Maior barragem do País começa a produzir energia eléctrica em 2017
Julho de 2017 continua a ser o prazo de entrega do maior projecto de engenharia civil e electromecânica do País, que tem como objectivo principal a produção de energia eléctrica no rio Kwanza, 47 quilómetros a jusante do Aproveitamento Hidroeléctrico de Capanda (AHC), em exploração. O Expansão foi ver como decorrem os trabalhos.
Considerado o maior projecto de engenharia civil da história de Angola, o Aproveitamento Hidroeléctrico de Laúca (AH-Laúca) é um empreendimento imponente e estratégico para as ambições energéticas de Angola e para o crescimento socioeconómico nacional.
Homens e máquinas envolvem- se numa simbiose fenomenal, que coloca a obra, nesta fase, a 45% da sua execução. Em causa está a escavação dos túneis de acesso para a tomada de água e de 6 milhões de metros cúbicos de rocha a céu aberto, 1,6 milhões de metros cúbicos de escavações subterrâneas e 21 quilómetros de galerias subterrâneas.
A 'casa de força', a tomada da água, a central de britagem e o muro de contenção das águas, assim como outras estruturas complementares, são uma realidade, mas a grande meta é cumprir os prazos. Já foram implantados 2,6 milhões de metros cúbicos de betão compactado com cilindro e 500 mil metros cúbicos de betão convencional para a construção da barragem principal, com 132 metros de altura.
Para os responsáveis do projecto, nada faz temer que não se realizem as metas, apesar das quedas pluviométricas que caem constantemente na região. As obras compreenderam também as escavações da casa das máquinas, onde a equipa de electromecânica deu início, em Abril último, aos trabalhos de instalação dos equipamentos que compõem a primeira turbina eléctrica, que se espera entre em funcionamento em finais de 2016.
Em termos de infra-estruturas de suporte, o empreendimento possui alojamentos para cinco mil pessoas, uma lavandaria industrial com a capacidade para processar 1.800 peças de vestuário por dia, um refeitório para 19 mil refeições diárias e um posto médico com capacidade de internamento de 12 pacientes e 100 consultas por dia. Laúca é um projecto que dá oportunidades a várias áreas da construção civil - carpinteiros, pedreiros, engenheiros, arquitectos e até economistas.
O mais difícil já passou É já considerado o ponto nevrálgico do Aproveitamento Hidroeléctrico do Médio Kwanza. Espera-se que os primeiros 500 megawatts (MW) entrem na rede nacional de distribuição de energia eléctrica em finais de 2017. Mas, quando o projecto estiver concluído, serão gerados 2.070 MW, o dobro do que é produzido actualmente pela barragem de Cambambe e Capanda.
Num briefing com jornalistas, na semana passada, responsáveis da Odebrecht, empreiteira da obra, explicaram que o difícil já foi feito, mas ainda há um longo caminho a percorrer, visto que a parte final dos trabalhos requer mais perícia - e esperam-se muitas barreiras, sobretudo agora, com a estação chuvosa.
"Estamos a trabalhar num projecto que orgulha não apenas os homens e mulheres que aqui trabalham, mas todos aqueles que acreditam num futuro energético melhor para Angola. E temos a certeza de que, com as equipas envolvidas, vamos entregar a obra ao Governo em 2017", disse Kleriston Acácio, da Comunicação e Imagem da Odebrecht.
Entre o optimismo e os constrangimentos, Kleriston lembrou que, na terça-feira em que visitámos a obra, estava prevista a descida da primeira caixa espiral, mas as chuvas que se abateram sobre a região impuseram um revés no andamento do projecto.
Nada, garantiu, que faça recuar aqueles que acreditam que este pode ser o início da auto-sustentabilidade energética de Angola, que deverá ser uma realidade quando for concluída a mixagem da rede nacional, em 2020, como prevê o Executivo.
Localizada no município de Cambambe, Cuanza Norte, a barragem foi encomendada pelo Estado angolano por 4,3 mil milhões USD, com um financiamento garantido por uma linha de crédito do Brasil. Espera-se que mais de 5 milhões de pessoas venham a beneficiar directamente da iniciativa.
Nova dinâmica em curso A Odebrecht assegura que as obras ganharam um novo fôlego com a chegada de equipamentos electromecânicos, entrando os trabalhos numa fase especial, que corresponde à junção da acção de dois sectores fundamentais do projecto - a engenharia civil e a electromecânica, significando que, cada vez mais, a geração de energia está próxima.
"Em Abril, a primeira parte do tubo de secção foi instalada no poço com êxito. É um ponto importante, pois, cumprindo o cronograma da forma como estamos a cumprir, em 24 meses começaremos primeiros testes para a geração de energia", explicou o responsável. O empreendimento conta com 7.100 trabalhadores, dos quais 10% expatriados.
Destes, 300 são portugueses ao serviço de empresas subcontratadas como Somague Angola, Teixeira Duarte, Epos, Tecnasol e Ibergru. A Somague, por exemplo, tem a responsabilidade de executar as tomadas de água para as seis turbinas da barragem - que será uma das maiores de África -, prevendo concluir os trabalhos em Setembro de 2016.
Ricardo Morais, director de obra da construtora, disse que "apenas cerca de 10% são trabalhadores expatriados, porque estamos a colaborar no esforço de formação do povo angolano". "É complicado, por vezes, gerir este número de trabalhadores, mas, quando há um índice de motivação grande, isso acaba por ser ultrapassado. Trata-se de um megaprojecto, e todos têm muito orgulho em participar, entre nacionais e expatriados", garantiu o director de Produção da Somague, na Laúca, Hélder Ferreira. Celestino Carlos, 29 anos, é natural de Luanda, onde vive. Pai de duas meninas, é um dos milhares de contratados pela Odebrecht para trabalhar na construção da barragem.
Numa primeira fase, foi contratado para um período de 60 dias, em regime de estágio. Mas o ajudante de obra, confiante, ganhou estatuto entre os superiores e hoje é um dos líderes. Não importa a distância. Foi esta a certeza demonstrada por Hélder, de 33 anos, natural do Cuanza Sul, que encontrou em Laúca o seu primeiro emprego.
Deixou, por enquanto, a família e os amigos na terra onde nasceu, e vive como habitualmente, para tratar da sua vida profissional.
Tudo em grande escala
Uma vez concluído, só em betão, o projecto terá consumido o equivalente à construção de 2.800 casas ou cerca de 465 edifícios de oito pisos, explica a Odebrecht.
Os responsáveis de produção na Odebrecht garantiram que a obra avança ao ritmo de 150 mil metros cúbicos de betão compactado por mês e que a formação da mão-de-obra angolana é um ganho da empreitada.
Manuel Cai, engenheiro angolano, reconhece tratar-se de uma obra "imponente, gigantesca", da qual fazem parte "muitos jovens nacionais", e acredita que, quando a barragem entrar em actividade, "todos vão ganhar, porque estão a participar na história deste País". Na obra, referiu, há 56 universitários nacionais, grande parte saídos directamente das universidades para o seu primeiro emprego, e 24 operam como responsáveis.
Segundo o engenheiro, esta construção envolverá 30 mil toneladas de aço nas montagens electromecânicas, o equivalente à construção de cinco torres Eiffel, além de 22 mil toneladas de cimento por mês. Depois de concluída, só o enchimento da albufeira com a água do Kwanza levará quatro meses.
Para muitos trabalhadores, trata-se de uma obra de grande envergadura em que talvez poucas pessoas tenham hipótese de participar, sendo emblemática para todas as empresas e trabalhadores envolvidos. A 400 quilómetros de Luanda, o AH-Laúca pode ser um dos grandes ganhos da independência angolana.
Em termos de alimentação, a opinião é unânime. "Não conseguimos ter aqui a mesma oferta, mas temos um bocadinho de tudo. Tentamos descomprimir como nos meios urbanos, e o pessoal junta-se, após o horário laboral, no ginásio ou no bar", contam.
Muitos estão longe da casa, mas acreditam que o caminho iniciado em 2012 é uma marcha para o desenvolvimento de Angola, por ser uma infra-estrutura que vai mudar a história do País.
Descrição técnica e capacidade de produção
As duas primeiras turbinas da barragem hidroeléctrica do Laúca, com a capacidade de produzir 340 MW cada, começam a funcionar a partir de Julho de 2017, uma meta que vai ser cumprida, garante a Odebrecht. A grandiosidade do projecto e a enorme diversidade de acções que estão a ser realizadas levam a acreditar que a conquista da independência energética é uma realidade e que a maturidade política dos angolanos tem vindo a permitir um crescimento nos diferentes sectores de actividade. Em construção desde 2012, o AH-Laúca comportará uma potência total de 2.070 MW, dividida por duas centrais. A primeira é constituída por seis turbinas do tipo Francis Vertical e a segunda inclui uma central ecológica. Esta estrutura vai manter um caudal mínimo no leito do rio, para garantir a preservação das espécies aquáticas. A barragem, a terceira em construção no leito do rio Kwanza, depois de Cambambe e de Capanda, terá uma albufeira de 188 quilómetros quadrados.