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Crise energética na Europa gera receios de um "momento Lehman Brothers"

PEDIDOS DE GARANTIA PRESSIONAM DÍVIDA SOBERANA EUROPEIA

A maior crise energética que a Europa enfrenta em décadas "está a sugar capital para garantir o comércio no meio de oscilações selvagens de preços", alerta a Equinor. Cresce o medo de um "Lehman Brothers" europeu.

A crise da dívida soberana europeia provocada pelo aumento dos preços da energia, após as sanções ao gás russo, tem potencial para abalar os mercados financeiros globais à escala do colapso financeiro de 2008, advertem diversos analistas que falam na iminência de um momento "Lehman Brothers", com as empresas de energia a enfrentarem súbita escassez de dinheiro. Esta previsão é corroborada pela Equinor. Segundo o gigante da energia norueguês, citado pela Bloomberg, o comércio europeu de energia está a ser pressionado por pedidos de garantia de 1,5 biliões USD, que estão a exercer pressão sobre os governos para fornecerem mais amortecedores de liquidez.

A maior crise energética que a Europa enfrenta em décadas "está a sugar capital para garantir o comércio no meio de oscilações selvagens de preços", resume a Equinor. O primeiro alerta para um momento Lehman Brothers na Europa despoletado pela crise energética partiu da Alemanha e foi feito em Junho. Mas alastra agora, como fogo, à medida que os governos europeus preparam planos de ajuda para evitar um inverno gelado e as empresas de energia precisam de liquidez para cobrir custos cada vez mais elevados.

"A Europa pode desencadear o caos à escala do Lehman", titulou esta semana o South China Morning Post, o principal jornal em língua inglesa de Hong Kong , ao veicular a análise de John Greenwood, economista-chefe da empresa de gestão de investimentos Invesco, nos EUA. Greenwood, que após a crise do subprime em 2008 prognosticou a saída da Grécia e de Portugal da zona Euro, alerta para os efeitos da crise energética europeia, sobretudo nos quatro países do sul da Europa - Grécia, Espanha, Portugal e Itália - por causa das suas estruturas de custos, nomeadamente laborais, que são entre 20% a 30% mais elevadas do que na Alemanha.

"Se estes países ainda tivessem moedas independentes, teriam de as desvalorizar em 25% ou 30% para se manterem competitivos. E esta é a medida da deflação interna da Europa do Sul, a fim de restaurar a sua competitividade", explicou.

Efeito Lehman no sistema energético

A 24 de Junho, o ministro alemão da Economia advertiu para um "efeito Lehman no sistema energético", pela acumulação de perdas dos fornecedores de energia, que se viram obrigados a cobrir volumes de gás a preços elevados. O efeito de arrastamento levou o governo alemão a adoptar um pacote de ajuda às famílias, que incluiu um bónus de 300 euros no vencimento de Setembro. Outros governos europeus seguiram o exemplo e também adoptaram planos de ajuda às famílias, como a Espanha e Portugal.

A crise do gás na Europa alastrou muito para além da Alemanha, um dos países mais dependentes do gás russo. Dez estados membros da União Europeia chegaram a emitir, em Junho, um alerta, ao abrigo do regulamento de segurança do gás da UE. Esta quarta-feira, três meses depois, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um pacote de medidas com "vista a proteger consumidores e empresas vulneráveis" dos "preços astronómicos de electricidade", num cenário de "enorme volatilidade do mercado".

O pacote de medidas de Bruxelas inclui a imposição de um tecto máximo para os lucros das empresas produtoras de electricidade com baixos custos, uma "contribuição solidária" para as empresas de combustíveis fósseis e um limite para a compra de gás russo.

Esta última medida suscitou uma reacção imediata da Rússia. No fórum económico oriental, em Vladisvostok, Rússia, Vladimir Putin ameaçou cortar o fornecimento de energia se fossem impostos limites de preços às exportações russas de petróleo e gás. A Rússia é o segundo maior exportador mundial de petróleo, atrás da Arábia Saudita, e o principal fornecedor europeu. A Europa, segundo a Reuters, importa normalmente cerca de 40% do seu gás e 30% do seu petróleo da Rússia.