Expansão apurou que este grupo de jovens que faz as cobranças diárias a centenas de vendedoras pertencemalegadamente à Comissão de Moradores da Estalagem KM 12- A. Do valor que cobram, alegam que 100 Kz são destinados à limpeza do espaço, 100 kz são pela ocupação do terreno e 100 kz da própria ficha, dinheiro que aparentemente todos reconhecem que é entregue à Comissão de Moradores. No entanto, os vendedores dizem que estes jovens apenas varrem junto às bancas, empurrando o lixo para a proximidade, o que acaba por "dar no mesmo"....
(Leia o artigo integral na edição 809 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Janeiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)