Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Angola

Lei de Terras não ajudou o registo de imóveis apesar de estar em vigor há 20 anos

PROVEDORIA DE JUSTIÇA REGISTOU 500 CASOS DE CONFLITO EM APENAS SEIS MESES

A legislação introduziu novas formas de propriedade que praticamente não são divulgadas ou reconhecidas pelas entidades públicas. Comunidades rurais, com direitos adquiridos ao nível do costume, continuam sem títulos de propriedade. Provedoria de Justiça incentiva Governo trabalhar na revisão da Lei de Terras.

A aprovação da Lei de Terras, em Novembro de 2004, foi considerada um marco positivo e um avanço na política fundiária do País, sobretudo devido ao reconhecimento da propriedade privada. Mas 20 anos depois, com uma explosão demográfica pelo meio, são poucos os cidadãos e até as empresas que possuem títulos de posse ou direito de superfície sobre as terras onde estão construídas as suas casas e os seus empreendimentos.

Neste momento, (quase) todos os intervenientes estão a perder com esta realidade ao nível do registo de imóveis, que é também um dos sectores mais permeáveis ao branqueamento de capitais, como várias instituições nacionais e internacionais têm vindo a alertar. Em 2009, Angola era o pior país da África Subsariana no que diz respeito à emissão de direitos fundiários (190 dias contra os 7 dias do Ruanda, o país melhor classificado).

O Estado não tem um cadastro único sobre a concessão de terras e, por isso, não sabe o que está efectivamente ocupado, nem que actividades estão a ser desenvolvidas nesses espaços. Também não tem condições para recolher os impostos devidos, mesmo com a criação do Imposto Predial, o que resulta na perda de chorudas receitas fiscais. A ausência de um registo actualizado não permite fiscalizar o sector e abre espaço à prática de crimes e de várias transgressões.

Da classe média para baixo, as famílias não sabem onde recorrer, nem como fazer para aceder a direitos fundiários.

A solução é construir a própria casa (ou arrendar), na maior parte das vezes em condições precárias, à mercê dos poderes públicos e da insegurança jurídica, sem acompanhamento técnico adequado e em zonas desestruturadas, com fraco acesso a infra-estruturas e serviços básicos. Quando a construção do imóvel termina, o registo é a última preocupação, o que tem efeitos perversos na sua valorização e possível utilização como colateral.

No meio rural, o cenário pode ser ainda mais complicado, com a desinformação e o desconhecimento em geral sobre direitos e procedimentos a abrir a porta para todo o tipo de negócios com autoridades tradicionais e servidores públicos menos escrupulosos. É um contexto propício ao surgimento de conflitos de terras, sobretudo quando estão em causa os melhores solos para a produção agropecuária e a extracção de recursos naturais.

Finalmente, as empresas de construção e os promotores imobiliários enfrentam enormes dificuldades para aceder a terrenos onde seja possível investir com segurança jurídica, aumentar a oferta para os vários segmentos e o número de imóveis no País. Esta situação, associada à falta de um cadastro único de registo dos imóveis, também instiga os conflitos de terras nas zonas suburbanas, realidade que foi reconhecida, em Julho e Agosto, pela Provedora de Justiça, Florbela Araújo.

Cacuaco e Viana, centro de conflitos de terra

"Apelamos ao senhor ministro para que divulgue, junto dos governos provinciais, a legislação sobre o Ordenamento do Território e a Lei de Terras para evitar os conflitos e a ocupação ilegal de terrenos. O cidadão ainda tem dificuldade em conhecer os seus direitos e como deve legalizar o seu terreno. Ter acesso ao direito de superfície continua a ser difícil", afirmou Florbela Araújo, citada pelo Jornal de Angola no dia 25 de Julho.

A responsável aproveitou a ocasião para solicitar ao Ministério da Administração do Território (MAT) a "apresentação de propostas de alteração da Lei de Terras e da Lei do Ordenamento do Território, tendo em conta que elas já são antigas, remontam ao ano 2004", acrescentou a Provedora de Justiça.

Mais tarde, em Agosto, à margem de uma palestra sobre "O Papel da Provedoria de Justiça na Resolução de Conflitos de Terras", Florbela Araújo afirmou que, nos últimos seis meses, a instituição que dirige registou cerca de 500 queixas relativas conflitos de terras. Os municípios de Cacuaco e Viana, na província de Luanda, acumulam metade dos casos recepcionados.

"A Provedoria de Justiça vai mediando as situações, com a criação de comissões de mediação, mas outros casos, pela sua especificidade, são encaminhados aos tribunais. Os municípios de Cacuaco e Viana registam 250 casos", revelou a responsável.

Leia o artigo integral na edição 742 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Setembro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo