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Angola e Cabo Verde querem explorar juntos as rotas aéreas na África Ocidental

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Criar em Cabo Verde um hub de ligações aéreas para os países da África Ocidental, através da criação de um novo operador, é um projecto que junta os dois países e que pode mudar a aviação comercial no continente.

No balanço da visita do Presidente de Cabo Verde a Angola, destaca-se um memorando de entendimento na área dos transportes, com especial incidência no transporte aéreo, que trará grandes benefícios a ambas as partes.

Na área da aviação civil, este entendimento tem dois projectos muito importantes - por um lado o aproveitamento das linhas que Cabo Verde tem abertas de ligação ao mundo pela companhia angolana TAAG, e por outro, a criação de um novo operador que vai explorar, a partir de Cabo Verde, as ligações entre os países da África Ocidental. Criando um hub de transporte de passageiros e mercadorias no lado Oeste do continente, como já existe do "outro lado", na cidade de Adis Abeba, Etiópia.

Relativamente ao primeiro projecto, pretende-se aproveitar as rotas que Cabo Verde tem abertas ao mundo, começando pelas ligações com Luanda, cujos voos serão garantidos pelos aviões da TAAG. Lembrar que Cabo Verde vive fundamentalmente do turismo, com a chegada e partida de milhares de turistas, o que pressupõe a existência de ligações aéreas regulares e para os destinos considerados estratégicos.

Com a pandemia, o governo daquele País percebeu que não podia estar na mão de apenas um operador, a TUI, que garante 80% das ligações aéreas do país com o estrangeiro. Neste sentido, e tendo Cabo Verde rotas abertas para a Europa e Estados Unidos, o acordo passa pela TAAG garantir essas ligações, com a possibilidade de ligação directa a Luanda. Em termos práticos, os destinos mais importantes para o arquipélago são Estados Unidos, Holanda, Itália e Reino Unido. Tendo a TAAG aviões na pista, pode garantir estas ligações, aumentando a sua oferta e as suas rotas, com passagem por aquele país.

De acordo com o que o Expansão apurou, ainda não está decidido onde será a base, se na cidade da Praia ou no Sal, é uma questão que os técnicos ainda estão a estudar, mas é seguro que este é um projecto para avançar a curto/médio prazo. Cabe aqui acrescentar que Cabo Verde é um dos únicos três países africanos com certificação da autoridade de regulação americana de categoria I, o que permitirá à TAAG ligar-se aos Estados Unidos, via Cabo Verde, com um bilhete único. E o mesmo se aplica a outros destinos.

Mudar a mobilidade na África Ocidental

O segundo projecto é mais ambicioso, criar um operador para explorar as ligações na CEDEO, a partir de Cabo Verde. Na verdade, um hub de referência na África Ocidental, fazendo concorrência com o que acontece com Adis Abeba, que embora no lado oriental do continente, é hoje ponto quase obrigatório de passagem para as ligações dentro do continente.

Por exemplo, se um cidadão quiser ir de Luanda a Malabo (Guiné Equatorial), que dista 2.835 km, tem de fazer escala em Adis Abeba, num total de 9.105 km. Com este hub a funcionar, via Cabo Verde, viajaria menos 3.000 km. E isto aplica-se a outras cidades importantes do espaço da CEDEO, como Dakar (Senegal), Abdijan (Costa do Marfim), Acra (Gana) ou Lagos (Nigéria).

Nesta altura, está a estudar-se como será esta solução, que parece lógica e exequível. E fala-se de um novo operador que poderia ser desenvolvido por uma entidade privada ou por um consórcio que juntasse as companhias dos dois países e privados, havendo a convicção por parte dos governantes dos dois países que se o processo for bem desenhado haverá sempre privados interessados.

Os Estados teriam de garantir as rotas e as condições operacionais, existindo também a ideia de chamar a este projecto outros países da região da CEDEO. Com modelos económicos sustentáveis e uma gestão profissional, este novo operador pode mudar o actual quadro das ligações aéreas no continente, tornando a mobilidade de pessoas e bens mais fácil e mais barata.

A perspectiva da parte angolana é que a TAAG poderia entrar neste novo operador com os seus aviões e a sua experiência na aviação e gestão de aeroportos, de uma forma directa, fazendo parte do capital do futuro operador, ou de forma indirecta (para os equipamentos com contratos de leasing e para os serviços como fornecedor) se este operador fosse totalmente privado.