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Grande Entrevista

"Há monopólios e concorrência desleal nas telecomunicações"

SÍLVIO ALMADA PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO ANGOLANA DE INTERNET (AAI)

O protagonismo excessivo do Estado no sector das telecomunicações, os desafios para aumentar a cobertura nas zonas rurais e a capacidade económica das famílias em custear o serviço de internet, foram alguns dos pontos levantados por Sílvio Almada da AAI.

Esteve no início dos primeiros projectos de internet em Angola. Pode fazer um breve historial da entrada deste serviço no País?

A internet, em Angola, surge na década 90, mais concretamente em 1994, com as primeiras iniciativas. Começámos com os correios electrónicos. Foi praticamente no mesmo momentos em que o continente africano também deu início aos seus primeiros projectos para que a internet fosse o que é hoje. Iniciámos com participações e alguns financiamentos de organizações internacionais para expansão gradual em todos os países do continente. Em Angola tivemos, por exemplo, a Development Workshop (DW ), houve também financiamento do Canadá e outras organizações internacionais. Tivemos também um pequeno financiamento do PNUD [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento] em alguns projectos de desenvolvimento sustentável, da Agenda 21, que foi um dos principais resultados da conferência Eco-92 ou Rio-92, realizada no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992.

E depois?

A partir daí era necessário criarmos uma plataforma, onde essas primeiras iniciativas e outras que surgiam ao longo dos anos, se pudessem comunicar. Foi por isso que houve a ideia de se criar meios a nível local que fossem mais económicos para estas organizações.

Nos Estados Unidos, em particular, a internet já existia antes dos anos 90...

A internet já existia em outros países há já muito tempo, mas para uso militar. De forma económica foi também nos anos 90, ou seja, na mesma década em que se abriu para o resto do mundo e nós também já tínhamos iniciado aqui no País.

A internet de ontem é muito diferente da de hoje, a evolução foi muito rápida. Pode dizer-se que hoje são alavancas fundamentais para o desenvolvimento económico?

A internet foi evoluindo, na medida em que as próprias infra- -estruturas de telecomunicações evoluíram, permitindo que mais serviços pudessem ser prestados a partir da internet e que mais pessoas pudessem entrar na rede global. Actualmente, a internet é, sem dúvidas, uma commodity muito importante. É preciso ver a internet como olhamos para os alimentos ou outros produtos de primeira necessidade, para a economia e para as pessoas, porque acelera o desenvolvimento. Todas as esferas sociais precisam da internet para o dia-a-dia, desde a educação à saúde, do turismo à agricultura. Todos precisamos. Se quisermos evoluir e desenvolver o próprio País, nós temos de levar a internet a todos, não pode limitar-se só aqui, a nível das cidades, isso não é o que se espera deste serviço.

A Associação Angolana de Internet foi criada há 14 anos.

Em 2006, trouxemos um projecto Exchange Internet Point (Ponto de Intercâmbio de Internet), o também denominado Angola IXP. Na altura, cada provedor tinha o seu link internacional e localmente não havia esse intercâmbio entre os provedores. Portanto, qualquer mensagem dava a volta primeiro ao mundo e só mais tarde é que chegava ao País. Por exemplo, se a Angola Telecom quisesse enviar uma mensagem para a Nexus Angola, que existia na naquela altura, ou para a MSTelecom, a mensagem primeiro ia aos Estados Unidos da América, depois para a Europa e só mais tarde regressava a Angola, para um cliente que estava mesmo dentro do País.

Era fundamental ter o intercâmbio local?

Então, trouxemos essa ideia de uma plataforma local, reunimos os operadores com o apoio do próprio regulador, o Instituto Nacional das Comunicações (INACOM) e a iniciativa foi bem aceite. Então, criámos um ponto de intercâmbio. Na altura, todos os membros ligaram-se àquela infra-estrutura e continuam ligados. O IXP não é mais que um switch [dispositivo de interconexão], onde estão todos interligados, ou seja, a mensagem já não tinha a necessidade de dar voltas ao mundo, porque todos estavam dentro do IXP e comunicavam-se a um custo quase inexistente. O que encarece tudo, nas telecomunicações, são os custos internacionais, o custo local é muito baixo.

Então como surge a associação e qual é o objectivo?

Portanto, era necessária uma entidade para tomar conta deste intercâmbio. Uma entidade que fosse neutra o suficiente, não podia ser pertença de uma operadora, porque os operadores entre si são concorrentes e são parte interessada. Surgiu então a Associação Angolana de Internet (AAI) com o objectivo de assumir este serviço, permitindo que os membros todos beneficiassem dele. Portanto, a associação é um espaço onde congregamos todos os operadores do mercado e não concorre, de maneira nenhuma, com eles, aliás posiciona-se como um parceiro.

Leia o artigo integral na edição 792 do Expansão, de sexta-feira, dia 06 de Setembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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