A guerra comercial entre os EUA e a China: um olhar sobre o comércio dos carros eléctricos
A guerra comercial entre as duas principais potências económicas do mundo atingiu o seu apogeu em 2018, com a Administração Trump a justificar a sua posição de confronto com o persistente défice comercial dos Estados Unidos da América face à China. Os norte-americanos acusaram a China de ter adoptado um conjunto de políticas monetárias e comerciais que aumentaram a competitividade dos seus produtos nos EUA e nos mercados globais, ao mesmo tempo que limitavam as suas exportações para os EUA.
Recentemente, a China conseguiu alcançar um grande boom económico e foi classificada como o segundo maior país com poder económico depois dos Estados Unidos da América, e estes tornaram-se grandes parceiros comerciais. No entanto, essa parceria não ficou isenta de tensões, o que levou às acusações acima referidas.
A China, para atrelar a sua moeda ao dólar dos EUA, teve de fazer grandes compras de dólares para evitar a sua depreciação e a valorização do RMB (moeda chinesa), os bancos devolveram esses dólares na forma de Títulos do Tesouro dos EUA e isso implicou a China ser parcialmente responsável pela redução das taxas de juros de longo prazo nos EUA, contribuindo assim para o renascimento da economia dos EUA, dado que taxas de juro mais baixas significam menos poupanças e mais investimentos e empréstimos.
A compra de Títulos do Tesouro dos EUA financiou o déficit fiscal dos EUA, no entanto, nos últimos anos, a China orientou os seus bancos a venderem os dólares americanos e a comprarem RMB para financiar os seus investimentos estratégicos, como os casos do Cinturão Económico e a Nova Rota da Seda (perspectiva geopolítica), facto que fez com que os americanos sentissem que a sua economia estava sob ameaça.
Quando o Presidente Donald Trump assumiu o poder, levantou o slogan "América Primeiro" e o confronto tomou um rumo público. A administração Trump travou uma guerra comercial contra a China, impondo tarifas sobre as importações chinesas, o que levou a China a divulgar tarifas retaliatórias sobre as suas importações dos EUA. Tanto uma nação como a outra optaram por uma escalada tarifária, que aprofundou as preocupações internacionais sobre as repercussões desta guerra, especialmente porque envolve duas das maiores potências económicas do mundo.
Em Março de 2018, o Presidente Trump assinou um memorando ao abrigo da secção 301 da Lei de 1974, Lei Comercial, orientando o representante comercial dos EUA a impor uma tarifa de 25% sobre 50 mil milhões USD em aço e uma tarifa de 10% sobre as importações de alumínio da China. A China retaliou, aumentando as tarifas entre 15% e 25% em 128 produtos dos EUA. Um mês depois, o Departamento de Comércio dos EUA anunciou uma nova lista de produtos chineses sujeitos a aumento de tarifas. Em resposta, o governo chinês divulgou uma nova lista composta por 100 produtos dos EUA a serem objecto de aumento tarifário. Assim, os Estados Unidos e a China envolveram-se em anúncios tarifários na mesma moeda e retaliações.
O Presidente Trump atribuiu a sua declaração de guerra ao persistente défice comercial dos EUA com a China, ao saltar de 6 mil milhões USD, em 1986, para 375,16 USD, em 2017, devido a um total de 505,16 mil milhões USD das importações chinesas, a maioria das quais foram: dispositivos electrónicos, bens de consumo, roupas e máquinas. As exportações para a China, por outro lado, ascenderam a 130 mil milhões USD, consistindo principalmente em aeronaves comerciais, automóveis, soja e máquinas eléctricas.
Em 2018, o Congresso norte americano aprovou a Lei de Defesa Nacional, que tornou o combate à influência chinesa uma questão prioritária e sublinhou a utilização de todos os meios de inteligência, militares, económicos e diplomáticos para esse fim.
Recentemente, a Administração Biden tomou algumas iniciativas sempre na senda da guerra comercial com o gigante asiático e, nesse sentido, os EUA aumentaram as tarifas alfandegárias sobre os carros chineses, de 25% para 100%, sendo os custos de produção dos carros chineses avaliados em cerca de 25% abaixo do custo normal, sendo também que sobre as baterias dos carros eléctricos as tarifas alfandegárias passaram de 7,5% para 25% por, alegadamente, os produtos chineses serem fortemente subsidiados. Alegou-se que os chineses estariam a vender o excesso de produção para os mercados internacionais, no caso vertente para os EUA, a preços absolutamente abaixo daquilo que devia ser. Faz-se notar que os EUA não dizem taxativamente que a China está a vender abaixo do preço de custo, isso apesar de a venda dos carros eléctricos da China nos Estados Unidos ser mínima, cerca de 10 mil por ano, quando os EUA, para consumo interno, vendem cerca de 5 milhões de carros por ano, o objectivo é de impedir que as marcas chinesas possam impor-se nos Estados Unidos.
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*Bernardo Domingos Elavoco, Técnico do Departamento de Controlo dos Auxílios Públicos da Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC)