TAAG e sindicato de pilotos escondem acordo que levou à suspensão da greve
Levantada a greve, tripulantes e gestores continuam negociações na busca de uma rota segura que reduza a turbulência vivida na companhia aérea desde que foi nomeado o actual conselho de administração. Anunciada a injecção de mais dinheiro pelo Governo, mas não se sabe quanto.
Três dias após o início da greve dos pilotos da transportadora aérea nacional TAAG, sindicato e companhia aérea anunciaram a suspensão da paralisação, sem no entanto avançarem as condições do acordo, apesar da insistência do Expansão. O jornal apurou que foi acordado um aumento salarial de 20%, que poderá aumentar em função das negociações, que vão prosseguir, apesar do levantamento da greve. Ainda assim, até ao fecho da edição, esta quarta-feira, os pilotos não tinham levantado voo.
De acordo com uma tabela salarial dos pilotos da TAAG, a que o Expansão teve acesso, um comandante de um Boieng 777 aufere um salário base de 2,7 milhões de Kz, que, segundo estes profissionais, é dos mais baixos no mercado da aviação. Este salário base é reforçado em função das horas de voo realizadas e de ajudas de custo. Ou seja, ao atingir 52 horas de voo, os pilotos vêm os seus salários "engordar", com mais 840.000,00 Kz. Junta-se a isto, ajudas de custo de 150 USD diários, nas rotas internacionais.
Como a TAAG não opera apenas com aviões do tipo Boeing 777, os comandantes consideram, no geral, que o valor auferido é insuficiente, se comparado à realidade internacional, ou quando é comparado ao de um director da própria empresa. "Há salários de pilotos que não cobrem o preço de um bilhete de passagem de Luanda para Lisboa, que custa 1,6 milhões Kz", reclamou um dos pilotos da TAAG. Embora esteja previsto o subsídio das horas de voo, quase nunca beneficiam dele, porque fazem poucas horas, devido ao fretamento de aviões por parte da companhia, alegam os pilotos.
"Os aviões alugados fazem os nossos voos. Estas aeronaves operam com tripulação própria e nós ficamos em terra, porque os nossos aviões passam mais tempo em terra", explicou fonte do sindicato dos pilotos. Os tripulantes acusam também a TAAG de não cumprir outras remunerações a que têm direito. E caso estas situações não sejam resolvidas nos próximos tempos, a greve pode voltar. "Por exemplo, remunerações para viagens em classe executiva e outras. Se não resolverem as questões que pedimos poderemos voltar à greve, mas desta vez, será prolongada até Dezembro. Por causa da condição salarial, há pilotos que começam a mudar para outras companhias à procura de melhores condições", adiantou a fonte.
O Expansão apurou que o descontentamento na transportadora aérea nacional também se estende a outras áreas, como os trabalhadores administrativos, chek-in, manutenção e outros. Os sindicatos que representam estes trabalhadores também ponderam fazer greve pela melhoria das suas condições. "Não descartamos a greve. Esta administração está a delapidar o património da empresa e o capital humano. Não é normal que se gaste tanto dinheiro com o aluguer de aviões e deixam-se os pilotos da companhia nas condições em que estão", contesta um piloto.
Apesar do aumento salarial acordado de 20% para os pilotos, e que permitiu suspender a greve, ainda não está tudo decidido. A empresa prometeu arranjar formas para propor e definir o salário dos pilotos, que deverá ser ajustado por fases. A administração da empresa já alertou, no entanto, em comunicado que "no contexto actual, não é possível proceder a aumentos salariais na dimensão solicitada, sem gerar um impacto negativo na sobrevivência da companhia".
Ainda assim, o Ministério dos Transportes prometeu um plano de acção complementar, com a "injecção de recursos" para tornar a companhia aérea uma das mais competitivas e rentáveis do continente. "O Governo tomou a decisão de orientar para a TAAG recursos suplementares, que vão permitir acomodar as necessidades da sua massa salarial e, ao mesmo tempo, dar sequência ao plano de investimento que imporá (a transportadora) como uma das mais competitivas e rentáveis companhias aéreas do continente", lê-se no co[1]municado distribuído à imprensa.
Em 2020, a TAAG teve custos de 43 mil milhões de Kz com salários, subsídios e outras categorias. No ano passado, reduziu para 41 mil milhões de Kz, segundo o relatório e contas publicado no seu site.