Gás natural africano é essencial para a transição energética global
Fundação Mo Ibrahim defende abordagem conjunta dos países africanos na próxima conferência sobre alterações climáticas (COP27). Transição energética não pode subalternizar realidades locais.
As chamadas de atenção contra uma apressada transição energética em África começam a subir de tom. As principais críticas estão focadas na falta de atenção ao contexto e necessidades dos países africanos, realidade que pode atrasar ainda mais o continente. Especialistas e agências de desenvolvimento defendem que hidrocarbonetos como o gás natural são fundamentais para baixar os níveis de poluição, ao mesmo tempo que po[1]dem ser importantes no desenvolvimento das economias locais.
A Agência Internacional de Energia (AIE) projecta que, para África alcançar o acesso universal aos serviços energéticos modernos, bem como atingir os compromissos climáticos, o gás natural terá de ser responsável por quase metade do investimento no fornecimento de combustível e por mais de 10% da capacidade eléctrica instalada até 2030. Por outro lado, de acordo com a Fundação Mo Ibrahim (no documento "A Caminho da COP27 - O Caso de África no Debate Global sobre o Clima"), para facilitar o acesso generalizado à energia necessária para industrializar e alcançar os objectivos de desenvolvimento do continente a curto e médio prazo, África terá de utilizar as suas reservas de gás natural (avaliadas em 455,2 triliões de pés cúbicos em 2020) como combustível de base para complementar as energias renováveis.
O gás natural é também o combustível fóssil mais limpo e pode substituir outros mais poluentes, como o carvão, que produz quase o dobro de CO2 por milhão de unidades de energia do que o gás, e também pode substituir o petróleo, que produz aproximadamente mais um terço do que o gás natural. "Durante a próxima reunião do COP, os países africanos precisam de defender a ideia de uma transição energética justa, equilibrada e equitativa, que reconheça a situação e circunstâncias únicas e especiais do continente, e que inclua a abordagem e o financiamento de um cabaz energético de transição, redução de emissões e acesso à energia para os 600 milhões de africanos que ainda não a têm", defende a nigeriana Amina Mohammed, actual secretária-geral adjunta das Nações Unidas e ex-ministra do Ambiente da Nigéria (2015-2016).
A 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27) vai acontecer de 6 a 18 de Novembro de 2022 em Sharm El Sheikh, no Egipto.
Actualmente, o continente africano representa 17% da população mundial, mas apenas 5,9% do abastecimento mundial de energia. E a discrepância com outras regiões é muito acentuada. O abastecimento energético per capita na América do Norte, por exemplo, é mais de oito vezes superior ao de África, enquanto o abastecimento per capita da Europa e do Médio Oriente é, em cada um deles, mais de quatro vezes superior ao africano, o que demonstra uma grande disparidade no acesso a serviços básicos.
África também é a região mundial que menos utiliza os combustíveis fósseis no seu aprovisionamento energético. Segundo dados divulgados pela Fundação Mo Ibrahim, se toda a África subsariana (menos a África do Sul) triplicasse o seu consumo de electricidade utilizando inteiramente gás natural, as emissões globais de carbono aumentariam apenas 0,6%.
Os dados colocam em causa as medidas anunciadas durante a COP26, que aconteceu em Novembro de 2021, e que visavam o total abandono, a curto-médio prazo, dos financiamentos direccionados para projectos de hidrocarbonetos. Esta abordagem pode ter um impacto negativo nos países africanos, ao tornar o continente ainda mais dependente de fundos e tecnologia externa. "Seria uma ingenuidade pensar que o desenvolvimento pode ter lugar em África sem qualquer hidrocarboneto", afirma Chris Gentle, consultor sénior do Conselho Mundial de Energia (World Energy Council, em inglês).