De acordo com os dados publicados pelo INE no Índice de Preços de Consumidor referentes a Agosto, a província de Luanda registou um aumento de 2,82%, enquanto Benguela ficou-se "apenas" por 1,16%, duas vezes e meia menos, o que parece estranho de acordo com aquilo que é a realidade conhecida nas duas províncias.

Também parece estranho que o INE reflicta uma inflação nacional acumulada para os últimos três meses de apenas 5,14% quando houve uma desvalorização cambial de 80% e os preços dos principais produtos alimentares cresceram no mínimo 50%, sendo que esta categoria tem uma ponderação de 55% no valor final do IPC. Também parece estranho, e possivelmente caso único, que os preços nos grossistas tenham crescido durante todos os meses deste ano acima do IPC - o acumulado até Agosto para este segmento é de 11,88%, enquanto que nos retalhistas é de apenas 9,5%. Ou seja, ou os retalhistas estão a baixar as suas margens de comercialização, ou estão a abastecer-se directamente na produção (ou importando directamente) a preços mais baixos que os grossistas. Quer uma, quer outra razão parecem pouco credíveis, pelo que a explicação será possivelmente outra.

A este propósito o Expansão pediu esclarecimentos ao INE sobre os locais e forma de recolha dos preços, os factores de ponderação utilizados, os produtos e os serviços que são utilizados, o número de recolhas que são feitas e a forma como são gerados os resultados finais, mas até ao momento não recebemos qualquer esclarecimento.

Números do INE

Olhando apenas para os números publicados relativos a Agosto, o IPC nacional cresceu 2,04%, sendo que a inflação homóloga é agora de 13,54%. Para a província de Luanda os valores são superiores: a inflação de Agosto é de 2,82% e a homóloga está nos 15,36%. A manter-se o ritmo dos últimos três meses, pode projectar-se que a inflação nacional fechará 2023 com um valor perto de 18%, e que em Luanda este valor poderá ultrapassar os 22%.

A grande novidade em Agosto é o aumento da classe "Educação", que cresceu 6,19% na média nacional e 5,90% em Luanda. Se tivermos em linha de conta que o decreto do Ministério da Educação prevê que o aumento das propinas para o ensino privado pode neste ano lectivo chegar até aos 10,66%, é de prever que no mês de Setembro esta classe tenha um acréscimo maior. A segunda categoria que mais cresceu em Agosto foi "Saúde", mais 2,37% na média nacional e 3,27% em Luanda, seguindo-se "Alimentação e bebidas não alcoólicas" com 2,19% em termos nacionais e 3,5% na província de Luanda.

A diversidade da evolução do IPC por província não é explicada na apresentação de resultados, mas se olharmos para aquilo que aconteceu desde o início do ano, a única linha comum é que Luanda tem apresentado sempre valores acima das restantes províncias. Existem depois valores que têm uma diferença tal que se torna difícil de entender. Por exemplo, os preços da classe "Educação" cresceram entre Junho e Agosto, na Lunda Sul, 33,41%, na Huíla foi de 22,91%, enquanto que no Cuando Cubango e no Cunene não tiveram qualquer alteração.