Elon Musk, o sul-africano para quem a Terra não chega
O Financial Times e a Times elegeram Elon Musk como a figura do ano, reforçando as batalhas dos últimos anos para se impor na indústria automobilística desafiando Wall Street, um 'bad boy' nascido na África do Sul
Passou quase uma década como o lançamento do Modelo S e três anos sobre a criação do Modele 3 para que o mundo, definitivamente, se renda ao valor da Tesla e do seu criador, o sul-africano bem-nascido nos arredores de Pretória, Elon Musk.
Ao longo destes anos, Musk não só construiu praticamente sozinho o mercado de veículos eléctricos ao mesmo tempo que se confrontava com a provável falência do negócio, como teve de lutar contra os reguladores e Wall Street.
Penetrar num mercado onde se têm de competir com a Ford, Volkswagen ou Mercedes-Benz não é para qualquer um, ainda mais quando estes gigantes da indústria automóvel resistem, ou resistiam, a um futuro de carros eléctricos. Deixaram de o fazer, e esta semana é a japonesa Toyota que anuncia que vai pelo mesmo caminho, com um investimento de 35 mil milhões de dólares para alargar a produção dos seus VEs.
"Durante muito tempo, a indústria automobilística considerou que a Tesla e eu eramos um idiotas e um embuste", desabfou Musk em entrevista ao Financial Times.
E durante anos a pressão foi enorme, as grandes marcas argumentavam que os carros eléctricos nunca iriam funcionar porque eram incapazes de alcançar desempenhos compatíveis com a produção automobilística a motor.
Musk teve, ainda assim, uma ajuda, as constantes e urgentes preocupações com o clima, acabaram por levar a sua tecnologia mais sustentável ao colo, dando efectiva vantagem. A isto se seguiram as razões do mercado, isto é, quando as grandes marcas começaram a perceber que havia efectivamente mercado para os veículos eléctricos... reagiram.
E nos dias de hoje, Bob Lutz, ex-vide-presidente da General Motors e presidente da Chrysler, que antes duvidou da sobrevivência da Tesla, considera que o impacto de Musk na indústria automobilística é "inacreditável, nada menos do que incrível", e reconhece que a Mercedes e a BMW alemães que dominam o mundo tem, de facto, medo dele.
E 2021 foi o ano de Musk pelo que fez ou disse e pela controvérsia que provoca, em especial no Twitter onde tem 66,3 milhões de seguidores, e onde promove produtos como as dogecoin, uma criptmoeda que deve o seu nome a um cão, Shina Inu. E também é no Twitter que alimenta as suas guerras com o regulador norte-americano, que, pelo que aí escreve, o multou em 20 milhões de dólares em 2018. Entretanto, não passa despercebida a possibilidade deste "bad boy" do Twitter ser também uma estratégia pessoal de marketing.
E a sua acção tuiteira vai mais além, com quase 800 mil norte-americanos mortos devido à Covid-19, Musk sempre censurou as restrições impostas pelos governos para controlar a disseminação do vírus, não sendo um negacionista, aos 50 anos, é ainda assim um crítico.
O governo norte-americano retribuiu acusando de não pagar os impostos que tem de pagar, no meio de um boom accionista da Tesla, que fez dele a pessoa mais rica do mundo.
Por tudo isto, mas sobretudo porque desencadeou uma mudança histórica na indústria automobilística mundial no caminho dos carros eléctricos, o Financial Times decidiu nomeá-lo a Figura do Ano em 2021. Ele que também é um dos empresários mais genuinamente inovadores da sua geração.
Mesmo que a Tesla entre em colapso no próximo ano, o essencial está feito, a transformação de uma das indústrias mais importantes do mundo e todas as implicações que isso tem em políticas públicas e no investimento.
E porque o céu é o limite ou porque a Terra parece pequena para Musk, ele passou para a conquista do espaço com a criação da SpaceX, através da Starlink poderá por em órbitra o Starship, um satélite gigante que pode mudar a forma como decorre toda a economia do mundo digital.
Para os seus admiradores, Musk é um visionário, livre das restrições mentais que condicionam outros empresários. Para os críticos, ele junta uma arrogância cega que negligência o impacto das suas acções no mundo.
Para Musk, a revolução tecnológica que se propôs há cerca de 15 anos, de liderar uma nova indústria automobilística de carros eléctricos, foi alcançada, senão completamente, pelo menos a ideia de que o negócio é financeiramente viável pode constituir-se como uma vitória mesclada com o comprazimento de ver os grandes do sector reagiram "em desespero".