Fábrica de fertilizantes vai cobrir apenas 23% do mercado
Será a primeira do País, tem uma capacidade de produção de 180 mil toneladas por ano, sendo que as necessidades actuais do mercado estão estimadas em 800 mil ton/ano. Resulta de uma parceria entre a empresa australiana Minbos e a FertiÁfrica do grupo Noble, com inauguração prevista para Outubro
Vai ser inaugurada em Outubro a primeira fábrica de fertilizantes do País, um investimento de 18 milhões USD, no seguimento de uma parceria entre a australiana Minbos, que actua no campo da prospecção de fosfato em Cabinda, e a FertiAfrica do Grupo Noble. O investimento foi feito com base em recursos próprios do consórcio, sendo que a unidade industrial está praticamente pronta para operar. No auge da sua produção, nos próximos dois anos, vão ser criados cerca de 300 postos de trabalho directos.
A infraestrutura está localizada na província de Benguela e vai produzir 180 mil toneladas de fertilizantes por ano, suficientes para cobrir apenas 22,6% do mercado, segundo cálculos do Expansão face às 800 mil toneladas de fertilizantes anuais necessárias hoje para abastecer o mercado.
O acordo entre as duas empresas vai permitir a utilização de matéria produzida na província de Cabinda, nomeadamente fosfatos, através da Minbos para a produção de fertilizante na unidade fabril FertiÁfrica. A infraestrutura vai inicialmente produzir fertilizantes fosfatados, mas à medida do desenvolvimento da actividade vai ser possível também adicionar outros elementos no fabrico, nomeadamente amónio e ureia.
Nesta altura, no País existem apenas algumas misturadoras de fertilizantes, que utilizam componentes do produto, criando uma mistura homogénea e equilibrada nas proporções desejadas para o cultivo, não sendo propriamente um fabrico químico do produto. Esta pequena produção cobre apenas 3% do mercado, 24 mil ton, sendo que o restante é importado. Em termos práticos, a unidade de Benguela será a primeira fábrica a produzir fertilizantes no País.
Fertilizantes fosfatados
Uma das notas relevantes do projecto, de acordo com Carlos Alves, director de Estratégia do Grupo Noble, é que a produção vai ser feita à medida das culturas, do solo e do clima reinante no País ao contrário, por exemplo, dos fertilizantes importados de forma standard, que são aplicados em todos as regiões do País, independentemente da característica dos solos e do clima da região.
Portanto, conforme apontou ao Expansão, a unidade fabril vai produzir fertilizantes adaptados à realidade do País ao tipo de agricultura, tipo de semente, ou seja, uma solução à medida para cada estação do ano e adaptada a cada fase de crescimento das plantações.
"Pela primeira vez, o Grupo Noble, que teve as suas origens na área do retalho e migrou para a área da indústria, neste momento está a dar os primeiros passos na área da agricultura, concretamente na área de fertilizantes, próximo do Corredor do Lobito", disse notando tratar-se de uma aposta num sector com inúmeras oportunidades.
Por sua vez, o secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, Castro Camarada referiu que o projecto está perfeitamente enquadrado naquilo que é o Plano de Desenvolvimento Nacional no que toca ao relançamento da produção de fertilizantes no País por forma a reduzir a dependência de fertilizantes importados.
Salienta que as 180 mil toneladas de fertilizantes por ano é uma quantidade que irá cobrir uma percentagem das necessidades do País, cujo consumo actual é ainda bastante modesto, mas alerta para as necessidades crescentes de consumo de fertilizantes ao longo dos próximos anos, pelo que apela a novos investimentos no sector para suprir as necessidades.
Em Junho deste ano, por exemplo, o Executivo aprovou a aquisição de 180.000 toneladas de fertilizantes à empresa mineradora estatal marroquina de rochas fosfáticas OCP por 100 milhões USD, conforme o Despacho presidencial n.º 162/25, de 24 de Junho, tendo em vista a próxima campanha agrícola, que tem início no próximo mês de Setembro.
Estes fertilizantes serão depois entregues ou colocados no mercado para a venda principalmente aos pequenos, médios e agricultores individuais ou associados em cooperativas, número irrisórios a julgar pelas necessidades actuais do País, que tem sido compensada pela importação feita por privados.