De recessão em recessão até onde e quando?
O "até onde" do título relaciona-se com a alarmante dilaceração dos tecidos sociais em Angola. O "até quando" tem a ver com a capacidade de "digestão social" desta permanente degradação
As economias são sempre sistemas de funcionamento complexo e desafiantes da nossa capacidade de os compreender nessa sua totalidade. Mas uma coisa é certa: as economias devem, antes de tudo o mais, servir as pessoas, porque a pessoa humana é simultaneamente sujeito e o objecto final dos seus mecanismos de funcionamento.
O "até onde" do título relaciona-se directamente com a alarmante dilaceração dos tecidos sociais em Angola devido a um processo económico recessivo que dura desde 2015, que retirou ao rendimento médio 43,5%. Se, entretanto, analisada do ponto de vista da psicologia social, os efeitos deste desgaste económico estão a reflectir-se sobre alguns comportamentos individuais (disposição para trabalhar, crença sobre a melhoria da situação das pessoas, níveis de confiança nas instituições, degradação dos ambientes familiares, propensão para a corrupção) inibidores de uma retoma económica.
O "até quando" tem a ver com a extraordinária a capacidade de "digestão social" desta permanente e sistemática degradação do nível de vida das pessoas(1) . Onde as populações mais carenciadas vão descobrir forças e capacidades de resiliência? Na economia informal que se estrutura, também, por mecanismos e sistemas de solidariedade social? Nas Igrejas e na sua função espiritual e de ajuda material? Nas doações internacionais? No Estado e Governo não tem sido com certeza, dada a ausência de sistemas consistentes e estruturados de assistência e previdência social. O programa Kwenda não tem filamentos suficientemente fortes de alívio da situação dos mais carenciados, ainda que alguns deles reforçados com ideias e programas de criação de valor agregado. Depois do Kwenda o que vai ficar se o crescimento não acontecer a taxas superiores a 8,5% ao ano (custos de reprodução do homem de pelo menos 3,2%, taxa de crescimento da poupança de 3% e resguardo/formação do capital humano de 2,5%)?
(Leia o artigo integral na edição 649 do Expansão, de sexta-feira, dia 05 de Novembro 2021, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)