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Angola

Saída dos EUA da Organização Mundial de Saúde eleva riscos de saúde em Angola

ALERTAM ESPECIALISTAS

Seis investigadores angolanos e brasileiros alertam para o agravamento das condições de saúde no País e para os riscos sociais. Aumento da pobreza e perda de produtividade serão algumas das consequências.

A saída dos EUA da Organização Mundial de Saúde agrava os riscos em Angola no sistema de saúde, na detecção de ameaças e a nível social, já que o País depende fortemente desta organização para combater doenças transmissíveis como a malária e o HIV/Sida, bem como ameaças infecciosas emergentes como a varíola ou o vírus ébola, alertam especialistas.

De acordo com um artigo publicado esta semana na revista científica The Lancet, assinado por seis investigadores de universidades angolanas e brasileiras, e consultado pelo Expansão, países como Angola dependem do apoio da OMS para o combate a doenças transmissíveis, onde se incluem o VIH/Sida, a malária a tuberculose, e ameaças infecciosas como o SARS-CoV-2, o vírus da varíola do macaco e o vírus Ébola, iniciativas que dependem do financiamento daquele organismo. "A retirada [dos EUA da OMS] põe em risco os canais de financiamento que fornecem vacinas, sistemas de vigilância e recursos essenciais de cuidados de saúde. Uma ruptura nestes mecanismos poderá levar a atrasos na resposta durante os surtos, à redução da cobertura de vacinação e ao aumento das taxas de morbilidade e mortalidade", refere o artigo.

E acrescenta: "As infraestruturas de saúde de Angola continuam a ter poucos recursos, com uma capacidade limitada para gerir de forma independente crises sanitárias complexas. Os conhecimentos técnicos e os programas de formação da OMS têm sido essenciais para o reforço da capacidade de vigilância epidemiológica e de resposta. Sem este apoio, Angola e outras nações semelhantes poderão ter dificuldade em detectar e mitigar eficazmente as ameaças à saúde, o que poderá ter repercussões a nível regional e mundial".

Já a nível social, as implicações desta retirada dos EUA vão além dos resultados em termos de saúde. "A pressão sobre os sistemas de saúde pode exacerbar a pobreza, uma vez que as famílias se vêem confrontadas com um aumento das despesas directas com os cuidados de saúde e com perdas de produtividade decorrentes de doenças evitáveis. O nível de escolaridade, especialmente das crianças, pode também diminuir à medida que as famílias desviam recursos para os custos dos cuidados de saúde. Estes desafios combinados correm o risco de aprofundar as desigualdades e de comprometer o progresso dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável na região", refere o artigo.

O anúncio da saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde caiu como uma "bomba" no seio da organização que tem 190 países-membros, que pertence à ONU, e que tinha nos EUA o seu maior financiador.

Donald Trump anunciou também a suspensão durante 90 dias toda a ajuda internacional cedida pelos EUA, à excepção dos programas humanitários alimentares e da ajuda militar a Israel e ao Egipto. A USAID é o maior doador individual do mundo, distribuindo assistência que vai desde a saúde das mulheres em zonas de conflito até ao acesso a água limpa, tratamentos para o HIV/SIDA ou segurança energética.

Angola foi o segundo país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que mais ajuda recebeu da Agência Norte- -Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID, em 2023, com um total de 71 milhões USD, longe dos 664,1 milhões USD concedidos a Moçambique. Naquele ano, a USAID desembolsou um total de 72 mil milhões USD, com a maior parte da ajuda (mais de 16,6 mil milhões) a ter sido enviada à Ucrânia

Em Angola, tem trabalhado numa variante de projectos que vão desde a saúde, a ambiente e infraestruturas. No ano passado, os governos de Angola e dos EUA assinaram um acordo para o desembolso de uma primeira tranche de 12 milhões USD para o combate à malária e ao VIH/SIDA, promoção do planeamento familiar e para o denominado programa Mulheres na Agricultura. Este acordo surgiu no âmbito da convenção com Angola para o período 2024-2027, e faz parte de um financiamento total de 235 milhões USD, que não se sabe se irá ser mantido.

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