Pobreza extrema aumenta 82% em oito anos e afecta 11,6 milhões de angolanos
O tema não é novo mas os indicadores continuam a indicar que as políticas públicas que estão a ser aplicadas não têm efeito no combate à pobreza extrema, um problema que afecta principalmente os cidadãos que vivem no meio rural, as crianças com menos de 9 anos e quem não tem acesso à água, electricidade ou registo civil.
O fraco desempenho da economia angolana, que continua muito longe do seu potencial, conjugado com a falta de eficácia das políticas públicas na última década e uma explosão demográfica (que já dá sinais de abrandamento), são apenas alguns dos factores que alimentam um cenário preocupante para o presente e para o futuro do País: a pobreza extrema continua a aumentar e, entre 2016 e Janeiro de 2025, cresceu 82%, ao passar de 6,4 milhões de pessoas (22% da população angolana) para 11,6 milhões (31% da população) em situação de elevada carência, de acordo com a plataforma " World Poverty Clock", que actualiza e monitora em tempo real os dados internacionais sobre a pobreza.
De acordo com a referida organização - financiada pelo Ministério alemão da Economia - Angola também faz parte de um pequeno grupo de 12 países do mundo (metade são africanos) - República Dominicana, Colômbia, Venezuela, Gâmbia, Nigéria, Zimbabué, Sudão, Sudão do Sul, Eritreia, Iémen e Afeganistão - onde o ritmo de criação de "novos" pobres continua elevado, ou seja, nestes 12 países há mais pessoas a viver com rendimentos abaixo dos 2,15 USD por dia do que a sair desta condição.
No período em análise, o País viveu uma recessão económica (devido à crise petrolífera e à queda dos preços do barril após 2014) que se estendeu por cinco anos, com o PIB por habitante (ou per capita) a cair 36%: passou de 4.629 USD (2017) para 2.961 USD em 2024, segundo o Banco Mundial. A queda dos rendimentos per capita decorre da excessiva dependência do sector petrolífero e da fraca actividade económica nos restantes sectores, com destaque para a agropecuária, as pescas e a indústria transformadora, que se vão desenvolvendo de forma positiva mas a um ritmo baixo.
Também não é possível fugir aos efeitos económicos e sociais da Covid-19, que surgiu em Fevereiro de 2020 e estendeu-se, com diferentes características, até meados de 2022. Os dados da "World Poverty Clock" demonstram que nos últimos quatro anos a taxa de pobreza extrema em Angola manteve-se entre 33% e 31% da população (ver infografia).
Estes indicadores são elementos importantes para reforçar a monitorização do impacto das acções e políticas públicas que estão a ser implementadas pelo Governo, incluindo os programas de combate à pobreza, que continuam a sofrer com a falta de relevância política, de financiamento adequado, de coordenação entre instituições e de real fiscalização por entidades independentes.
(Leia o artigo integral na edição 809 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Janeiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)