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Empresas & Mercados

Pouca informação e preço alto das acções na base do fiasco da ACREP

PRIMEIRA EMPRESA A TENTAR FINANCIAR-SE VIA BOLSA

A quantidade e o histórico de informação é apontada com um factor indispensável para os investidores. É isso que os especialistas dizem que ditou a "nega" dos investidores na procura pela acções da ACREP, mas que ajudou nos casos do BAI e do Caixa Angola.

Não foi desta que se conseguiu ter a primeira empresa a financiar- -se via bolsa em Angola, isto porque aquele que seria o pontapé de saída para financiamento através da Oferta Pública de Subscrição (OPS) falhou já que os investidores não fizeram qualquer proposta para ficar com qualquer uma das 600.890 acções que a ACREP queria pôr no mercado. Desconfiança dos investidores numa empresa que só recentemente começou a dar sinais de transparência e preços altos estão na base do insucesso da operação, segundo apurou o Expansão junto de vários especialistas.

Com a emissão de novas acções, que representam 24,99% do capital da empresa, a petrolífera esperava aumentar o seu capital em pelo menos 45,1 mil milhões Kz através desta operação. E mesmo após ter alargado em mais quinze dias além do prazo previsto a falta de interesse dos investidores não mudou, já que segundo o site da BODIVA não se registou qualquer procura. Por sua vez, o BPC pretendia livrar-se via bolsa da sua participação na ACREP, e para isso colocou à venda 300.000 acções, que correspondiam a 16,63% do capital da empresa, tendo "despachado" apenas 72.181 por 5,4 mil milhões Kz. Apesar de não ser encarado como um sucesso, está longe de ser um fiasco total como a Oferta Pública de Subscrição.

Ao que o Expansão apurou junto de vários players do mercado, na base do fracasso da oferta pública de subscrição e do insucesso da oferta pública de venda está a falta de informação e de conhecimento sobre a empresa, o que gera falta de confiança por parte dos investidores, bem como os preços altos das acções se comparado com alternativas do mercado, como BAI e o Caixa Angola, que dispõem de mais informações junto do público em geral.

Também está o facto de as taxa de retorno do investimento (yields) não compensarem, segundo especialistas, uma vez que existem alternativas como os títulos públicos que pagam 23%, com risco quase nulo, sendo que o emitente Estado apresentará menos riscos do que uma empresa, pelo que um investimento neste tipo de acções, num País como Angola, acaba por ser um investimento de alto risco. Até porque o mercado de bolsa é ainda muito recente e os investidores estão ainda desconfiados.

E há ainda a incerteza que se verifica no sector petrolífero, um mercado muito volátil, já que a ACREP tem como objectivo fundamental a participação activa na promoção e relançamento dos campos de petróleo abandonados do onshore da Bacia do Kwanza, bem como nas jazidas marginais em geral, que requerem bastante investimento, o que eleva o nível de risco da operação.

Para o especialista em mercados financeiros e partner da correctora de valores mobiliários Lwei Mansamusa Brokers, Carlos Sebastião, o insucesso da ida à bolsa da ACREP está ligado à falta de informação sobre o emitente, argumentando que se os investidores desconhecem a ACREP, é provável que não confiem na mesma para destinar as suas poupanças para um investimento de médio e longo prazo. "Essa desinformação consubstancia preocupações sobre a saúde financeira, governança corporativa ou perspectivas futuras sobre a continuidade do negócio, que por exemplo de acordo com o prospecto prevê- -se vender muitas das suas reservas de exploração, sendo apontado como uma das razões do comportamento dos investidores em evitar exposição a este segmento", reforçou. O mesmo pensamento tem o economista-chefe da consultora internacional Eaglestone, Tiago Dionísio, ao dizer que deverá estar muito relacionado com a falta de informação e conhecimento que os investidores ainda têm sobre a generalidade das empresas angolanas. Para o consultor, é importante haver uma maior abertura por parte das empresas para a disponibilização de informação, que também é de interesse dos analistas financeiros, para que possam, por exemplo, ser elaborados relatórios de análise sobre essas empresas ou sectores. "Existem actualmente relatórios sobre o sector bancário angolano que são úteis para os investidores, e que, no entanto, o mesmo não se pode dizer sobre outros sectores de actividade, e isso deve-se, em boa parte, à falta de informação", apontou.

Por outro lado, o consultor aponta que em Angola, ainda não existe uma cultura de roadshows onde as empresas que querem ir ao mercado visitam e têm reuniões com potenciais investidores. "Os roadshows são uma oportunidade para a gestão das empresas darem a conhecer melhor as suas empresas e a responder às questões/dúvidas desses potenciais investidores. Estes tipos de iniciativas são cruciais para o sucesso de uma empresa quando quer financiar-se via bolsa de valores", reforçou.

Preço alto das acções

Para Carlos Sebastião, há uma questão ligada ao factor preço, já que as novas acções da ACREP estavam a ser negociadas a um preço unitário mínimo de 75.000 Kz até 91.500 Kz, valores muito acima se comparados aos produtos substitutos encontrados para....

Leia o artigo integral na edição 769 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)