Falta de apetite dos bancos em financiar o Estado faz disparar crédito
O stock de crédito da banca nacional cresceu 1,8 biliões Kz no passado. Os bancos comerciais têm vindo a reduzir os investimentos em dívida titulada, virando-se para a concessão de crédito como alternativa às taxas de juro negativas que o Executivo pretende.
O stock de crédito bancário registou um crescimento de 29% (mais 1,8 biliões Kz) para 7,9 biliões Kz face a Dezembro do ano passado quando se registou um total de 6,1 biliões Kz, de acordo com cálculos do Expansão com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras publicadas recentemente no site do Banco Nacional de Angola (BNA). Se os valores forem convertidos em dólares às taxas de câmbio médias dos dois anos, o stock de crédito bancário apenas cresceu 3%, equivalente a 240 milhões USD, para um total de 9,1 mil milhões USD.
Mas sem contar com os efeitos da desvalorização, o crescimento do crédito contabilizado em moeda nacional foi maioritariamente impulsionado pelo crédito ao comércio, transporte e armazenagem bem como a particulares, que são as categorias que registaram os maiores aumentos e juntos representam 43% dos 1,8 biliões Kz.
Este crescimento do stock de crédito está directamente ligado ao facto de os bancos comerciais terem reduzido significativamente os investimentos em dívida titulada, uma vez que as taxas de juro praticadas actualmente não são suficientemente apelativas, já que estão muito abaixo da inflação, deixando o Executivo em "maus lençóis", com sérias dificuldades para financiar o Orçamento Geral do Estado.
De acordo com os três relatórios de execução orçamental já publicados pelo Ministério das Finanças, o Executivo apenas conseguiu colocar 1,4 biliões Kz em títulos de dívida pública no mercado interno, o que representa 44% do valor que estava previsto para o período entre Janeiro e Setembro no Plano Anual de Endividamento de 2024, que era de quase 3,3 biliões Kz. E a justificação prende-se com a falta de "apetite" dos bancos em continuar a financiar o Estado a taxas de juro bastante abaixo da inflação que, no final do ano passado, foi de 27,5%. E a solução foi pedir emprestado ao Banco Nacional de Angola.
Esta questão foi até abordada no relatório semanal do BFA de 13 de Janeiro: "O Ministério das Finanças, não estando disponível para oferecer taxas que o mercado consideraria justas, acabou por emitir menos do que esperava. No entanto, o MinFin mais do que compensou financiando-se directamente junto do BNA. Observamos que o financiamento do BNA ao Estado mais do que duplicou entre 2023 e 2024. Como dizíamos, a resistência do Tesouro em elevar as taxas de juros dos instrumentos de dívida pública pelo menos ao nível da inflação retraiu os investidores de dívida titulada, particularmente os bancos, pelo que recorrer ao BNA em meio à significativa redução de influxos de financiamento externo provou-se a alternativa mais viável".
Assim, como investiram menos em dívida titulada, os bancos apostaram mais na concessão de crédito, já que contempla taxas de juro superiores às praticadas pelo Estado. Em termos práticos, este deveria ser o modus operandi normal da banca em Angola, à semelhança do que historicamente acontece fora do País: converter os depósitos dos seus clientes em crédito à economia e às famílias, rentabilizando, dessa forma, o dinheiro dos clientes.
O economista Heitor Carvalho admite que é positivo os bancos começarem a virar-se mais para a economia. "A redução do crédito ao Estado é um bom sinal que obrigará a banca a procurar rendimentos no crédito às empresas, mas as indicações do OGE25 são no sentido de um aumento substancial do financiamento interno, embora sobretudo à custa do BNA. Contudo, com as medidas de crescimento da produção petrolífera da nova administração de Donald Trump, é de prever uma crise nos preços e, consequentemente, nos rendimentos petrolíferos do Tesouro, o que irá pressionar fortemente o financiamento interno do Estado".
38% do crédito bancário foi para comércio e consumo
O comércio é o sector com maior volume de crédito concedido pela banca nacional, representando 20% do stock total, com cerca de 1,6 biliões Kz. Segue-se a categoria de particulares (que pressupõem ser consumo) com um total de 1,4 biliões Kz (18% do total). Além do comércio e particulares, que lideram o ranking, entre os sectores que mais contribuem para o volume do stock de crédito bancário destacam-se também a categoria da indústria transformadora, que representa 10% do total, seguido pela construção com 9% e pela administração pública e defesa e segurança social com 7%.
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