África tem duas espécies de elefantes
Em vez de uma espécie de elefante apenas, o continente africano tem duas, anunciou uma equipa de cientistas de três universidades, confirmando, com a ajuda da sequenciação genética, uma suspeita que já durava há mais de uma década. A divisão iniciou-se há três milhões de anos, e agora há que utilizar essa separação para ajudar na sua conservação.
Um estudo realizado por investigadores norte-americanos e britânicos revelou que existem duas espécies de elefantes em África e não apenas uma, como se acreditava até agora. A descoberta, surpreendente, é que os elefantes das florestas e das savanas de África - que alguns acreditavam ser da mesma espécie - são tão distintos entre si como os elefantes asiáticos e os mamutes.
Cientistas das universidades de Harvard e Illinois (Estados Unidos) e York (Reino Unido) fizeram uma análise genética pormenorizada para provar que o elefante africano da savana (Loxodonta africana) e o elefante africano da floresta tropical (Loxodonta cyclotis) são duas espécies diferentes há vários milhões de anos.
Observadas as espécies de África, concluiu-se que, pesando entre seis e sete toneladas, os grandes elefantes da savana tinham o dobro do peso dos primos da floresta. Isto aliado a outras diferenças morfológicas levou a que alguns investigadores concluíssem que existem duas espécies neste continente. Mas, para confirmar a diferença entre as duas espécies, os cientistas fizeram biópsias recolhendo amostras de 195 elefantes em onze países diferentes de África. Em seguida, foram feitas análises para saber se existiam diferenças entre os animais que viviam na savana e aqueles que passavam a maior parte do tempo nas florestas.
As análises de DNA revelaram efectivamente uma ampla gama de diferenças genéticas entre as espécies. O elefante da savana e o mamute têm uma diversidade genética muito baixa, enquanto os elefantes da Ásia têm diversidade média e os elefantes da floresta têm uma diversidade muito alta. Os pesquisadores acreditam que essas diferenças se devem à variação dos níveis de competição reprodutiva entre os machos. Esta análise sugere que as diferenças genéticas entre os elefantes da floresta e da savana correspondem a 58% da diferença que existe nos mesmos genes dos elefantes africanos e asiáticos.
A experiência também permitiu aos cientistas construir as primeiras sequências de ADN do extinto mastodonte americano. Os investigadores tinham resolvido, também, comparar as sequências de ADN dos elefantes africanos e asiáticos com a dos mamutes lanudos e a dos mastodontes americanos, todos membros da ordem dos Proboscidea.
O mastodonte extinguiu-se há dez mil anos, mais ou menos na mesma altura em que desapareceram os mamutes. Apesar de o ADN mitocondrial (fora do núcleo) do mastodonte ter sido sequenciado anteriormente, os cientistas afirmam que esta foi a primeira vez que ele foi analisado a partir do núcleo das células - neste caso usando o material de um dente.
Outra descoberta mostra que os elefantes da savana que vivem no sul, no norte, e no centro de África, apesar das grandes distâncias, são geneticamente iguais, enquanto os elefantes da floresta mostram algumas diferenças.
Separados há 3 milhões de anos
De acordo com os pesquisadores, cada população das savanas, mesmo vivendo em regiões diferentes, era geneticamente próxima a outras populações de savana. Isso não ocorre com as populações da floresta, até mesmo nos casos em que estes elefantes viviam próximos. A divergência entre elefantes africanos de savana e de floresta é quase tão antiga como a separação entre humanos e chimpanzés. Isto surpreendeu-nos a todos, comentou Michi Hofreiter, do Departamento de Biologia da Universidade de York.
Segundo este estudo, estas duas espécies foram separadas há 3 milhões de anos e são tão distintas entre si como os elefantes asiáticos são dos mamutes, e acredita-se que um longo período de adaptação evolutiva (por volta de 2,63 milhões de anos) ajudou a separar a linhagem de elefantes da floresta e da savana.
A possibilidade de estas serem duas espécies diferentes surgiu em 2001 quando uma equipa de cientistas do Quénia e dos Estados Unidos propôs na revista Science a reclassificação do maior mamífero terrestre, com base em oito anos de trabalho de campo. Apesar de viverem em ambientes diferentes e terem comportamentos distintos, aquilo que salta mais à vista é a diferença de tamanho. O elefante da savana tem uma altura média de 3,5 metros e um peso entre as 6 e as 7 toneladas, enquanto o elefante da floresta tropical tem uma altura de 2,5 metros e um peso entre as 3 e as 4 toneladas.
Confirmada a teoria, pensa-se em separar as duas espécies para ajudar à sua conservação. Outro ponto prende-se com a Lista Vermelha das espécies em perigo, avaliando se alguma das duas espécies está em maior ou menor perigo. Isto poderia ajudar a centrar esforços na espécie mais ameaçada, normalmente aquela que vive na África Central.
O elefante da floresta é o mais vulnerável, uma vez que se encontra em áreas onde a caça ilegal e o contrabando são abundantes. Em todo o continente, o roubo de marfim dos últimos trinta anos diminuiu a população de elefantes aos pontos mais baixos.
Há dez anos, África tinha apenas 600 mil animais. Mas vários países africanos do Sul, onde as populações crescem a um ritmo muito acelerado, afirmam ter elefantes a mais e têm insinuado que precisam de diminuir este número.