Após euforia da entrada do BFA na bolsa, mercado de acções volta a abrandar
Entrada em bolsa do banco que mais distribui dividendos gerou uma euforia no mercado, que por arrasto valorizou as acções das quatro empresas cotadas em bolsa. A BODIVA impede que acções possam variar mais de 25% por sessão. Especialistas explicam que o desafio não deve ser apenas atrair investidores, mas garantir que o investimento seja feito com base em fundamentos e não apenas em expectativas de curto prazo.
O Mercado de Bolsa de Acções (MBA) viveu dias eufóricos com a entrada do BFA , impulsionando ganhos para os investidores das outras quatro empresas cotadas, que chegaram a máximos históricos registados na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA).
Na base está a alta expectativa dos investidores em torno das acções do banco que mais distribuiu dividendos ao longo dos últimos 10 anos (BFA), especulação, e o facto de o mercado de capitais angolano registar um número significativo de investidores com reduzido nível de conhecimento, o que, por si só, contribui para grandes movimentações no mercado, tendo em conta que muitas decisões continuam a ser sustentadas pela euforia do momento. A isto acrescenta-se o facto de o rateio ter sido de apenas 19,8%, pelo que os investidores ficaram com uma disponibilidade financeira de 80,2% do capital que tinham canalizado para esta operação.
As acções do BFA foram admitidas, no dia 30 de Setembro, a um preço final da OPV de 49.500 Kz por acção, seis dias depois (concretamente a 6 de Outubro) estas atingiram os 124.000 Kz, valor mais alto de sempre registado na BODIVA, o que representa uma valorização de 151%. Esta terça-feira, as acções fecharam nos 121.000 Kz, ou seja, desvalorizaram 2%.
O BAI, empresa que inaugurou o mercado de acções com a venda de 10% das acções detidas pelo Estado no banco, viu as suas acções admitidas em bolsa ao preço de 20.640 Kz, e a 29 de Setembro (um dia antes da admissão do BFA em bolsa) estava cotado em 90.000 Kz por acção. Registou um crescimento de 34% para 120.850 Kz, no dia 03 de Outubro, a cotação mais alta desde a sua entrada em bolsa. De lá até 14 de Outubro, o preço das acções caíram 16% para 102.000 Kz.
Já as acções do BCGA valorizaram 99% ao passar de 15.600 Kz (no dia 30 de Setembro de 2025) para 31.000 Kz, a 10 de Outubro, registando o pico da sua cotação. Esta terça-feira, as acções do segundo banco cotado em bolsa fixaram-se em 27.000 Kz, o que corresponde a uma desvalorização de 15%.
A seguradora ENSA, que se tornou a terceira empresa cotada em bolsa, atingiu um pico de 44.500 Kz no dia 09 de Outubro, quando a 30 de Setembro valiam 26.000 Kz, o que representa um aumento de 71%. Esta terça-feira uma acção já só valia 39.000 Kz.
A BODIVA, por sua vez, viu o preço das suas acções passarem de 32.000 Kz (a 30 de Setembro) para um pico 61.000 Kz, no dia 10 de Outubro, uma valorização de 91%, em 10 dias. Esta terça- -feira já só valiam 57.003 Kz.
Para o gestor de mercados do Standard Gestão de Activos, Giovanni Peliganga, o que se verificou nas últimas duas semanas, é, em parte, um reflexo de um mercado ainda jovem, com reduzido número de emissores e liquidez limitada. "Nesses contextos, qualquer aumento súbito na procura pode provocar movimentos de preço desproporcionais", explica.
Assim, Giovanni Peliganga entende que o investidor angolano, no geral, ainda está a ganhar familiaridade com os mecanismos do mercado de capitais. "Nesse processo é natural que surjam episódios de euforia e decisões movidas mais pela emoção do que pela análise. O comportamento que vemos hoje não é muito diferente do que aconteceu em outras bolsas africanas nos seus primeiros anos. A maturidade do investidor virá com o tempo, com mais transparência, mais informação e, sobretudo, com educação financeira", explicou, acrescentando que o desafio do mercado não deve ser apenas atrair investidores, mas garantir que o investimento seja feito com base em fundamentos e não apenas em expectativas de curto prazo.
Já um analista financeiro ligado ao mercado (que não quis ser identificado) aponta que actualmente, o mercado de capitais angolano apresenta, ainda, um conjunto significativo de investidores com reduzido nível de conhecimento, o que, por si só, contribui para grandes movimentações no mercado, "dado que muitas decisões de investimento continuam a ser sustentadas, sobretudo, pela euforia do momento".
"Não obstante, não se pode descartar a possibilidade de, em alguns casos, o preço ser influenciado de forma intencional, considerando que, com a negociação de uma única acção, a cotação da acção pode ser totalmente afectada na bolsa", admitiu.
Por sua vez, o CEO da Sociedade Distribuidora de Valores Mobiliários Kyros - SDVM, Mariano Ferreira, descreve que as valorizações acentuadas que se têm verificado no mercado de acções são pouco comuns em mercados mais consolidados, sobretudo quando analisadas sob a óptica dos fundamentos tradicionais do mercado de capitais. "Em mercados mais consolidados, esse tipo de comportamento é geralmente justificado por factores mais concretos e visíveis, como a perspectiva de crescimento financeiro significativo e consistente, anúncios de expansão, abertura de novas linhas de produto ou negócio, melhoria de rating ou alterações relevantes no sector económico em que as empresas actuam", o que não se verificou neste caso.
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