"É imprescindível que se invista nas telecomunicações se o País quiser tornar-se competitivo"
O director geral da operadora de telecomunicações Paratus-Internet Technologies Angola acredita no potencial do País para o desenvolvimento do sector, mas alerta para necessidade da haver uma aposta real neste segmento apontado como base para a sustentabilidade do crescimento de Angola
A Paratus Internet Technologies Angola é uma das empresas de telecomunicações que está no mercado há alguns anos. Qual é a realidade do sector hoje no País?
O sector está dentro da conjuntura geral do País. Como sabemos, a nossa economia vem, ao longo dos anos, desde a independência, a passar por altos e baixos e o sector não está de fora desta conjuntura que é o País. As telecomunicações são um sector de capital intensivo, sendo que este capital está indexado à moeda estrangeira. Este ano, tivemos uma desvalorização bastante acentuada, de Janeiro até à data, e isso fez com que as empresas tivessem de rever os seus planos de investimento. Por outro lado, na parte operativa, aquilo que são os custos operacionais das empresas, continuamos a ter alguns custos indexados a moeda estrangeira, por exemplo os conteúdos, licenças, segmento espacial, comunicações internacionais, o que faz com que as empresas sejam geridas de forma muito rígida e com processos restritos para se manterem no mercado.
Com estes constrangimentos é possível termos as telecomunicações ao nível dos padrões de outras regiões, como, por exemplo, a SADC?
Em muitos aspectos estamos acima do nível da região. Cada país tem a sua especificidade. Se olharmos para a Namíbia, é uma realidade bem diferente, por exemplo, da República Democrática do Congo, Moçambique ou Botswana. Muitas vezes, fazemos comparações e tiramos o contexto da comparação. Posso dizer que a Paratus, a nível de Data Center, não fica nada a dever a Data Centers internacionais, inclusive europeus. É verdade que ainda temos muitos desafios, muito a fazer a nível do alastramento da própria rede ao leste do País. O País desenvolve-se muito sobre o litoral. A segunda linha, estou a falar a nível de municípios e outros níveis, ao longo deste anos foram feitos muitos investimentos no início e talvez não tivéssemos sido tão eficazes neste investimento.
Porquê?
Não foi só nas telecomunicações. Foi também noutros sectores, um pouco pela vontade de querer fazer País rápido. E falo sobretudo no período pós-guerra. E não foi só o sector público, o privado também não foi tão assertivo. Hoje o sentido é outro. Há mais maturidade no sector, os investimentos já são feitos de forma mais assertiva, mas de qualquer das formas ainda temos muito a fazer.
Temos situações como as que estão a acontecer agora em que, quando há uma avaria num cabo submarino, ficamos com dificuldades nos serviços de telecomunicações. Ainda se justificam situações destas no mercado?
Angola é privilegiada. Há países que ficaram em situações piores do que o nosso. Em Angola passam três cabos. O WACS, o SAT3, que vão de Cape Town até Portugal, e foram estes dois que foram afectados. Mas temos alternativa no cabo para o Brasil. Por outro lado, com outros operadores como nós conseguimos direccionar o tráfego para a África do Sul e depois utilizar um quarto cabo que não aporta em Angola, mas passa pela costa ocidental de África, que é o Equiano, e levamos o nosso tráfego para a Europa. Neste momento, já não se sentem tantos constrangimentos, mas os cabos ainda não foram reparados. Houve um período em que os operadores tiveram de balancear melhor os seus tráfegos, o que é normal nesta operação.
Porquê acontecem estas roturas de cabos?
É normal que aconteça. Provavelmente pela corrente do rio Congo onde aconteceu a rotura, mas o outro cabo está operacional e tem sido o grande suporte das comunicações internacionais em Angola.
O que ainda podemos melhorar a nível da operação de telecomunicações?
Temos muito a fazer. Olhar, por exemplo, para a partilha de infraestruturas de telecomunicações. Ao partilharmos infraestruturas os operadores vão optimizar os seus custos de investimento. Por exemplo, não faz muito sentido no limite Luanda-Benguela vários operadores levarem fibra óptica no mesmo lado da estrada. Quando acontece um incidente, como uma derrocada de terras ou uma ponte que desaba, Benguela fica sem comunicações.
É um problema?
Se houvesse partilha de infraestrutura, por exemplo, de fibra óptica ou até de serviço, poder-se-ia fazer concessões regionais. Um operador iria directo para Benguela via Sumbe, outro poderá ir via Waku Kungo e um terceiro poderia ir por Huambo e do Huambo para o Lobito e formava-se uma rede nacional. Quem iria ganhar seria o investimento, as empresas e o público, que acaba por pagar a factura dos investimentos. Sem esquecer a qualidade de serviço. É isso que falta.
Existe legislação sobre a partilha de infraestruturas. Não é aplicada?
A legislação está muito bem redigida, falta na realidade operacionalizar esta lei.
Não há vontade entre os operadores?
O regulador tem feito um trabalho notável neste aspecto. Mas há ainda alguma relutância, até mesmo por parte de nós, operadores. Falta talvez maior acção e maior sentido de regulação do próprio regulador de impor a lei.
Isto terá a ver com alguma desconfiança entre operadores?
Não é só o caso de Angola. Países que hoje já partilham grandemente as infraestruturas também passaram por este processo. É natural que os operadores vêm com o histórico de fazer as suas redes e não querem compartilhar infraestruturas. Mas depois o próprio amadurecimento do eco-sistema de telecomunicações leva a que todos, regulador e operadores, compreendam que faz sentido e caminham para a partilha. Precisamos fazer as coisas rápido, temos de saltar etapas e não temos outra alternativa se quisermos nivelarmo-nos com outros países de referência. Mas temos também de ser pacientes em algumas questões.
Ao não partilharem infraestruras não tornam o negócio das telecomunicações mais caro?
Podíamos partilhar investimentos e isso acabaria por se reflectir de alguma forma no preço final das telecomunicações. Mas não quero com isso aqui passar a mensagem errónea que este é o factor principal para aquilo que é designado de preços altos das telecomunicações em Angola, que descordo absolutamente. As telecomunicações em Angola são baratas
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